Uma Puglia,
Muitas Puglias
Sendo a
Itália um dos principais países produtores e exportadores de vinhos, é mais que
natural que uvas e regiões do país da bota alcancem grande status, sendo imediatamente
reconhecidos por seu estilo, qualidade e tipicidade. Também é natural que, de
forma não tão distinta do que se passa em Portugal, França ou qualquer outro
produtor, algumas regiões de maior influência econômica e/ou histórica acabamos
por alcançar reconhecimento global, tornando-se as medidas do sucesso e fama
desses países.
Bordeaux,
Bourgogne, Champagne e Rhône. Douro, Vinhos Verdes, Dão e Alentejo. Toscana, Piemonte e Vêneto. Com
uma ou outra variação serão, via de regra, os nomes imediatamente reconhecidos
pelo consumidor quando instado a identificar alguma zona de produção destas
nações.
Mas como
bem sabemos, o mundo do vinho não é só isso; vai além, surpreendendo sempre, com
diversidade acompanhada de qualidade. Jura, Madiran, Trás-os-Montes, Távora
Varosa, Alto Ádige, Campânia. Alguns entre tantos nomes, de regiões produzindo
vinhos tão ou mais encantadores que os de zonas de maior renome.
Hoje
queremos olhar para uma destas zonas, lá onde a Itália de certa forma
“termina”, no encontro da terra e do mar, unidos pelo sol cálido e sempre
presente. Vamos hoje visitar a Puglia.
Uma das
regiões de maior produção no país, por muito tempo a Puglia passou
desapercebida aos olhos do mercado. Região de temperaturas elevadas, clima seco
e relevo relativamente pouco acidentado, sempre foi uma zona vocacionada a
produção agrícola, com a videira e a oliveira ocupando parcela importante da
paisagem. A produção de vinhos, ainda que sempre tenha tido suas especialidades
locais, mira sobretudo os tintos do dia a dia, maduros e macios, baseados em
castas como a Negroamaro e a Primitivo.
Aliás, é
justamente a Primitivo que trouxe a atenção internacional no início da década
de 1990, quando pesquisadores da Califórnia identificaram que a Zinfandel, até
então vista como casta autóctone americana, era na realidade a mesma Primitivo
da Puglia. Poucos anos depois sua origem foi rastreada ainda mais longe, na
Croácia, mas nesse momento a Primitivo já havia captado a atenção do mundo do
vinho.
Hoje a
Primitivo segue a principal referência da região para o mundo, ainda que a
Negroamaro seja vista como uma casta local de tanta ou mais importância. Também
tem recebido atenção as castas locais Bombino Nero, Nero di Troia e
Susumaniello.
Mas embora
a visão que se tenha da região como um todo seja fundamentalmente baseada no
duo Primitivo/Negroamaro, essa é só uma parte da história. De fato, quando
vamos às províncias de Salento e Taranto, como solos argilo arenosos e marcada
influência marítima, encontraremos o terroir ideal para o cultivo destas
castas. Obtém-se aqui bons níveis de maturação com manutenção da justa acidez
para entregar tintos suculentos e frutados, macios e sedutores. Das áreas mais
próximas a costa, além dos tintos tem também despontado deliciosos rosados,
baseados principalmente na Negroamaro, além de alguns bons resultados com
castas internacionais, como a Chardonnay. Um pouco mais no interior, nos
arredores da cidade de Manduria, encontraremos a popular DOC Primitivo di
Manduria, dentro da qual encontra-se a DOCG Primitivo di Manduria Dolce
Naturale. Aqui os solos argilosos ricos em ferro, de coloração vermelha,
similares a Terra Rossa encontrada em Coonawarra, na Austrália, permitem
elevados níveis de maturação para essa casta de habitual maturação heterogênea,
entregando vinhos maduros, encorpados e vez por outra com algum açúcar
residual, por vezes no justo ponto de equilíbrio, por vezes não, mas sempre de
inegável apelo comercial em mercados internacionais.
Mas
seguindo rumo norte, além da cidade de Bari e em direção ao interior, vamos
encontrar uma realidade vitivinícola ligeiramente distinta. Aqui, ainda que em
solo Pugliese vislumbra-se a silhueta do monte Vulture, importante vulcão que
define paisagem e solo na vizinha Basilicata, mas também na zona de Castel del
Monte. Aqui os solos vulcânicos e o clima de maior influência continental farão
brilhar uma casta menos comum, mas de igual tradição, a Aglianico, sem sombra
de dúvida a grande casta tinta do Sul da Itália, origem de vinhos de rara
complexidade, elegância e longevidade.
Mais do que
conhecer as principais regiões produtoras, cabe também aos Sommelier conhecer e
compreender aquelas muitas vezes colocadas em segundo plano. Mais do que
conhecer e compreender estas regiões, cabe também ao Sommelier explorar e
compreender suas sutilezas e sua variedade. O mundo do vinho é grande e justo
aí está seu maior encanto, Na Puglia e nas várias “Puglias” ali contidas, como
em toda importante região produtora.
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