quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Mais Vinho, Por Favor!


Vai uma tacinha?
"Por força de minha profissão, tive ao longo dos anos algumas oportunidades de visitar vinícolas e regiões produtoras de vinhos em outros países. Sempre observei, e teci este comentário algumas vezes, que o interior paulista, com suas paisagens rurais e relevo, em muito se parece com regiões tradicionais, como por exemplo, o Alentejo, em Portugal. Em vários aspectos, nossa culinária também encontra fortes raízes na alimentação camponesa europeia, embora com a forte influência dos povos indígenas e das tradições africanas, com preparação e apresentações não tão distantes assim. E não poderíamos deixar de mencionar o óbvio; nossas sociedades tem uma grande presença de descendentes de imigrantes europeus!

No entanto, naquilo que tange a minha área de atuação em especial, uma característica apresenta expressiva diferença; o consumo do vinho... Bebemos pouco, e isso sem entrar no mérito da qualidade daquilo que bebemos. Acostumamo-nos com uma sociedade onde o vinho é um produto supérfluo, por vezes até fútil, ou muito caro, ou muito simples, e em geral destinado a ocasiões especiais. Essa imagem só é reforçada pelo trabalho de uma meia dúzia de três ou quatro, que assumem uma posição de apóstolos do vinho, porém levando adiante uma imagem elitizada, de produtos gloriosos, para poucos, fazendo uso de uma linguagem por vezes hermética, voltada aos iniciados, e desconectada da realidade da maior parte do nosso povo.

A princípio, pode parecer um contra senso tais declarações partirem de um Sommelier, alguém que transita profissionalmente neste meio, e depende, em grande parte, da presença do público supracitado nas mesas dos bons restaurantes, consumindo vinhos um pouco mais caros e garantindo o seu sustento. E não discordo destes, afinal, como profissional, é esse o pensamento; no entanto, como cidadão, como observador do mundo ao meu redor, mais aspectos entram na equação.

Nunca é demais lembrar que para muitos povos, o vinho é mais do que uma bebida fina, mas é sim parte de uma cultura, é um alimento, e um produto gerador de emprego e renda. Mas vale frisar que aqui não se trata apenas de países europeus com tradições milenares, mas também de alguns de nossos vizinhos próximos, como Argentina Chile e Uruguai. Por que então não o Brasil? Por que aqui patinamos há tantos anos nos arredores de 2 litros por habitante/ano de consumo? Por que aqui o vinho ainda insiste em ser chique?

São muitos os motivos e muitas as respostas possíveis, e abordaremos algumas delas em futuras colunas, mas, a princípio, nos falta a cultura do vinho!

Falando em cultura do vinho, não quero que você pense em um grupo de cidadãos de fraque, em trono de uma mesa impecavelmente montada, com linho, louças e pratarias, degustando as mais finas iguarias ao som de música clássica; não é isso! Para mim, a principal imagem que ficou do que é a verdadeira cultura do vinho, foi em um domingo na Itália, participando de uma festa local, em uma pequena cidade, uma quermesse, na qual fui almoçar em companhia do pároco local, o almoço especial da festa, em um salão com mesas e cadeiras de plástico, a comida (muito boa) servida em pratos e com talheres de plástico, e na mesa, uma garrafa de vinho sem identificação, para ser bebido em copos descartáveis. Vinhos simples, frutado, sem grandes predicados, mas ali, presente. Para aqueles que ali estavam, seria impensável tomar lugar a mesa sem o vinho, por mais simples que este fosse. Afinal, tal como o pão, era parte da refeição!

Posso, e vou, em outras colunas, elencar uma miríade de razões pelas quais você deveria cultivar este hábito, de incluir o vinho em suas refeições, mas deixo, de saída, só uma; é muito bom! Seja uma grande marca conhecida, um produto artesanal e de preço elevado, ou um simples vinho de garrafão, antes de educar o consumidor, nós precisamos de consumidores, então eu te convido a entoar comigo a frase:

“Mais vinho, por favor!”"
Artigo publicado originalmente na edição de número 3 da revista Senhora Mesa.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Por um Interior (Eno) Gastronômico, na revista Senhora Mesa!


Clos des Paulilles, Banyuls, França
"Olá a todos! Estreio aqui minha participação neste espaço da Senhora Mesa, onde vamos conversar sobre vinhos, bebidas, gastronomia e outros assuntos afins.



