terça-feira, 24 de julho de 2012

Portugal na Classe A Magazine!

Olá Pessoal
Partilho com vocês, a matéria abaixo, de minha autoria, publicada na edição 16 da Classe A Magazine, daqui da região de Campinas. Espero que gostem!!!



"Portugal – Descubra a Diversidade

"O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo."

Foi esta frase de Fernando Pessoa, na obra Portugal Entre Passado e Futuro, que escolhi para abrir a Carta de Vinhos no novo Emporium do Bacalhau, em Campinas, com mais de 230 rótulos daquele país; e se a frase em questão se aplica ao povo português, por certo se aplica da mesma forma aos seus vinhos, frutos que são da cultura de um povo.

Portugal, com seu território relativamente pequeno, em especial se comparado a uma nação de dimensões continentais, como a nossa, possui um dos, senão o maior, patrimônio vitivinícola da Terra, com quase 300 espécies diferentes de uvas viníferas. Esta variedade toda, aliada ainda as diferenças de solo, clima e cultura das diferentes regiões de Portugal, resultam em uma ampla variedade de estilos de vinhos, adequados aos mais variados momentos e ocasiões.

Muito além do vinho do Porto, dos Vinhos Verdes mais simples, e dos tintos alentejanos, Portugal nos oferece uma miríade de sabores e sensações. Podemos começar pelos ótimos espumantes método clássico, provenientes principalmente da Bairrada, de Távora-Varosa e do Douro, seguindo para os brancos frescos do Minho, os cortes brancos do Douro, aristocráticos e elegantes, os varietais e cortes com a Arinto, onipresente em diversas regiões, os brancos minerais de Encruzado, sobretudo do Dão, e os macios alentejanos, da Antão Vaz.

Seguindo aos tintos, temos os belos vinhos feitos com a Castelão, em Setúbal, que pelas mãos de talentosos enólogos mostra todo seu potencial após alguns anos de guarda, o duo Aragonês/Trincadeira do Alentejo, os elegantes cortes de Lisboa, os longevos tintos do Dão, com Touriga Nacional, Jaen, e outras castas, os rústicos e deliciosos tinto de Baga, da Bairrada, e os cada vez mais grandiosos tintos de mesa do Douro, produzidos com as mesmas uvas do Porto.

Nos doces e fortificados, um capítulo a parte, onde além do tradicional Porto tinto, encontramos os deliciosos Portos brancos, os ótimos Moscatéis, de Setúbal e do Douro, e o Madeira! Ah, o Madeira... Talvez o maior tesouro enológico de Portugal... Se você ainda não conhece, prove! Um Boal 10 Anos, ao fim de uma refeição, ou um Sercial 10 Anos como um aperitivo de alta classe.

Se até aqui você já se sente perdido ou confuso com tantos nomes e denominações diferentes, fique tranquilo... A melhor parte da aventura e provar e conhecer na prática. Além do mais, podemos também contar com uma boa dose de nomes conhecidos, de castas internacionais, que tem apresentado bons resultados em solo português, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, e até algum Pinot Noir, que vem complementar o panorama com castas típicas como a Borrado das Moscas, Rabo de Ovelha, Esgana Cão, Negra Mole, Tinta Miúda, e outras tantas.

Além das regiões tradicionais, facilmente encontradas aqui no Brasil, vale também manter a atenção para regiões que só recentemente começam a apresentar vinhos de mais qualidade, ou ainda regiões e denominações pequenas, difíceis de encontrar até em Portugal. Fique atento aos vinhos do Algarve, Trás-os-Montes, Colares, Carcavelos (belos vinhos doces), Açores, e tantas outras, que valem, e muito, pela tipicidade e exclusividade.

Seja com os tradicionais pratos portugueses, como o Bacalhau, as alheiras e farinheiras, o leitãozinho da Bairrada e a doçaria conventual, ou ainda com a diversificada cozinha internacional, os modernos vinhos portugueses são sempre uma aposta certeira, em belas e novas sensações e descobertas. Descubra você também o sabor da diversidade, descubra os vinhos de Portugal!"
Espero que tenham gostado!

Grande abraço e até a próxima!

domingo, 15 de julho de 2012

Post nº 100!!! Degustando o Passado!

