Neste mês, optamos por
abordar um dos grandes produtores mundiais, a saber, a Austrália. Dos mais
destacados produtores do Novo Mundo, A Austrália tem uma posição de destaque
nos principais mercados globais e o conhecimento de seus principais vinhos e
regiões são fundamentais na formação do escanção moderno.
Justamente por conta desta
importância e, mais ainda, justamente por conta da grande variedade de vinhos e
terroirs que encontramos naquele país, é que optamos por um caminho menos
convencional, abordando uma das menores regiões produtores, porém de elevado
potencial qualitativo, ao ponto de suas uvas gozarem de alta demanda no mercado
local. Falaremos hoje da Tasmânia.
A Tasmânia é uma ilha, logo
ao sul da Austrália, e um dos estados que compõem aquele país. Sua história
vitivinícola começa no século XIX, mas apenas nas últimas décadas a produção
local alcançou destaque. Em um país com clima predominantemente quente, os
vinhedos da Tasmânia, alguns deles tão ao Sul quanto os da ilha Sul da Nova
Zelândia, constituem-se na amis promissora zona de produção de clima frio. Com
a tradição e legislação australianas, que permitem a elaboração de blends
inter-regionais, já de muito tempo grandes nomes da viticultura australiana,
como Hardy’s, Yalumba, Penfold’s, entre outros, recorrem aos vinhedos da ilha
em busca de nervo e frescor para seus bons brancos e espumantes, levando uvas,
mosto e vinhos base dali para vinificação em suas unidades centrais.
Mesmo com o crescente
interesse que os vinhos dali despertam, a área total plantada esta apenas por
volta dos 2.000ha, número pequeno para os padrões australianos, em uma região
que representa não mais que uma pequena fração da produção nacional. A paisagem
local é marcada pelas formações montanhosas locais, nas encostas das quais
ficam as principais áreas de produção, em solos de arenito rochosos, solos
sedimentares de origem aluvial e coluvial, além de solos vulcânicos. O clima é
predominantemente fresco, regulado pelos ventos que vem do Sul, contando com a
proteção das montanhas para que as temperaturas não caiam em demasia. Algumas zonas
amis próximas ao mar precisam mesmo contar com redes e telas de proteção contra
ventos mais intensos. Esse clima mais fresco, com importante suscetibilidade à
granizo e geadas, faz com que a Tasmânia tenha uma variação de safra para safra
importante, compatível com regiões clássicas do Velho Mundo.
A grande estrela da produção
local são os espumantes, produzidos em grande parte pelo método clássico e
reconhecidos entre os melhores da Austrália, representando cerca de 35% da
produção local. Isso reflete também nas castas ali plantadas, ocupando a
primeira posição a Pinot Noir, com 41% dos vinhedos (e 45% utilizados na
produção de espumantes), seguida da Chardonnay, com 18% da área plantada, sendo
76% desta produção destinada a espumantes. Estas são complementadas por
Sauvignon Blanc, Pinot Gris, Riesling, entre outras.
A alta qualidade é foco, o
que pode ser verificado pelo valor médio das garrafas exportadas. 100% da
produção está acima dos 15AUS$, contra apenas 7% da produção do país como um
todo. Esse mesmo reconhecimento existe em relação a qualidade das uvas ali
plantadas, que alcançam um preço médio de quase 3.000 AUS$ por tonelada, contra
uma média nacional de pouco mais de 600 AUS$.
Dentro o sistema de classificação
regional australianos, as zonas de produção são chamadas de GIs, Geographical
Indications. Essa indicação não traz consigo nenhuma especificidade maior do
que o reconhecimento que os vinhos vêm de uma área geográfica específica, sendo
que muitas destas GIs sequer tem aspectos muito distintivos em seu terroir.
Esse explicação vem pelo fato de que, até o momento, a Tasmânia não tem GIs
oficialmente reconhecidas, sendo seus vinhos rotulados apenas com a indicação “Tasmânia”;
no entanto, conta a ilha com 7 subzonas de produção, 3 delas no Norte e 4 no
Sul.
Temos no Norte a principal
delas, Tamar Valley (31% da produção) e ainda Piper River (17% da produção) e
North West (2% da produção). No Sul, encontramos as zonas de Coal River Valley
(22% da produção), East Coast (20% da produção), Derwent Valley (7% da
produção) e a pequena zona de Huon Valley, com o d’Entrecasteaux Channel (1% da
produção). Embora entre o Sul da ilha e a Antártida não haja nenhuma barreira,
os vinhedos são ligeiramente amis quentes que os do Norte, sobretudo por conta
da localização dos mesmos, aninhados entre as montanhas que os protegem do
frio.
Como já mencionamos no início
deste artigo, é fundamental ao escanção moderno uma adequada compreensão dos
vinhos australianos. Porém dentro deste contexto e ainda extrapolando para uma
visão meramente hedonista, é nossa recomendação que os vinhos da Tasmânia
ocupem uma posição especial nesse processo de aprendizado.
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