"Esta é a época
do ano em que chegam aos restaurantes de todo o mundo, no mesmo dia, em uma
verdadeira operação de guerra, as garrafas do Beaujolais Nouveau, uma bebida de
pouco corpo, aromas lembrando fortemente chiclete de tutti-frutti, intensa
coloração azulada, e um inegável apelo às massas consumidoras.
Um autêntico
case de marketing, o Beaujolais Nouveau é um caso emblemático de uma marca, um
conceito, que se tornaram muito maiores do que o produto em si, no caso, o vinho
fresquíssimo, recém-saído das cubas de fermentação, e obtido com o emprego de
processos que permitem ao produtor entregar um produto com elevado nível de
drinkabilty.
É inegável que o marketing tem importância fundamental no mundo do vinho
moderno, vendendo e apresentando marcas e conceitos, não só de vinhos, mas de
países e regiões inteiras, mas essa não é uma atividade isenta de dores de
cabeça. Basta citar o exemplo do Champagne, nome de uma região e dos vinhos
espumantes ali produzidos, e que para muitos consumidores tornou-se sinônimo do
próprio produto (vinho espumante); por conta disso, a CIVC, responsável pela
“marca” Champagne, vive a turras com governos e produtores mundo afora que
insistem em rotular seus produtos como Champagne, ou ainda variáveis como
champanha, champaña e afins. Enfim, é o preço do sucesso...
O outro risco é
quando um produto e/ou conceito inferior, ganham uma dimensão muito maior do
que a própria região de onde vem o produto, prejudicando, de certa forma, os
produtos de qualidade mais elevada que vem dali. Em algum grau, regiões como
Prosecco e Cava tem sofrido esse efeito, e com Beaujolais não é diferente.
Beaujolais é uma
região logo ao sul da Bourgogne, onde reina a uva tinta Gamay. A Gamay tem
potencial para produzir vinhos carnudos, suculentos, com ótima fruta e boa
presença de boca, e em alguns pontos privilegiados da região, os Crus de
Beaujolais, produz vinhos de mais estrutura e qualidade. Há na região
produtores que entregam vinhos dos mais variados estilos e níveis de qualidade,
inclusive os muito bons, que fazem vinhos de fazer inveja a muitos produtores
franceses de regiões mais incensadas pela mídia.
Porém, as
massivas ações feitas na divulgação do Beaujolais Nouveau já há décadas,
criaram no consumidor médio a imagem de que toda a produção da região se resume
ao Nouveau, ou seja, vinhos jovens e descompromissados, que embora não sejam
ruins (para alguns), não apresentam maiores predicado qualitativos. E não é
assim!
Vale a pena
descobrir os bons produtos desta região! Dê preferência para aqueles que trazem
no rótulo o nome de sua vila de origem, sejam os (bons) Crus de Beaujolais,
sejam os Beaujolais Villages, de produtores já consagrados. Como tudo nesse
incrível mundo que é o vinho, a melhor tática é a experimentação; prove de
tudo, e tenha as suas próprias opiniões; ou, prove, de novo, o Beaujolais
Nouveau, e fique, de novo, com as mesmas opiniões..."
Texto publicado originalmente em 05/01/2013 no Portal Gastrovia.
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