A produção global de vinhos, ainda que liderada pela Europa,
conta já há muito com importantes países do Novo Mundo entre os mais destacados
produtores, com vinhos de qualidade e bom preço em volumes expressivo. Entre os
maiores volumes produzidos, encontraremos países como Argentina, Austrália e
Estados Unidos. Precisamente os Estados Unidos ocupam uma posição muito
especial, como o 4º maior produtor mundial e um dos principais mercados consumidores.
Ainda que os grandes volumes, de produção e consumo, estejam
nos Estados Unidos, não é estes país produtor exclusivo na América do Norte;
afinal temos um importante volume de produção ao Sul, no México, além de vinhos
de classe internacional, que receberão nossa atenção hoje, ao Norte, no Canadá.
Com mais de 12.000ha de vinhedos, o Canadá ainda é um
produtor tímido no cenário global; basta citar que apenas o pequenino Napa
Valley tem uma área de vinhedos superior. Mas o que deixa a mais notável impressão
aqui é não o volume, mas sim a qualidade dos vinhos, já elevada e ainda em
evolução.
As referências imediatas que se tem do Canadá são as de um
país frio, com um vasto território gélido e inexplorado comercialmente, até por
conta da real impossibilidade da agricultura comercial ter sucesso em
temperaturas tão baixas. Mas mesmo essa característica tem sua importância no
posicionamento dos vinhos canadenses no mercado, como veremos a seguir.
Ainda que a história do vinho no Canadá venha já desde os séculos
XVII e XVIII, a moderna indústria do vinho tem seu início nos anos 1970 e passa
a realmente crescer e organizar-se na década seguinte, após a assinatura dos
primeiros acordos de livre comércio com os EUA. De lá para cá, ainda que com
volumes de produção pequenos, o Canadá vem encontrando seu espaço,
posicionando-se como um produtor de vinhos de clima frio, com grande sucesso
com castas como a Pinot Noir a Riesling e a Chardonnay, além de ter como seu
produto emblemático os vinhos doces feitos com uvas congeladas, os Icewines.
Essa especialidade, comum na Alemanha e em outros países do Leste Europeu,
encontra aqui condições ideais para sua produção com qualidade e constância, em
função dos sempre rigorosos invernos do país, onde as temperaturas exigidas por
lei para que as uvas congelem totalmente nos vinhedos, -8°C, são atingidas com
relativa facilidade.
A uva mais utilizada na produção dos Icewines canadenses é a
Vidal Blanc, hibrida, resistente ao frio e de maturação mais rápida, porém os
melhores exemplares só aqueles produzidos a partir da Riesling. Também há
cultivos expressivos de variedades hibridas para a produção de vinhos secos de
mesa, inclusive com uma DO, Tidal Bay, em Nova Scotia, que deve ter seus vinhos
brancos compostos majoritariamente de hibridas, sendo L’Acadie a principal
delas.
São duas as províncias que produzem a imensa maioria dos
vinhos, nas duas “pontas” do país; Ontario no Leste e British Columbia no
Oeste.
A produção em British Columbia vem crescendo de forma
consistente, com um aumento expressivo do número de vinícolas ali instaladas.
As principais zonas de produção são o Okanagan Valley e o Simikameen Valley,
cerca de 250km à Leste de Vancouver; aqui as chuvas que vem do Pacífico são
bloqueadas por uma cadeia montanhosa e, no caso de Okanagan o profundo lago que
da nome a zona ajuda na regulagem das temperaturas, permitindo uma melhor
maturação, em alguns casos mesmo de uvas bordalesas, especialmente no sul da
região, mais quente.
A principal região produtora do país, tanto em volume quanto
em reconhecimento, ainda é Ontário, com mais de 80% dos seus vinhedos
localizados na península do Niágara, de onde saem muitas dos mais reconhecidos
rótulos nacionais. Há outras zonas de produção em Ontário, em Pelee Island,
Lake Eire North Shore e Prince Edward County, mas é em Niágara que efetivamente
a mágica acontece.
Os solos são formados por depósitos glaciais, do final da última
Era do Gelo, com boa presença de calcário. A variedade de solos e estilos, bem
como a prominência comercial da zona, levaram a sua subdivisão mais detalhada, com
12 sub apelações, algumas delas já reconhecidas pela qualidade de seus vinhos,
como Beamsville Bench e Niagara Escarpment. Aqui, a grande massa de água do
lago Ontario serve par mitigar os efeitos das frias massas de ar que vem do
Ártico, enquanto que a diferença de temperaturas entre este e o lago Erie, mais
ao Sul, fazem que sempre tenhamos ventos circulando, o que aumenta a proteção
contra geadas e doenças fúngicas.
Chardonnay, Pinot Noir, Riesling e Gamay brilham aqui, mas
mesmo castas como a Syrah tem dado bons resultados, além de varietais menos
comuns internacionalmente, como Gewürztraminer e Pinot Gris. A província
vizinha, de colonização francesa, o Québec, tem também sua viticultura, com
cerca de 100 pequenas vinícolas, mas sem grandes volumes de produção.
O única selo “nacional” de qualidade, indicando eu a
regulamentação e controles sobre a produção, é o VQA, Vintners Quality
Alliance, que exige 100% de uvas canadenses nos vinhos, mas tem seus pormenores
regulamentados de forma compartimentada, por cada uma das províncias.
Ainda no campo das bebidas, outros produtos nacionais
canadenses também devem receber atenção do Escanção, sobretudo por sua
qualidade, a saber, os whiskies, feitos em estilo macio e suave, além das
cidras, amplamente produzidas e com elevada qualidade. Aliás, o grande sucesso
do Icewine serviu de inspiração para a criação de um produto similar, a Ice
Cider, produzida de forma semelhante, mas com maçãs congeladas, algo só possível
no rigoroso inverno canadense, uma vez que ao contrário das uvas, que congelam
já a partir dos -6°C, maçãs só vão congelar a partir de -25°C. Mas o esforço na
produção compensa, com produtos deliciosamente doces e aromáticos, concentrados
e equilibrados por brilhante acidez.