O MOVI, Movimento das Vinícolas Independentes, é uma associação de vinícolas chilenas que atuam de forma diferenciada, em geral em pequena escala, e comprometidos com a qualidade de seus produtos, atenção esta que se inicia já no vinhedo. Segundo Felipe Garcia Reyes, proprietário da Bravado Wines, e vice-presidente do grupo, o principal pré-requisito para a participação de uma vinícola no grupo é que o proprietário esteja envolvido diretamente em TODO o processo, da plantação à venda.
Com o crescimento e profissionalização que a indústria vitivinícola chilena experimentou a partir dos anos 90, era natural o surgimento de grandes em empresas, e até conglomerados multinacionais, como é hoje a Concha y Toro, e em parte isso é positivo, pois globalizou o vinho chileno. Porém, é natural que haja, da mesma forma, profissionais preocupados com questões como sustentabilidade e tipicidade, dispostos a nadar contra a maré da padronização, produzindo vinhos únicos, que expressam não só a terra onde estão plantados, mas também a ação das pessoas envolvidas no processo produtivo, enfim, vinhos que expressem seu terroir.O MOVI conta hoje com 19 membros, sendo que 17 estiveram com seus produtos presentes em uma série de eventos realizados em várias cidades brasileiras. A seguir, minhas notas de degustação dos 17 vinhos, e algumas informações sobre as vinícolas.
A vinícola pertence ao casal Felipe e Constanza, que desde 2006 investem em seu projeto pessoal, com vinhedos em Itata, Maule e Lolol. O vinho apresentado é um corte de Carignan, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, fragrante, com muita fruta fresca, flores, ervas, caramelo e especiarias doces; em boca é fresco, levemente sápido, longo e com finos taninos. Só sobrou uma pontinha de álcool, mas nada que comprometa o conjunto final. Importado pela Terramatter.
4D
2 – Mantum 2007 – Bustamante
Com uma produção de pouco mais de 5000 garrafas, a Bustamante localiza-se no Valle de Maule, e possui vinhas com mais de 100 anos de idade. Este corte em particular, com as castas Cabernet Sauvignon, Carmenére, Syrah e Merlot, apresenta fruta mais contida, especiarias e um leve vegetal; é seco, com média acidez, discreto amargor e média persistência, além de um discreto toque químico no retro gosto. Importado pela La Charbonnade.3D
3 – Erasmo 2006 – Reserva de Caliboro
Sociedade entre Andrés del Solar e o Conde Francesco Marone Cinzano (isso mesmo, o do vermouth...) é produzido e engarrafado no vinhedo. Com um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, passa um ano em barricas francesas e mais um ano em garrafa. Apresenta notas florais, frutas vermelhas e negras frescas, discreto tostado e toques abaunilhados; bom corpo e frescor, macio, com taninos finos e longo final, com muita fruta. Importado pela Casa do Porto.4D+
4 – Flaherty 2007 – Flaherty Wines
Pertencente ao casal Ed e Jen Flaherty, produz cerce de 1000 caixas a partir de vinhedos no Valle de Aconcágua. Este corte de Syrah, Cabernet Sauvignon e Tempranillo apresenta fruta madura, alcaçuz, e uma boca com bom frescor e fruta suculenta, bem agradável, com média/longa persistência. Importado pela Terramatter.
3D+5 – Clos Andino Le Carménère 2010 – Clos Andino
Pertencente ao francês erradicado no Chile Jose Luis Martin-Bouquillard, o projeto Clos Andino foi iniciado em 2007. O foco neste vinho, que além da Carmenére leve pequenas partes de Cabernet Sauvignon e outras castas, é, a partir do terroir chileno, obter um vinho com a elegância e tipicidade peculiar dos vinhos franceses. Tem muitos aromas terciários, animais, como carne de caça e couro, além de um fruta negra discreta e um leve defumado. É fresco, com taninos finos, e um pequeno amargor final. Ainda sem importador no Brasil.3D
6 – Lot #27 Old Vine Carignan Field Blend 2010 – Garage Wine Co.