É sempre uma grande alegria quando tenho a oportunidade de atingir um público qualificado e apaixonado, como o público que encontramos aqui no nosso Interior. Por muito tempo, a culinária típica, e mesmo a alta gastronomia, aqui praticadas, foram colocadas à margem daquela praticada na Capital nos grandes centros, nosso profissionais tinha duas opções, mudar-se para cidades maiores, ou insistir em perseguir seus sonhos aqui mesmo nesta nossa terra, como um Don Quixote das panelas, enfrentado moinhos com uma espátula nas mãos. Do outro lado do balcão, nosso público, muitas vezes de forma inocente, desmerecia o trabalho daqueles que aqui atuavam, sempre se dispondo a efetuar sue principais gastos nos grandes centros, e nutrindo uma impressão quase que patológica de que os mesmos produtos, oferecidos aqui em porções ainda maiores, eram caros demais.

Bom, nem tudo (ainda) mudou; ainda temos muitos profissionais de alto gabarito migrando para as Capitais; ainda temos preços altos e amadorismo em nossos restaurantes, ainda temos clientes que almoçam por R$ 300,00 em São Paulo, mas acham um executivo de R$ 39,90 caro aqui em casa; tudo isso ainda é realidade, mas é felizmente um cenário em fase de mudança, e para melhor.

Escrevi isso tudo como uma introdução a tônica desta coluna e a minha própria história. Nasci, vivi e vivo no interior, em Campinas; estudei, trabalhei e me desenvolvi profissionalmente aqui no interior, e foi vivendo e atuando aqui no interior que alcancei a posição de Melhor Sommelier do Brasil, vencendo o último concurso brasileiro, ano passado. Ainda que atuando de forma mais incisiva em São Paulo, ainda é aqui minha “base”, é aqui que eu aposto, no crescimento de nossa cultura eno-gastronômica; é aqui que, creio eu, o mais dinâmico dos cenários se configura, com novos nomes e novos restaurantes surgindo a cada dia.

Temos, cada vez mais, restaurantes de alto nível, boas instituições de ensino, profissionais estudiosos e dedicados, um serviço de qualidade, Cartas de Vinhos premiadas, e tudo o mais que você precisa para uma grande experiência eno-gastronômica. Temos também, cada vez mais valorizadas, nossas especialidades tradicionais, nossas comidinhas de rua e de feira, nossos quitutes de mercadão, melhores todos a cada dia, com preparações mais bem cuidadas e as melhores matérias primas.

No que se refere ao vinho em particular, cada vez mais os distribuidores e importadores voltam suas atenções para cá, fugindo, em partes, do saturado mercado paulistano, e ampliando de modo muito significativo a oferta de rótulos e de bons eventos ligados ao vinho que por aqui se realizam, permitindo que as melhores opções do mercado estejam, cada vez mais, disponíveis aos nossos consumidores.

Neste espaço, nas edições que virão, vamos falar um pouco mais sobre estes bons eventos, sobre os bons restaurantes, e as muitas possibilidades que você tem, hoje, de disfrutar de boa comida e bons vinhos, sem precisar passar da Serra do Japi, vamos falar de vinhos e de muito mais daquilo que podemos encontrar de bom em nossas cidades; e eu espero, sinceramente, poder contar com a sua companhia nesta jornada.

Até a próxima edição, deixo o meu convite, para que você conhece e aprecia melhor nossa gastronomia, nossas especialidades, nossos bons profissionais e restaurantes, valorizando aqueles que decidiram apostar suas carreiras aqui, com o simples objetivo de melhor servir-nos. Desfrute do nosso Interior (Eno) Gastronômico!"
Artigo publicado originalmente na edição de número 2 da revista Senhora Mesa!

 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Entrevista à CBN Campinas!

Segue link de entrevista que dei para o quadro Estilo de Vida, de Neusa Leoncine, na CBN Campinas! Espero que gostem!
Grande abraço
http://www.portalcbncampinas.com.br/?p=62744

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Bebendo Mais e Melhor (E por Menos!)


"Por que bebemos pouco? E por que bebemos mal? O que bebemos, afinal de contas? Nossa sociedade é, a cada dia mais, quadradinha e politicamente correta; a preocupação com a saúde tornou-se celeuma global, e nossos hábitos alimentares não ficaram imunes a estas mudanças; menos sal, menos gordura, menos calorias, menos carne, menos açúcar e... menos álcool!

