"No mercado brasileiro de vinho estamos à procura de guias! Pessoas
que possam nos conduzir, mostrar o caminho; Que vinhos provar? Onde comprar? O
quanto pagar? Comer com o que? Este é melhor do que aquele? E essa marca, vai
impressionar meus convidados? Não são perguntas incomuns entre os apreciadores.
Neste cenário, várias são as opções que encontramos, com livros, revistas,
sites, blogs e mesmo artigos como este, que se propõem, de algum modo, a
responder estas questões.
Como todo filão de oportunidade, este também desperta a
curiosidade de muitos que, por inocência, ou até má fé, aproveitam-se para
despontar como grandes conhecedores, guias cegos, tentando conduzir aqueles que
ainda enxergam para sua cegueira. São inumeráveis, e em geral guardam como
característica comum o profundo conhecimento do bem e do mal, e a infalível
capacidade de forjar leis imutáveis com frases de efeito. Não preciso citar
nomes, aliás, você já deve até ter pensado em alguns deles.
Antes de seguir adiante com o assunto, só quero deixar MUITO
claro o seguinte: não me proponho a ser o guia de ninguém! Aproprio-me aqui da
consagrada frase de para-choque: “Não me siga, também estou perdido!”
Essa categoria de guias cegos, é em geral composta por
pessoas que, por conta de uma série de fatores, tiveram algum acesso a alguns
bons vinhos, e/ou cursos de formação básica, que são justamente isso, básicos,
mas que em um país onde o vinho ainda não faz parte da cultura popular, formam
mestres e sommeliers todos os dias... Em geral, colocam o vinho em um pedestal,
construído com vocabulário rebuscado e marcas de grande prestígio. Apenas aos
iniciados é possível sorver todas as qualidades do néctar de Baco, e para que
você se torne um destes iniciados, só precisamos do número do seu cartão de
crédito!
Há também aqueles que se tornam “divulgadores” do vinho,
escrevendo páginas e páginas de palavras vazias e clichês, atacando aqueles que
demonstram mais competência que eles, e ocultando-se atrás de um véu de isenção
“jornalística” quando na verdade o maior objetivo é obter convites para os
melhores eventos, e provar os melhores vinhos, aqueles com os quais os reles
mortais apenas sonham. Há os que buscam o tecnicismo, há os que buscam o
popularesco, mas, no final das contas, o objetivo é o mesmo.
Porém deixo aqui um parêntese; há também, e são muitos,
aqueles que de fato desejam divulgar e fazer crescer a cultura do vinho; podem
não utilizar sempre os meios mais corretos, mas são autênticos em suas
intenções, e tenho também certeza que você já pensou em alguns nomes aí.
Não temos um caminho a seguir, ou quem abra os caminhos, e
dê os primeiros passos? Estamos perdidos em um país onde o vinho não faz e nem
nunca fará parte de nossos hábitos culturais? Prefiro acreditar que não; aliás,
recuso-me a pensar de outra forma! O vinho não é estudo, palavras bonitas e
rótulos caros; não é status e renome; não é fonte de renda; ou é... Não sei...
Mas não é só isso!
O vinho é cultura, é alegria, é amizade, é partilha, e
principalmente, antes disso tudo, o vinho é uma bebida! Só isso, um líquido que
ingerimos, durante ou fora das refeições, bom ou ruim, caro ou barato, mas é
uma bebida! Não é sagrado, não é hermético, não é apenas para os merecedores; é
para todos nós. É para pensar menos, e beber mais! Com moderação, é claro!
E nós, aqui, buscando nosso espaço nesse mundo tão amplo que
é a cultura do vinho, desejosos de que mais e mais pessoas possam se juntar a
nós, continuamos tateando, e perguntando-nos; Quem nos guiará? E continuaremos
nos perguntando, até que um de nós, cansado de todo o resto, decida assumir
essa posição, e guiar-nos ao boteco mais próximo, onde, na minha utopia,
poderemos nos sentar, beliscar um petisco qualquer, e beber um bom vinho, por
um preço civilizado..."
Texto publicado originalmente na edição nº 4 da Revista Senhora Mesa.
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