A primazia dos vinhos da
Champagne, como a grande referência em espumantes de qualidade no mundo, é
inquestionável! Não faltam, porém, produtos de elevada qualidade no mercado
mundial, em função de desenvolvimento de novas regiões produtoras, como o sul
da Grã-Bretanha, ou por conta dos novos conhecimentos e técnicas adquiridos por
produtores do Novo Mundo. Há, no entanto, algumas poucas regiões com clima e
solo adequados, e que já tem uma longa história na produção de espumantes de
alto nível, que podem mesmo rivalizar, em qualidade, com os bons produtos
franceses; Távora Varosa é um exemplo, em Portugal.
No caso da Itália, ao lado da
zona de Trento, a Franciacorta ocupa tal posição, e é sobre os vinhos desta
zona que falaremos. Reconhecida pela legislação italiana como uma DOCG, hoje,
exclusivamente para espumantes, a Franciacorta produz vinhos com o mesmo método
clássico da Champagne, e utilizando, principalmente, as castas Chardonnay e
Pinot Noir, complementadas pela Pinot Bianco e, recentemente, por até 10% da
casta local Erbamat.
Até aqui, nada muito diferente,
mas o que coloca a Franciacorta no mesmo patamar de outras regiões clássicas já
citadas é, em boa parte, o respeito ao terroir; trata-se de uma zona com
características de solo e clima muito bem definidas e que, por conta disso, não
tem alternativas que permitam sua expansão descontrolada. Hoje, a Franciacorta
produz cerca de 17 milhões de garrafas ao ano, e as estimativas apontem que
esse volume não pode ultrapassar os 21,5 milhões.
Com um clima subtropical alpino,
que na Itália só é encontrado ali e no sul do lago de Garda, a região é
limitada pelo anfiteatro de montanhas que circundam o lago Iseo, ao norte,
pelas colinas de Monticelli Brusati, Ome e Gussago, ao oeste, pelo Monte Alto,
no leste e, grosso modo, pela formação conhecida como Monte Orfano (monte
órfão), ao sul, e essa limitação explicasse pela formação dos solos de origem
morâinica da região.
Durante o fim da última era
glacial, a dissolução dos glaciares que chegavam ao norte da Itália levou a
formação dos lagos ali presentes (Iseo, Como, Garda, etc.), mas também ao
deslocamento dos solos, que viriam a assentar-se nas planícies da Pianura
Padana, ampla área plana na bacia do rio Pó. Porém, na Franciacorta, a presença
do Monte Orfano, ao sul, de certa forma bloqueou o deslocamento desse solo,
fazendo com que essa pequena área mantivesse características de solo
diferenciadas, com textura arenosa e grande presença de pedras, além de matéria
vulcânica e calcário, oferecendo condições ideais a produção das castas ali
plantadas, com adequados níveis de acidez para a produção de espumantes de alta
qualidade.
Outra semelhança com a região de
Champagne é a grande fragmentação das propriedades, com volumes expressivos de
compra de uvas pelos principais produtores da região. Grandes vinícolas, como
Bellavista e Cá del Bosco, nascidas ali, além de gigantes de fora da zona que
ali se instalaram, como a Antinori (Tenuta Montenisa), convivem com produtores
menores, como Barone Pizzini e Le Cantorìe, na produção de espumantes que devem
passar, no mínimo, 18 meses com as leveduras (até 60, no caso dos Riserva),
exigência que colabora para a complexidade aromática, textura cremosa e fina
mousse de seus vinhos. Como um adendo, bons vinhos tranquilos também são
produzidos, hoje em dia com a DOC Curtefranca.
Trata-se, indubitavelmente, de
uma zona a ser cuidadosamente explorada pelo escanção que busca alta qualidade,
e variedade de origens, na composição de sua adega!
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