A Alemanha e Seus Vinhos
Já de muito tempo, os vinhos
alemães são admirados e respeitados entre os melhores do mundo. Nos séculos
XVII e XIX grandes vinhos do Rheingau alcançavam mesmo preços superiores aos
dos mais famosos chateaux de Bordéus.
Falamos aqui de um dos principais
países produtores da Europa, com uma tradição profundamente arraigada na
produção de bons vinhos, desde de tempos Romanos. Mesmo com seu clima
limítrofe, tendo a maior parte de suas zonas de produção localizadas entre as mais
frescas do continente, a Alemanha sempre teve sucesso na produção de volumes
expressivos de bons vinhos. O segredo, ao fim das contas, está na justa seleção
das castas mais adequadas, cultivadas apenas nas melhores parcelas, com a
melhor exposição e máxima insolação.
Grande parte das plantações
alemãs estão em encostas, usualmente próximas às margens de rios, sendo os
principais o Reno e o Mosel, mas com os rios Mainz, Neckar, Nahe e Ahr também
desempenhando importante papel. As zonas próximas aos rios são usualmente mais íngremes,
muitas vezes necessitando da construção de patamares e socalcos, semelhantes
aos do Douro, mas essas massas d’água desempenham também agem mitigando as
temperaturas mais extremas dos invernos e, em locais privilegiados, refletindo
a luz do sol, favorecendo assim os processos fisiológicos das videiras.
Tais vinhedos são, obviamente, de
mais complexo cultivo, o que aumenta o custo da produção e demanda,
necessariamente, o foco em vinhos de qualidade superior, que permitam um equilíbrio
de custos. Ainda assim, nos anos 1970 e 1980, com a consolidação do
Flürbereinigung, reorganização e reestruturação dos vinhedos nacionais
promovida pelo estado, houve um aumento na produção de vinhos de baixo custo
que, de certa forma, prejudicaram a imagem internacional do vinho alemão.
A casta de maior importância em
vinhedos alemães é a Riesling, vista como a rainha das castas brancas por
tantos escanções pelo mundo. Porém, sendo uma casta exigente e de difícil
cultivo, coube a Müller-Thurgau o papel de protagonista nesta época, em brancos
indistintos e neutros, entre os quais os designados Liebfraumilch ganharam
maior notoriedade; Brancos simples, adoçados com suco de uva clarificado, que
inundaram prateleiras de mercados e adegas pelo mundo.
Já de mais de 20 anos vem a, por
assim dizer, redescoberta da Alemanha com fonte de alguns dos mais complexos e
apaixonantes vinhos. Mas a compreensão de tais vinhos não vem de forma simples
e descompromissada, pois não são poucas as particularidades da legislação
local, reforçadas pelas naturais dificuldades que nós, falantes da língua de
Camões, encontramos com o idioma germânico.
A Alemanha conta hoje com 13
regiões demarcadas, algo como suas DOCs, chamadas abaugebiete (literalmente,
áreas de cultivo). A legislação segue, grosso modo, o modela francês, hoje
adotado em toda a União Europeia, com a base de sua pirâmide qualitativa
formada pelos vinhos de mesa (Deutscher Wein), seguidos dos vinhos regionais
(Landwein), vindo então os vinhos DOC, aqui divididos em duas categorias, tal
qual na Itália. O primeiro nível são os Qualitätswein, vinhos de qualidade, que
necessariamente devem ter origem em uma das áreas de produção designadas, com
sua procedência informada no rótulo; logo acima vem os Prädikatswein, vinhos
com predicados, predicados estes que dizem respeito ao nível de maturação das
uvas utilizadas.
Embora não sejam poucas as críticas
a esse sistema e aos problemas por ele criados, valorizando a maturação das
uvas, sem especial atenção com a qualidade intrínseca da casta selecionada, é
bem compreensível que um país tão frio de atenção ao grau de maturação e teor
de açúcar de seus mostos. É também inegável que esse particular sistema tem lá
seu charme, como um diferencial alemão em meio ao quase que uniforme sistema de
denominações de origem adotado pelo continente.
Importante destaque aqui é que
essa não é uma escala de doçura dos vinhos, mas sim dos mostos, medido em graus
Öeschle, ainda que, usualmente, haja uma progressão dos níveis de açúcar
residual. Dos menos aos mais doces, os tais predicados são:
Kabinett
Spätlese
Auslese
Beerenauslese
Eiswein (com exatamente os mesmos
níveis do Beerenauslese)
Trockenbeerenauslese
Não são poucos os motivos para
buscar conhecer melhor os vinhos alemães e, definitivamente, não são estas
parcas linhas que oferecerão conhecimento sólido e completo sobre o tema. Mas,
é nosso sincero desejo que possam nossas palavras despertar o mínimo interesse
pelo tema, para que mais e mais escanções possam aprofundar seus conhecimentos
e melhor conhecer os clássicos e modernos vinhos alemães.
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