Desta forma, o consumo do vinho foi, inevitavelmente, atingido. Apenas para ilustrar, na primeira metade do século XX, nossos vizinhos argentinos consumiam, em média, cerca de 100 litros por habitante/ano, enquanto que hoje são cerca de 26... Aí, países como o Brasil, com um consumo de cerca 2 litros por habitante/ano, encontram esta dificuldade adicional para fazer crescer o seu consumo, como se já não bastassem os desvarios tributários dos nossos governos.

A isso somamos ainda um importante aspecto; o cultural. O brasileiro, em geral, não vê o vinho como uma bebida do dia a dia, mas sim como uma bebida para ocasiões especiais. Essa imagem é fortemente reforçada pelo desserviço prestado por uma elite que foca a divulgação do vinho em produtos de maior valor agregado, vendendo a imagem de que vinho barato não presta. A força que esta imagem tem junto ao público pode ser ilustrada por uma situação pela qual eu passei, ao visitar um restaurante simples, próximo de minha casa, acompanhado de minha família, e decidi pedir uma garrafa de Almadén Riesling 2012, vinhos simples, porém tecnicamente bem feito, e adequado para o consumo descompromissado, afinal, custa cerca de R$ 17,00 nos supermercados por aí. Pois o pedido impressionou minha própria esposa, que não esperava que eu pedisse um Almadén...

 Nesse processo, o consumidor médio, como eu, que aprecia o vinho, e tem o desejo de fazer deste um item de consumo diário, esbarra na limitação orçamentaria; afinal, como beber vinho com frequência se vinho bom é vinho caro? (ou ao menos não tão barato assim...).

A resposta que eu tenho a esta questão, meus caros, é muito simples: e quem disse que vinho barato não é bom? O vinho, como um hábito cultural e alimentar de consumo diário, precisa ser, antes de tudo, acessível em termos de preço, mas também honesto, ou seja, entregar no mínimo aquilo que seu preço nos faz supor que ele tenha. O vinho que citei acima se encaixa perfeitamente nesta categoria.

É claro que, quando falamos de vinhos assim tão baratos, é preciso alguma atenção ao que compramos, afinal há, de fato, muitos vinhos nessa faixa de preço que deixam a desejar em termos de qualidade, mesmo para um vinho tão barato, mas os bons exemplares existem, e devem ser valorizados!

Por certo que estas palavras não têm o objetivo de incentivar você a, quando for ao seu restaurante favorito, reclamar que não há vinhos de R$ 20,00 na carta, afinal, os vinhos de preço e qualidade mais altos merecem o seu lugar acompanhando uma culinária a altura, agora, em momentos de lazer e descontração, em que você normalmente optaria por uma bebida mais barata, como uma cerveja, por que não tentaram vinho que literalmente seja para o dia a dia? Por que não pesquisar algumas opções no supermercado mais próximo? Beba mais vinho, e seja mais feliz e saudável!

Texto publicado originalmente no portal Gastrovia!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Bebendo (BEM!) Nas Alturas!


"Já é fato consumado que empresas aéreas sempre disponibilizaram um sortimento de bebidas alcoólicas de primeira linha em suas classes executiva e primeira.  Neste contexto, o vinho muitas vezes ocupa um lugar de destaque, entretanto, para a classe econômica, também é cada vez maior a oferta de produtos de boa qualidade, em especial no caso de companhias de países tradicionalmente produtores.

 

Esta crescente demanda, gera uma constante preocupação em contar com consultores externos, e muitas vezes famosos, para a elaboração de suas Cartas de Vinhos. Entre os brasileiros, temos o Dr. Arthur Azevedo, da ABS São Paulo, há vários anos responsável pela seleção de vinhos da TAM, e o Chef e Sommelier ítalo-brasileiro Dânio Braga, responsável pela seleção da portuguesa TAP.

 

Embora as seleções de vinhos para classe econômica tenham uma melhora significativa em tempos recentes, são nos assentos mais caros onde encontramos os melhores produtos e o melhor serviço, com taças de verdade, que permitem uma adequada degustação. No que se refere à degustação é importante lembrar que, no ambiente de baixa pressão da cabine de uma aeronave, nossa percepção olfativa é alterada, o que só reforça a necessidade de bons vinhos e boas taças, a fim de garantir uma experiência prazerosa ao passageiro.