Aos trancos e barrancos, chego ao centésimo post deste blog! Agradeço aqueles que tem acompanhando este inconstante trabalho!
Para este post, havia eu já há algum tempo reservado um tema em particular, devido, principalmente, a enorme carga nostálgica e sentimental aqui envolvida. Sem deixar de falar de vinhos, este post, de forma singela, rende homenagem póstuma ao meu pai, António Carlos Arrebola, falecido em dezembro, e sua influência sobre minha escolha profissional.
Primeiramente, cabe esclarecer que o vinho não foi minha primeira escolha profissional, nem a segunda... E também que, embora minha família tenha raízes européias, não eram, nem meu pai, nem meu avô, consumidores habituais de vinho. No entanto, a primeira impressão positiva que tive a respeito desta bebida, e que carreguei comigo por muitos anos, surgiu a partir de um bate papo familiar, entre meu pai e meu avô  no distante ano de mil novecentos e qualquer coisa, quando eu tinha aí meus 10 anos de idade.
Nesta conversa, discutiam meu pai e meu avô os então recém descobertos benefícios do vinho a saúde, assunto que despertou-me o interesse. No dia seguinte, ao voltar da escola, repeti a um colega de classe todo o "conteúdo" absorvido na noite anterior. Ainda que de modo insipiente, este foi meu primeiro contato "técnico" com o mundo do vinho, e tudo aquilo que ele tinha a oferecer.
Outro aspecto que me influenciou foi a "adega" de meu pai. Coloco entre aspas, pois a referida adega nada mais era do que um móvel de madeira, no cômodo errado, recebendo os primeiros raios de sol da manhã, onde meu pai armazenava os vinhos que ele havia ganhado e adquirido ao longo dos anos. E é desta adega que saiu este pedaço do nosso recente passado enológico da foto aí embaixo.
Vinhos de outra época...
Ao limpar a adega, deparei-me com estes rótulos, que já há algum tempo me despertavam curiosidade; afinal, como teriam sobrevivido ao peso dos anos estes vinhos, relativamente simples em sua origem?
A oportunidade de colocá-los a prova veio por intermédio de um convite do Sr. Cristiano "Vivendo Vinhos" Orlandi, para participar de uma degustação para o Guia Brasil às Cegas, em fase de elaboração por ele e pelo Beto "Papo de Vinho" Duarte. A degustação deu-se no Espaço Rosso Bianco, do amigo Tiago Ribeiro, e ao final, aproveitei para colocar os meus velhinhos na mesa e partilhar o momento com os presentes.
Algumas boas surpresas! Para começar, embora nenhum dos vinhos estivesse em perfeitas condições, nenhum estava totalmente decrépito. Todos, inclusive os populares Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 e Almadén Cabernet 1996. Seguem minhas observações, segundo a foto da esquerda para a direita:
- Forestier Cabernet Franc 1996 (Brasil) : Ainda com alguns taninos e vivacidade, aromas francamente evoluídos, mas não desagradáveis.
- Cabernet San Carlos NV (Brasil) : Sei que esta garrafa é dos anos 80, embora não seja possível precisar a safra. Embora meio morto em boca, no nariz era o único a ainda apresentar evidentes notas frutadas.
- Baron de Lantier Cabernet Franc 1986 (Brasil) : Sempre citado como um exemplo da vitivinicultura de outros tempos, com rusticidade na medida e potencial de guarda. Era o melhor da série, ainda vivo, com taninos presentes e acidez agradável.
- Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 (Chile) : Bom, não era um grande vinho em 1995, e não o é agora, mas sobreviveu, e estava perfeitamente potável.
- Almadén Cabernet 1996 (Brasil) : Vale o texto acima. Apenas apresentava um pouco mais de corpo.
- Conde de Foucauld Cabernet 1986 (Brasil) : No nariz menos expressão que o Baron de Lantier, mas em boca igualmente agradável, com taninos ainda vivos.
- Marchesi di Pallavicini NV (Itália) : Também dos anos 80, este vinho vêneto apresentava acidez viva e um fim de boca elegante. No contra-rótulo não consta nome do produtor ou safra, apenas que era importado pela Expand...
- Corte in Poggio 2000 Vino da Távola (Itália) : Muito jovem, muito simples, mas agradável.
Fiquei feliz em observar a resistência, em especial dos mais antigos, que sobreviveram a quase 30 anos, armazenados inadequadamente, sendo transportados com alguma frequência, e sem nenhum controle de temperatura.
De minha parte, foi também um momento de introspeção, de agradecer aos incentivos que, ainda que inconscientemente, meu pai me deu, e que me trouxeram a este ponto de minha carreira como Sommelier. Obrigado pai, pela formação, pelos ensinamentos, pela constante presença, e também pela experiência proporcionada, nestas garrafas cheias de vinhos, histórias, memórias e lembranças...

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