quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Mais Vinho, Por Favor!


Vai uma tacinha?
"Por força de minha profissão, tive ao longo dos anos algumas oportunidades de visitar vinícolas e regiões produtoras de vinhos em outros países. Sempre observei, e teci este comentário algumas vezes, que o interior paulista, com suas paisagens rurais e relevo, em muito se parece com regiões tradicionais, como por exemplo, o Alentejo, em Portugal. Em vários aspectos, nossa culinária também encontra fortes raízes na alimentação camponesa europeia, embora com a forte influência dos povos indígenas e das tradições africanas, com preparação e apresentações não tão distantes assim. E não poderíamos deixar de mencionar o óbvio; nossas sociedades tem uma grande presença de descendentes de imigrantes europeus!

No entanto, naquilo que tange a minha área de atuação em especial, uma característica apresenta expressiva diferença; o consumo do vinho... Bebemos pouco, e isso sem entrar no mérito da qualidade daquilo que bebemos. Acostumamo-nos com uma sociedade onde o vinho é um produto supérfluo, por vezes até fútil, ou muito caro, ou muito simples, e em geral destinado a ocasiões especiais. Essa imagem só é reforçada pelo trabalho de uma meia dúzia de três ou quatro, que assumem uma posição de apóstolos do vinho, porém levando adiante uma imagem elitizada, de produtos gloriosos, para poucos, fazendo uso de uma linguagem por vezes hermética, voltada aos iniciados, e desconectada da realidade da maior parte do nosso povo.

A princípio, pode parecer um contra senso tais declarações partirem de um Sommelier, alguém que transita profissionalmente neste meio, e depende, em grande parte, da presença do público supracitado nas mesas dos bons restaurantes, consumindo vinhos um pouco mais caros e garantindo o seu sustento. E não discordo destes, afinal, como profissional, é esse o pensamento; no entanto, como cidadão, como observador do mundo ao meu redor, mais aspectos entram na equação.

Nunca é demais lembrar que para muitos povos, o vinho é mais do que uma bebida fina, mas é sim parte de uma cultura, é um alimento, e um produto gerador de emprego e renda. Mas vale frisar que aqui não se trata apenas de países europeus com tradições milenares, mas também de alguns de nossos vizinhos próximos, como Argentina Chile e Uruguai. Por que então não o Brasil? Por que aqui patinamos há tantos anos nos arredores de 2 litros por habitante/ano de consumo? Por que aqui o vinho ainda insiste em ser chique?

São muitos os motivos e muitas as respostas possíveis, e abordaremos algumas delas em futuras colunas, mas, a princípio, nos falta a cultura do vinho!

Falando em cultura do vinho, não quero que você pense em um grupo de cidadãos de fraque, em trono de uma mesa impecavelmente montada, com linho, louças e pratarias, degustando as mais finas iguarias ao som de música clássica; não é isso! Para mim, a principal imagem que ficou do que é a verdadeira cultura do vinho, foi em um domingo na Itália, participando de uma festa local, em uma pequena cidade, uma quermesse, na qual fui almoçar em companhia do pároco local, o almoço especial da festa, em um salão com mesas e cadeiras de plástico, a comida (muito boa) servida em pratos e com talheres de plástico, e na mesa, uma garrafa de vinho sem identificação, para ser bebido em copos descartáveis. Vinhos simples, frutado, sem grandes predicados, mas ali, presente. Para aqueles que ali estavam, seria impensável tomar lugar a mesa sem o vinho, por mais simples que este fosse. Afinal, tal como o pão, era parte da refeição!

Posso, e vou, em outras colunas, elencar uma miríade de razões pelas quais você deveria cultivar este hábito, de incluir o vinho em suas refeições, mas deixo, de saída, só uma; é muito bom! Seja uma grande marca conhecida, um produto artesanal e de preço elevado, ou um simples vinho de garrafão, antes de educar o consumidor, nós precisamos de consumidores, então eu te convido a entoar comigo a frase:

“Mais vinho, por favor!”"
Artigo publicado originalmente na edição de número 3 da revista Senhora Mesa.

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