 

Em uma recente (e longa) viagem ao Japão, sobre a qual falarei um pouco mais em outro artigo, tive a sorte de por um gentil convite da Qatar Airways, desfrutar do conforto de sua premiada bussines class em um dos trechos de Doha até São Paulo, e partilho com vocês algumas impressões, em especial a respeito do serviço e da seleção de vinhos.

 

Como em geral e padrão em todas as empresas, aqui o serviço é feito em taças de verdade, e não de plástico, ou ainda copos baixos de vidro, como é comum. Isso, por si só, já enriquece significativamente a experiência de degustação. Aliado a isso, a Carta de vinhos trás uma seleção cuidadosa, com produtos escolhidos das melhores procedências, e ainda informações completas sobre cada um deles como uvas, safras e informações sobre os produtores. Existe uma preocupação em cobrir estilos variados, com vinhos do novo e velho mundo, versáteis o suficiente para adaptarem-se a uma variedade de pratos e paladares.

 

Entre meus destaques da Carta da Qatar Airways, ficam os seus dois Champagnes, Bollinger Brut Rosé e Lanson Vintage 1999, um belo branco alemão, o Erdener Treppchen Spätlese Riesling do produtor Dr. Loosen, um Brunello di Montalcino mais maduro, o Castel Giocondo 2003, da Frescobaldi, e um ótimo Porto Colheita 1974, cujo nome, por absoluto e imperdoável desleixo, não anotei. Além destes, ainda havia um Bordeaux 2006 Cru Bourgeois de ótima procedência, um belo Sauvignon Blanc neozelandês, entre outros.

 

Toda a equipe de bordo estava devidamente bem orientada em relação à liturgia particular do serviço dos vinhos, atentando para volume servido, reposição, troca de taças, temperatura e etc.

 

Com o constante aumento do mercado consumidor de luxo, em especial em países em desenvolvimento como o Brasil, apresentar uma ampla seleção de serviços e produtos diferenciados, é uma necessidade premente de todas as empresas aéreas que buscam fidelizar clientes em seus assentos mais caros. Nesta equação, o vinho, produto cada vez melhor compreendido e respeitado, ocupa, sem dúvida, uma posição de destaque."
 
Texto publicado originalmente no portal Gastrovia!
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Canadá!

Segue texto publicado na edição nº19 da Classe A Magazine, com um pouco mais de informação sobre os vinhos do Canadá.

"Nos últimos tempos, tem surgido e, nossas prateleiras algumas opções de vinhos canadenses; mais até do que isso, o fluxo cada vez maior de brasileiros ao exterior tem permitido que muitos tenham contato com estes produtos, já não tão incomuns assim.

No entanto, ao pensarmos em Canadá, a primeira imagem que nos vem à mente é a de um país frio, quase polar, onde fica bem difícil imaginar a produção de vinhos finos. Esta é uma meia verdade! De fato, o Canadá tem um clima predominantemente frio, porém, as áreas mais próximas à fronteira com os Estados Unidos estão tão próximas do equador quanto à ensolarada Toscana. O clima, predominantemente continental, permite, em zonas específicas, verões suficientemente quentes e longos para permitir a maturação de uvas viníferas de boa qualidade.

A vitivinicultura canadense é definida pela proximidade dos vinhedos com massas de água, como grandes lagos ou rios, que funcionam como um alívios às agruras do inverno. A maior parte da produção se concentra nas províncias de Ontário e British Columbia, respectivamente a leste e a oeste do país.

Em British Columbia, próximo ao estado americano de Washington, a produção está forte mente concentrada no Okananga Valley, cortado pelo rio homônimo. Em especial nos crescentes vinhedos do sul da região, uvas como a Cabernet Franc, Pinot Noir, Riesling, além de cepas normalmente plantadas em climas mais quentes, como Cabernet Sauvignon e Syrah, tem apresentado resultados promissores.

Já em Ontário, localiza-se a principal região produtora do país, a península de Niágara. Protegida do frio excessivo pelos lagos Ontário, ao norte, e Erie, ao sul, concentra a maior extensão de vinhedos, e tem obtido resultados surpreendentes e consistentes com castas como a Riesling, Pinot Noir e Cabernet Franc. Além das vantagens climáticas, o sucesso da península do Niágara se deve também a visão dos produtores, que no final dos anos 1980, foram os primeiros do Canadá a estabelecer regras definindo a qualidade e procedência de seus vinhos. Vinhos com a sigla VQA (Vintners Quality Alliance) são, em geral, uma garantia de boa qualidade.

