Nos últimos anos, a China tem se firmado como um dos mais
importantes mercados no mundo do vinho. Em 2016, os chineses devem assumir o
posto de segundo maior país consumidor, com 250 milhões de caixas, atrás apenas
dos Estados Unidos, com uma previsão de 350 milhões de caixas.
O consumo per capita ainda é pequeno, cerca de 1,6 litro/ano
por habitante, mas, quando multiplicamos este número pela população chinesa,
fica fácil entender o grande interesse que este mercado desperta. Com uma crescente
população urbana, uma classe média em ascensão, e um interesse cada vez maior
em copiar os hábitos ocidentais, a China tornou-se, em relativamente pouco
tempo, a resposta às preces dos produtores cada vez com mais dificuldades em
escoar suas produções nos países consumidores tradicionais.
Com suas dimensões continentais, e um sexto da população
mundial, a China tem uma história milenar com a viticultura, no entanto, a
produção sempre foi mais voltada às uvas de mesa. O grande impulso a indústria
do vinho veio a partir de 1979, quando o governo comunista estabeleceu
condições que permitiam a entrada de produtos e investimentos estrangeiros.
Rapidamente, o vinho adquiriu um posto de honra entre nos mercados chineses.
E não estamos aqui falando apenas das importações
crescentes, mas também da produção local, muitas vezes com o apoio técnico e
financeiro de empresas estrangeiras. Já
em 1980, a empresa francesa de bebidas Rémy-Martin estabeleceu a primeira
joint-venture no país, iniciando a produção dos vinhos da linha Dinasty; em
seguida veio a Pernod Ricard, que entre 1987 e 2001 produziu os rótulos Dragon
Seal; já a Castel, gigante francês do setor, produz a linha Château
Changyu-Castel; e mesmo o Château Lafite-Rothschild, dos mais afamados produtores
do mundo, produz ali seu vinho local, na província de Shandong, logo ao sul da
capital Beijing.
Em especial, o Château Lafite tem alcançado um sucesso
fenomenal na China; há uma piada no meio de que a China é o maior produto
mundial de Château Lafite 1982, tal o volume de falsificações que surgiram
deste muito procurado vinho. Mesmo o segundo rótulo da vinícola, o Carruades de
Lafite, alcança ali altos preços, o que levou a uma considerável alta dos
preços destes dois vinhos em nível global. Daí a óbvia animação da Lafite para
investir em Shandong.
Shandong, aliás, tem se firmado como a mais importante
região produtora da China, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade,
com a maior parte das vinícolas sérias do país se estabelecendo ali. Shanxi, no
centro, e Xingjian, no noroeste, também têm apresentado bons e importantes
resultados, mas a região que despertou maior atenção recentemente é a província
de Ningxia, ao norte. Foi de Ningxia que saiu o primeiro vinho chinês a receber
uma importante distinção internacional; o Jia Bei Lan Cabernet 2009, da
vinícola He Lan Qing Xue, foi premiado pela revista britânica Decanter como o
melhor varietal bordalês abaixo de 10£ em 2011.
Em geral, as principais regiões exploradas apresentam como
principal obstáculo os elevados índices de humidade, o que facilita o
surgimento de fungos e pragas, e faz com que alguns produtores ainda priorizem
castas locais como Long Yan (olho de dragão) e a Beichun, mas o maior
crescimento, e os melhores resultados, são alcançados pelas tradicionais castas
francesas, em especial Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Chardonnay.
Com o crescimento da demanda interna, a tendência é que as empresas nacionais
se movimentem para supri-la, o que sem dúvida levará a produção de grandes
volumes de vinhos de qualidade duvidosa, mas levará também a investimentos e a
procura de novos terroirs. Em um país tão grande como a China por certo haverá
regiões propícias a produção de vinhos de grande qualidade, sendo apenas uma
questão de tempo até a descoberta das mesmas.
Para nós, brasileiros, resta-nos explorar este potencial
comercial, trabalho que, ainda que a passos curtos, nossos produtores têm
feito, e também aguardar, para um futuro não tão distante, o desembarque de
rótulos chineses em nossas prateleiras. Mas por favor, hein, os originais! Nada
de cópias!
Abraços e até a próxima!Este texto, de minha autoria, foi publicado originalmente no portal Gastrovia.
Concordo contigo sobre o consumo crescente que desperta a atenção de vários produtores mundiais. Entretanto, tem um baixo consumo per capita (abaixo de 1,6 litros anteriormente mencionado). É uma grande importadora de vinhos a granel. Vinhos engarrafados tem um volume de importação insignificante mesmo considerando o promissor mercado chinês. Possui poucas importadoras, ao contrário das centenas existentes no Brasil. A Espanha, por exemplo, é uma grande fornecedora de vinhos a granel. Resumindo: considero um mercado duvidoso e arriscado, oferecendo em sua grande parte vinhos "falsificados", "misturados"...
ResponderExcluirDanilo, concordo que o mercado chinês ainda está focado em vnhos de baixa qualidade e falsificações, mas este é só o começo. Acredito que em tempo os vinhos finos podem sim aumentar sua fatia no mercado. Além do mais, se você tiver uma fatia de apenas 10% de consumidores de vinhos de boa qualidade em uma população do tamanho da popução chinesa, então você terá um enoooorme e promissor mercado.
ExcluirGrande abraço
Diego Arrebola