O mais importante produtor da
América Latina, além de um dos mais dinâmicos países produtores nas últimas
décadas, a Argentina nem sempre recebe a devida atenção na análise e
compreensão de seus vinhos. Uma indústria por muito tempo focada no volume,
além de exportações com grande foco em poucas uvas (especialmente a Malbec) e
limitada divulgação do variado terroir local são pontos que precisam sem
vencidos na melhor divulgação e entendimento dos vinhos argentinos.
Afinal, falamos de um país de
grandes dimensões territoriais, o 8º maior do mundo, assim como um dos maiores
produtores globais, com um total de mais de 200.000ha de vinhedos e uma cultura
vitivinícola profundamente arraigada, ainda que o consumo per capita tenha
caído de quase 100 litros para cerca de 26 litros, ao longo dos últimos 50
anos.
Como é o caso com tantas nações
que foram colônias espanholas, a história da viticultura argentina começa no
séc. XVI, com o trabalho de missionários e colonos; estes plantavam para seu
consumo, enquanto aqueles levavam a viticultura à novas terras, sempre levando
consigo videiras para a implantação de novos vinhedos, com o objetivo de
produzir vinho para a Eucaristia.
Ainda que vinhedos tenham sido
cultivados nestes primeiros anos próximos à costa Atlântica, às margens do rio
De La Plata, desde muito cedo os melhores resultados foram os obtidos nos
vinhedos aos pés dos Andes, estes iniciados por expedições vindas do Chile e do
Peru e é aqui que a indústria do país se estabeleceu.
A viticultura do país está
dividida em 4 macrorregiões, que encontramos no mapa, à saber:
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Norte: com as províncias de Jujuy, Salta, Catamarca e Tucumán
-
Cuyo: com as províncias de La Rioja, San Juan e Mendoza
-
Patagônia: com as províncias de La Pampa, Neuquén, Rio Negro e Chubut
-
Atlântica: com a província de Buenos Aires
As três primeiras, que
compreendes justamente os vinhedos mais próximos aos Andes e distantes do
oceano, respondem por 99% da produção. O grande esforço argentino vem concentrado
na busca incessante por melhor entender e compreender os distintos terroirs do
país, com a demarcação cada vez mais precisa de regiões e sub-regiões, levando
em conta aspectos orográficos, muito mais do que fronteiras políticas. A
expansão dos vinhedos, buscando as altitudes do Norte, as baixas temperaturas
do Sul e as brisas marítimas do Leste mudaram o mapa do vinho argentino, ainda
que 95% da produção permaneça na região de Cuyo.
Particularmente a província de
Mendoza, com seus mais de 150.000ha de vinhedos, 75% do total nacional, ainda
que conte com diversas razões históricas que justificam seu papel como coração
da vitivinicultura do país, tem inegável vocação à produção de vinhos de alta
qualidade, com clima e solo privilegiados, além do trabalho desempenhado por
toda uma nova geração de enólogos e produtores, experimentando novas técnicas,
novas castas, novas áreas de produção e muito mais.
Mendoza é dividida em cinco
grandes sub-regiões, com suas características particulares: Valle de Uco,
integrado pelos departamentos de Tunuyán, Tupungato e San Carlos; a Primera
Zona, que compreende os departamentos de Luján de Cuyo e Maipú; e os oásis Norte
(Lavalle e Las Heras), Leste (San Martín, Rivadavia, Junín, Santa Rosa e La
Paz) e Sul (San Rafael, Malargüe e General Alvear).
Oásis Norte e Leste:
Baixas altitudes, áreas de clima mais quente e foco em vinhos de entrada, de
custo mais baixo, ainda que exemplares de grande qualidade sejam produzidos
também, sobretudo com as castas Tempranillo e Bonarda
Primera Zona: Mais tradicional zona
de alta qualidade de Mendoza, onde brilha a onipresente Malbec, logo ao sul da
cidade, formada pelos departamentos de;
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Luján de Cuyo: No alto vale de Mendoza, com
altitudes de 800 a 1.100 metros e chuvas na casa de 190mm/ano Aqui foi
estabelecida e primeira DOC da Argentina, em 1993 e é onde a maioria das mais
tradicionais e renomadas bodegas estão sediadas, ainda que a maioria absoluta
destas tenham também vinhedos em outras partes de Mendoza. Os principais
distritos aqui são Las Compuertas, Vistalba (os dois de maior altitude), Agrelo,
Perdriel, Ugarteche, Chacras de Coria e Mayor Drummond.
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Maipú: Logo ao leste de Luján e também ao sul da
cidade, é ligeiramente mais quente, devido a menor altitude. Contém os
distritos de Cruz de Piedra, Barrancas, Russell, Coquimbito, Lunlunta, Fray
Luis Beltrán e Maipú (assim como em Luján, temos um departamento e um distrito
com o mesmo nome).
Oásis Sul: com os departamentos
de San Rafael, Malargüe e General Alvear, é a zona mais ao Sul de Mendoza, onde
as baixas altitudes são compensadas pela maior latitude, temperando o clima
desta área focada em castas clássicas. Esta zona não goza de tão alta fama
talvez devido a alta incidência de granizo ou a sua maior distância da cidade,
mas produz vinhos de elevada qualidade.
Valle de Uco: A estrela em ascensão
da Argentina, a região do país mais em voga no momento, composta pelos
departamentos de Tupungato (com os distritos El Peral, Anchoris, La Arboleda,
Tupungato e Gualtallary), Tunuyán (Vista Flores, Los Árboles, Los Sauces, Los
Chacayes) e San Carlos (Altamira, La Consulta, Eugenio Bustos, El Cepillo), com
altitudes de 1.000 a 1.600 metros. Seu clima mais frio, os solos muito pobres e
de excelente drenagem, além das brisas que sopram constantemente são responsáveis
pela alta sanidade das videiras, que entregam baixos rendimentos e vinhos
encorpados, de alta acidez. Malbec, Chardonnay e Cabernet Franc são castas que
tem se destacado.
Os modernos vinhos argentinos
podem, e devem, fazer parte do repertório do bom escanção!