Porém, ainda que a maior volume produzido seja de vinhos secos, é importante destacar aquele que talvez seja o mais conhecido produto canadense, em especial por sua ligação íntima a imagem que temos do Canadá como um país gelado, o Ice Wine, ou vinho do gelo.

Com um clima seco e invernos muito frios, o Canadá tem condições de produzir vinhos a partir de uvas congeladas todos os anos, diferente de regiões também consagradas por este produto na Alemanha e Áustria. A título de informação, o Ice Wine (ou Eswein, na Alemanha e Áustria) é um vinho produzido com uvas sobre maduras, que ficam nas parreiras até a chegada do inverno rigoroso, que as congelará, sendo então colhidas e prensadas ainda congeladas. Deste modo, boa parte da água se separa do restante do mosto, ficando este muito doce e concentrado. No caso específico do Canadá, a colheita só pode ser feita com temperaturas de -8 C°, e o vinho resultante deve ter não menos do que 100gr/l de açúcar residual. São vinhos sedutores, pelos quais é fácil se apaixonar.

Os melhores exemplares são obtidos com a Riesling, porém, e esta é outra particularidade canadense, vinhos muito bons são também produzidos com a casta híbrida Seyval Blanc. Os preços, lá no Canadá, podem variar entre boas ofertas até custos significativamente mais elevados. Em todo caso, são vinhos únicos, vibrantes, dos quais vale muito a pena ter-se a experiência de tê-los provado. Encontrando algum, aqui ou em sua próxima viagem, não perca a chance de conhecê-lo!"
Espero que tenham gostado. Grande abraço e até a próxima!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um Negócio da China! Observações a Respeito do Crescente Mercado de Vinhos na China

Nos últimos anos, a China tem se firmado como um dos mais importantes mercados no mundo do vinho. Em 2016, os chineses devem assumir o posto de segundo maior país consumidor, com 250 milhões de caixas, atrás apenas dos Estados Unidos, com uma previsão de 350 milhões de caixas.
O consumo per capita ainda é pequeno, cerca de 1,6 litro/ano por habitante, mas, quando multiplicamos este número pela população chinesa, fica fácil entender o grande interesse que este mercado desperta. Com uma crescente população urbana, uma classe média em ascensão, e um interesse cada vez maior em copiar os hábitos ocidentais, a China tornou-se, em relativamente pouco tempo, a resposta às preces dos produtores cada vez com mais dificuldades em escoar suas produções nos países consumidores tradicionais.
Com suas dimensões continentais, e um sexto da população mundial, a China tem uma história milenar com a viticultura, no entanto, a produção sempre foi mais voltada às uvas de mesa. O grande impulso a indústria do vinho veio a partir de 1979, quando o governo comunista estabeleceu condições que permitiam a entrada de produtos e investimentos estrangeiros. Rapidamente, o vinho adquiriu um posto de honra entre nos mercados chineses.
E não estamos aqui falando apenas das importações crescentes, mas também da produção local, muitas vezes com o apoio técnico e financeiro de empresas estrangeiras.  Já em 1980, a empresa francesa de bebidas Rémy-Martin estabeleceu a primeira joint-venture no país, iniciando a produção dos vinhos da linha Dinasty; em seguida veio a Pernod Ricard, que entre 1987 e 2001 produziu os rótulos Dragon Seal; já a Castel, gigante francês do setor, produz a linha Château Changyu-Castel; e mesmo o Château Lafite-Rothschild, dos mais afamados produtores do mundo, produz ali seu vinho local, na província de Shandong, logo ao sul da capital Beijing.
Em especial, o Château Lafite tem alcançado um sucesso fenomenal na China; há uma piada no meio de que a China é o maior produto mundial de Château Lafite 1982, tal o volume de falsificações que surgiram deste muito procurado vinho. Mesmo o segundo rótulo da vinícola, o Carruades de Lafite, alcança ali altos preços, o que levou a uma considerável alta dos preços destes dois vinhos em nível global. Daí a óbvia animação da Lafite para investir em Shandong.
Shandong, aliás, tem se firmado como a mais importante região produtora da China, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, com a maior parte das vinícolas sérias do país se estabelecendo ali. Shanxi, no centro, e Xingjian, no noroeste, também têm apresentado bons e importantes resultados, mas a região que despertou maior atenção recentemente é a província de Ningxia, ao norte. Foi de Ningxia que saiu o primeiro vinho chinês a receber uma importante distinção internacional; o Jia Bei Lan Cabernet 2009, da vinícola He Lan Qing Xue, foi premiado pela revista britânica Decanter como o melhor varietal bordalês abaixo de 10£ em 2011.
Em geral, as principais regiões exploradas apresentam como principal obstáculo os elevados índices de humidade, o que facilita o surgimento de fungos e pragas, e faz com que alguns produtores ainda priorizem castas locais como Long Yan (olho de dragão) e a Beichun, mas o maior crescimento, e os melhores resultados, são alcançados pelas tradicionais castas francesas, em especial Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Chardonnay. Com o crescimento da demanda interna, a tendência é que as empresas nacionais se movimentem para supri-la, o que sem dúvida levará a produção de grandes volumes de vinhos de qualidade duvidosa, mas levará também a investimentos e a procura de novos terroirs. Em um país tão grande como a China por certo haverá regiões propícias a produção de vinhos de grande qualidade, sendo apenas uma questão de tempo até a descoberta das mesmas.
Para nós, brasileiros, resta-nos explorar este potencial comercial, trabalho que, ainda que a passos curtos, nossos produtores têm feito, e também aguardar, para um futuro não tão distante, o desembarque de rótulos chineses em nossas prateleiras. Mas por favor, hein, os originais! Nada de cópias!
Abraços e até a próxima!
Este texto, de minha autoria, foi publicado originalmente no portal Gastrovia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vinhos do Leste Europeu

