Consumo e produção de vinhos
finos não são as primeiras imagens que vem à cabeça de um europeu quando o
assunto é Brasil. No entanto, temos aqui uma história vitivinícola que remonta
ao início do séc. XVI, logo após a chegada dos portugueses, e uma produção em
franco crescimento qualitativo.
Apesar de nossos primeiros
vinhedos terem sido plantados pelos portugueses, ainda em 1534, no litoral de
São Paulo, foi apenas com o fluxo migratório de italianos, na segunda metade do
séc. XIX, que a produção de vinhos cresceu significativamente aqui.
Lamentavelmente, naquele momento, a opção acabou recaindo sobre as uvas de mesa,
de mais fácil cultivo e maior produtividade, porém geradoras de vinhos de
qualidade “duvidosa”, para dizer o mínimo. A partir da chegada de importantes
multinacionais, na década de 1970 (Moët & Chandon e Almadén), teve início
um ciclo virtuoso de valorização cada vez maior do uso de castas viníferas, que
segue até os dias de hoje. Em tempos mais recentes, um novo, e salutar, ciclo,
tem buscado novas regiões, onde os vinhos de qualidade possam ser produzidos.
Historicamente, a produção brasileira concentra-se no estado do Rio Grande do
Sul, mas vale lembrar que somos uma país de dimensões continentais, com um
território maior do que toda a Europa, logo, é natural que haja (muitas)
fronteiras vitivinícolas ainda inexploradas.
No próprio Rio Grande do Sul, onde
a produção sempre esteve concentrada na úmida Serra Gaúcha, tem surgido vinhos
de elevada qualidade na região da Campanha, zona mais quente e seca, na
fronteira com o Uruguai, e com significativo potencial para a produção de
tintos de classe e estrutura. No estado de Santa Catarina, tem crescido a
produção nas zonas de altitude da Serra Catarinense, com bons resultados para
castas tintas bordalesas, além de excelentes Sauvignon Blancs. No outro extremo
climático, temos uma significativa produção no Vale do São Francisco, região
próxima a linha do Equador, onde irrigação e modernas técnicas permitem a
obtenção de duas e meia safras ao ano, com vinhos para o dia a dia de boa
relação qualidade/preço.
Mas, talvez, a mais importante
inovação, que tem permitido a expansão de nossas fronteiras, é o
desenvolvimento da técnica de inversão do ciclo da poda, que força a parreira a
entrar em dormência no nosso verão (quente e úmido) e desloca a produção para o
inverno, quando temos condição climáticas mais adequadas, com boa amplitude
térmica e poucas chuvas. Dessa forma, regiões nos estados de Minas Gerais e São
Paulo tem apresentado vinhos de excelente qualidade, com castas como Syrah,
Cabernet Franc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. A coroação destes esforços
veio com o reconhecimento de um Syrah paulista, nos últimos dois anos, com uma
medalha de ouro e outra de platina, na respeitada premiação da revista inglesa
Decanter, além de um Chardonnay, de outro produtor de São Paulo, que se
destacou em uma premiação nacional, superando seus pares da Serra Gaúcha.
Mas isso, ainda, não é tudo!
Novos projetos, novos vinhos, e novas regiões, surgem diariamente, com
experimentos e vinícolas comerciais em regiões como a Serra Fluminense (Rio de
Janeiro), Chapada Diamantina (Bahia), Serra de Pirenópolis (Goiás), Serra da
Mantiqueira (São Paulo) e o interior do Paraná, apenas como exemplos.
O fato, é que a viticultura
brasileira se torna a cada dia mais diversa, e o natural espírito empreendedor
de nosso povo, aliado ao desenvolvimento de novas técnicas, trazem bons
augúrios de cada vez mais, e melhores, vinhos surgindo por aqui. Ainda mais um
bom motivo para degustar, e visitar, o Brasil!
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