Pertencente a Derek Moosmam, a vinícola faz, em suas origens, jus ao nome; começou em 2001, de forma irregular, na garagem da família em Santiago. As uvas são adquiridas de pequenos produtores, que cuidam de forma artesanal de suas frutas, e artesanalmente o vinho e produzido, sempre me pequenos lotes, e utilizando garrafas recicladas no engarrafamento. O Lot #27 em especial é um corte de Carignan e Grenache, plantadas juntas e misturadas já na colheita, produzindo um “field blend”, que homenageia, nesta safra 2010, a resistência dos lavradores do Maule, atingidos pelo terremoto daquele ano. Traz muita especiaria doce, como canela e cravo, fruta bem madura, quase geléia, e um marcado mineral. Tem bom frescor, é macio, vivo, suculento e longo. Importado pela Premium.4D
7 – Gilmore Hacedor de Mundos Cabernet Franc 2007 – Gilmore
Pertencente a Andrés Sanchez e Daniella Gilmore, a vinícola fica instalada no Valle de Loncomilla, na cordilheira da costa. O fundador, Francisco Gilmore, instalou-se ali no fim dos anos 80, adquirindo vinhedos que pertenciam a centenária vinícola Tabontinaja. Com vinhedos da casta inferior País, já com mais de 80 anos de idade, Francisco aproveitou-se de suas raízes profundas e enxertou variedades francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Carignan. A Carignan em especial recebe uma atenção particular da vinícola, que faz parte do Club del Carignan. Já o Cabernet Franc degustado apresentava fruta madura, notas animais, balsâmico; em boca, bom corpo, muitos e finos taninos, com muita fruta e longa persistência. Pede mais alguns anos de garrafa. Importado pela Ana Import.3D+
8 – I Latina Carmenére 2009 – i-Wines
Produzido a partir de vinhedos em Peumo, mais prestigiada região chilena para a produção de Carmenéres topo de gama, este vinho, que leva também uma pequena parte de Syrah, tem notas marcadas de chocolate amargo e tostado, evidenciando sua passagem por barricas, além de frutas em compota e um discreto herbáceo. Em boca é fresco, com o tostado mais marcado, bom corpo, macio, com média/longa persistência. Importado pela Berenguer Imports.3D+
9 – Single Vineyard Limited Edition Syrah 2007 – Lagar de Bezana
Fundada em 1998 pelo empresário Ricardo Benzanilla Renovales, recentemente falecido, a Lagar de Bezana produz principalmente Cabernet Sauvignon e Syrah, buscando a máxima expressão do terroir do Valle de Cachapoal. Este Syrah 2007 em particular tem um nariz delicado, fino, com boa fruta madura e discreta nota de especiarias; boa presença de boca, taninos finos e abundantes e agradável retro gosto, com boa persistência. Importado pela Magnum.4D
10 – Meli Reserva Carignan 2008 – Meli
Pequeno projeto familiar, conduzido pela enóloga Adriana Cerda e seus três filhos, que consiste em vinhedos de Riesling e Carignan, com uma média de 60 anos, plantados em Loncomilla, no Valle de Maule. A condução do vinhedo é orgânica, sem irrigação. O vinho degustado em especial apresentava aromas marcados de garapa, bala dura, fruta madura e especiarias doces; em boca, muito fresco, fino, de longa persistência, em uma palavra, instigante. Importado pela La Charbonnade.4D
11 – Peumayen Carmenére 2009 – Viña Peumayem
Pertencente ao casal Erika e Francisco Carevie, e Peumayem produz seus vinhos no Valle de Aconcágua. É um Carmenére com pequenas partes de Syrah e Petit Verdot, de bom corpo, com fruta bem madura, tostado intenso, macio, com um discreto amargor e média/longa persistência. Sem importador no Brasil.3D
12 – Polkura Syrah 2007 – Polkura
O nome faz referência a uma colina no meio do vinhedo, em cujas encostas são produzidas as uvas que dão origem a este vinho, em Marchigüe, Colchagua. Trata-se de um Syrah com pequenas partes de Malbec, Viognier, Grenache, Tempranillo e Mourvedre, com evidentes especiarias, eucalipto, fruta madura, bom frescor, taninos finos e abundantes e longa persistência, com frutas e especiarias retornando no final. Importado pela Premium.4D
13 – Rukumilla 2006 – Rukumilla
Apenas 5 acres no Valle de Maipo, cultivados organicamente e manejados pela família dos proprietários, Andrés Costa e Angélica Grove. É um corte de Malbec, Syrah, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, austero, com cassis e framboesa, especiarias e ervas; fresco, maduro, com taninos finos e longa persistência. Sem importação no Brasil.3D
14 – Starry Night Syrah 2010 – Starry Night
Apenas 8 hectares, divididos entre Syrah e Pinot Noir, em Maipo Costa. Este Syrah 2010 em especial traz muita fruta negra fresca, além de especiarias em evidência; fresco, longo e típico, com uma sugestão floral em boca. Importado pela Vinoart.4D
15 – Trabun Syrah 2009 – Trabun
Pertencente ao enólogo e baterista Sergio Avendaño, a Trabun produz nesta propriedade familiar em Cachapoal o Syrah ora degustado, que tem uma leve nota vegetal, além de uma boa dose de fruta e algo de noz moscada; em boca, médio/alto frescor, maciez e um discreto amargor, aliado ao intenso retro gosto a frutas maduras. Importado pela La Charbonnade.3D+
16 – Tanagra Syrah 2009 - Villard
Localizada no frio Valle de Casablanca, é uma das maiores vinícolas do MOVI, mas afinada com as proposta e filosofia do grupo. Este exemplar em especial traz fruta evidente, mas austera, algo de pimenta negra e discreto tostado. Fresco, de médio a encorpado, longo, equilibrado e elegante. Importado pela Decanter.4D
17 – Montelìg 2005 – Viña von Siebenthal
Pertencente ao advogado suíço Mauro von Siebenthal, os vinhedos tem condução orgânica, e todos os esforços são dirigidos a máxima expressão do terroir do Valle de Aconcágua. Este corte de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Carmenére tem um nariz intenso, com muita fruta madura; enche a boca, e tem boa maciez, além de um agradável fim de boca. Importado pela Terramatter.3D+
O nível geral de qualidade dos vinhos apresentados foi bem elevado, o que reforça a impressão positiva sobre os objetivos deste grupo. A maior parte da vinícolas já tem seus produtos no mercado brasileiro, e posso afirmar com tranquilidade que vale a pena garimpar nas prateleiras das lojas especializadas a sua procura.
Meus parabéns aos membros do MOVI pela bela iniciativa, e meu agradecimento a H3 pelo convite para tão especial degustação. Espero que vocês tenham gostado, e animem-se a provar alguns destes vinhos. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.