Vinhedos da costa da Dalmácia, Croácia, com a uva local Dingac
Segue texto que publiquei na edição de nº 18 da Classe A Magazine, com um pouco de informação sobre os atraentes vinhos do leste europeu. Espero que gostem!

"Os Tradicionais Vinhos Europeus (do leste)

Nestas páginas você já leram artigos sobre Espanha, França, Portugal, Itália, e até sobre a Hungria, mas nesta edição, minha proposta e ir um pouco mais a fundo na vitivinicultura dos países que, até o princípio dos anos 90, estavam do outro lado da cortina de ferro.

Estamos falando aqui de países como a própria Hungria, mas também Polônia, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Sérvia, Albânia, entre outros tantos. Uma característica partilhada por todas estas nações, além dos nomes de uvas e regiões quase impronunciáveis, é a marcada influência que o período comunista teve sobre seus vinhedos e os vinhos ali produzidos. Após a Segunda Guerra Mundial, o comunismo fez com que países que tinham uma rica e antiga história na produção de vinhos, vissem do dia para a noite todos os seus vinhedos e vinícolas passarem ao controle estatal.

Visando atender a demanda interna do bloco comunista, passou-se a focar a quantidade em detrimento da qualidade, com vastas áreas de plantação em terrenos planos e férteis, aptos a mecanização. Cultivos tradicionais foram abandonados, ou, na melhor das hipóteses, relegados a um segundo plano, e tiveram que aguardar por décadas pelos primeiros sopros de renovação.

Com o fim do bloco comunista, no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, lentamente começaram a surgir sinais de recuperação. Aos poucos, com os vinhedos e vinícolas voltando às mãos de proprietários privados, foi possível chamar a atenção de outros países, e buscar recursos externos para a modernização e reestruturação dos vinhedos. Num segundo momento, o ingresso de alguns destes países na União Europeia acelerou este processo, abrindo ainda novos mercados para os vinhos ali produzidos.

Falando um pouco sobre alguns destes países, vamos começar por aqueles que já estão presentes no mercado brasileiro. Inicialmente temos a Hungria, com vários rótulos em nosso mercado, e talvez a mais dinâmica nação do leste europeu em termos de atuação nos mercados externos. Isso se deve, em parte, a grande fama de seu principal produto, os vinhos doces da região de Tokaj-Hegyalja. Ainda antes do fim do comunismo a região já atraía investimentos estrangeiros, em função principalmente da fama que estes vinhos tinham na Europa. Porém, hoje podemos encontrar produtos de outras regiões e estilos, como por exemplo os ótimos tintos da região de Villany, no sul do país, de castas como a Cabernet Franc, Kékfrankos, Portugueiser, entre outras, além de alguns exemplares secos da própria região de Tokaj.

Encontramos também em nosso mercado alguns vinhos da Croácia e da Eslovênia. Esta, com maior participação de castas conhecidas fora de suas fronteiras, como a Pinot Noir e a Robola (Ribola Gialla, na Itália), enquanto que aquela nos apresenta sobretudo castas autóctones, ou seja, castas próprias daquele país, como a tinta Plavac Mali e a branca Posip, ambas da região de Peljesac.

