No Clássico
a Inovação
Ainda que a
vitivinicultura seja milenar e por tantos e tantos sítios da Europa não faltem
registros de vinhas e vinhos produzidos já em tempos imemoriais, o registro e
normatização efetivos da produção são fenômenos mais recentes.
Ainda que,
falando em Portugal, grandes clássicos como o Madeira ou o Moscatel de Setúbal
sejam amplamente mencionados dentro e fora do país já há séculos, vem de algumas
décadas apenas o efetivo registro e reconhecimento destes como denominações de
origem. Uma honrosa e histórica exceção é o Porto; a mais antiga região
demarcada e regulamentada no mundo do vinho, por obra do Marques de Pombal,
ainda em 1756.
Mas ainda
que tal primazia caiba de forma indiscutível ao Porto, faz-se necessário
sublinhar ali acima a palavra “regulamentada”; o grande diferencial da
demarcação pombalina não foi a demarcação em si, mas sim e definição clara de
regras de produção, estabelecendo não apenas o onde, mas também o quando e o
como da produção do vinho.
No entanto,
o entendimento que determinadas regiões traziam algo de especial aos seus
vinhos não era novidade. Já os Romanos tinham seus crus definidos, valorizando
de modo especial vinhos provenientes de certas origens do Império. Pioneiros em
tantos aspectos que foi Roma, com a propagação da cultura do vinho por todos os
seus domínios, nada mais que justo que o pioneirismo da demarcação de regiões
de produção no mundo moderno também coubesse aos italianos.
E foi
assim; pioneiros e visionários, quatro décadas antes da iniciativa portuguesa,
em 1716 Toscana demarcava a primeira região produtora de vinhos do mundo, nas
colinas entre Firenze e Siena, a tradicional região de Chianti, então formada
pelas vilas de Radda, Gaiole, Castellina e, um pouco depois, Greve. Nada
definia ou limitava em excesso a produção, em semelhança às denominações de
origem presentes, de forma que de fato foi o vinho do Porto o pioneiro nesse
sentido, mas em uma nação sempre tão plural e apegada aos seus regionalismos,
contar com um nível de segurança e garantia para quem buscava os vinhos de
Chianti era um sopro de alento.
Mas o
sucesso cobra seu preço e a falta de rigor também. Sem as normas estritas
aplicadas em Portugal, em tempo a produção do Chianti foi “flexibilizada”, com
mais e mais vinhos baseados na Sangiovese recebendo tal denominação, vindos de
vinhedos muito mais distantes e compostos por uma combinação de uvas que em
certo ponto incluía até 30% de uvas brancas, resultando em vinhos até algo
diluídos.
Assim,
quando as primeiras demarcações contemporâneas foram feitas, na década de 1930,
a zona do Chianti havia crescido muito além de seus limites originais, compondo
naquele momento uma área de produção maior do que Bordeaux! Evidentemente não
tardaram reações daqueles produtores que tinham seus vinhedos encrustados nas
colinas da zona original de produção, desejosos de marcar a diferença em termos
de estilo e qualidade de seus vinhos em relação aos produzidos no restante da
grande zona de Chianti. Foi assim que, em tempo, surgiu a zona do Chianti
Clássico, primeiramente como uma subzona de Chianti e um pouco mais adiante
como um DOCG de per si, autônoma em suas regras e gestão.
Hoje
Chianti Clássico está construída sobre uma fundação de respeito às tradições,
mas atenta às inovações e evoluções do mundo do vinho. Com o status
internacional atingido por seus vinhos, não faltam aqui estrangeiros que unem
sua paixão pelo vinho ao estilo de vida Toscano, com as lindas e tradicionais
vilas que dominam a paisagem colinear entre vinhedos e olivais. As uvas brancas
não são permitidas no Chianti Clássico e a Sangiovese deve compor um mínimo de
80% dos cortes, podendo mesmo ser vinificada e engarrafa em pureza; clones que
produzem vinhos mais robustos e longevos são valorizados, de modo que a
categoria Riserva, com um envelhecimento mínimo de 24 meses em recipientes de
madeira, representa 25% da produção, com um estilo muito valorizado pelo
consumidor.
No campo
das inovações, nunca é demais lembrar que a revolução dos Supertoscanos começou
aqui, ao mesmo tempo que no Bolgheri, com o lançamento do clássico Tignanello
em 1971. E mais recentemente com a criação de uma nova categoria acima dos
Riserva, o Chianti Clássico Gran Selezione, que demanda 30 meses de maturação e
vinhos de maior estrutura e caráter.
A região do
Chianti Clássico é um mergulho na história rica da Toscana e de toda a Itália,
com um firme e decidido olhar rumo a um futuro brilhante.
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