Aliás, outra característica importante, já mencionada acima, é a nomenclatura das uvas e regiões, que nos brindam com nomes como Crljenak Kaštelanski, uva tinta croata, mais conhecida como Primitivo, ou Krk, pequena ilha produtora de vinhos no litoral croata, só para citar dois exemplos. Caso você esteja tentando pronunciar estes nomes, desista, sem conhecer o idioma não dá!

Alguns países em especial, como a Bulgária e a Romênia, já dispõem de um volume mais expressivo de vinhos de alta qualidade, e tem se feito presentes em diversos mercados externos. Deve ser só uma questão de tempo até que encontremos em nossas prateleiras uvas como Melnik e Mavrud, da Bulgária, ou regiões como Cotnari e Dealul Mare, da Romênia. Outros, como a Eslováquia, a República Tcheca, ou aqueles que compunham a antiga Iugoslávia, ainda tem um caminho a percorrer, mas não se surpreende se, em breve, suas garrafas de vinho tiverem muito mais consoantes nos rótulos!"
Grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Profissão Sommelier no Portal Gastrovia


Desde semana passada, este blog está elencado no site Gastrovia, do qual, a partir de agora, sou também colaborador. Visitem o site, por este link, e acompanhem!
O Gastrovia é um portal que apresenta noticias e novidades sobre gastronomia e turismo, em textos sempre de muita qualidade. Recomendo!
Você pode também curtir a página do Facebook, clicando aqui.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Bacalhau e Vinhos Verdes no Desafio ao Vinho!


Olá a todos!
Semana passada, atendendo ao convite do amigo Daniel Perches, do blog Vinhos de Corte, participei de seu programa na TV Geração Z, em um gostoso bate papo sobre harmonização. Os alvos da vez foram pratos a base de Bacalhau e vinhos portugueses, da região dos Vinhos Verdes. O resultado você pode conferir nos dois vídeos abaixo.
Espero que gostem!

Desafio ao Vinho Parte 1


Desafio ao Vinho Parte 2


Grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

"Você Conhece a Zweigelt?" na Classe A Magazine

Olá! Desculpem o longo e tenebroso inverno desde minha última atualização deste blog, mas os últimos meses tem sido de intensos estudos, visando so cconcursos de Sommeliers já disputados, e o Mundial ainda por vir!
Mesmo agora, faço uma atualização meio preguiçosa, compartilhando com vocês um texto que publiquei na edição nº 17 da Classe A Magazine, daqui de Campinas e região. Espero que gostem!
Grande abraço e até a próxima!

"Você conhece a Zweigelt?

Primeiramente, se você por acaso acompanha meu blog, o profissaosommelier.com, já deve ter visto por lá um post com este mesmo título. Mas este não é o mesmo texto, “copiei” de mim mesmo apenas o título, adequado ao tema aqui escolhido.

Nosso tema hoje são uvas, ou como nos referimos a elas no mundo do vinho, castas. Mas não quaisquer castas, e sim aquelas menos comuns, muitas vezes absolutamente desconhecidas do grande público, e que apresentam, comumente, os mais surpreendentes resultados.

Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Syrah e Pinot Noir são castas que produzem ótimos vinhos, na verdade, alguns dos melhores e mais caros do mundo! Porém, o que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho?

Em um mercado cada vez mais padronizado, com produtores em busca de vendas fáceis, e apresentando vinhos dentro de um perfil dito “internacional”, a saber, vinhos de bom corpo, macios, frutados, e com uma sensível dose de madeira, é um mais do que bem vindo refresco quando encontramos nas prateleiras rótulos que ostentam nomes como Carignan, Mourvédre, Teroldego, Zweigelt, Bastardo, Caladoc, Vermentino, Plavac Mali, e etc. etc. etc...

Aqui, temos dois tipos diferentes de vinhos feitos com estas, e muitas outras, castas; aqueles feitos por enólogos criativos e ousados, dispostos a experimentar novos sabores em novos terroirs, e aqueles tradicionais, de regiões e/ou países pouco conhecidos nos mercados internacionais.

No primeiro grupo, encontramos principalmente vinhos do novo mundo, Chile, Argentina, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia, Estados Unidos, Brasil e Cia., embora haja também curiosas experiências em nações mais tradicionais, como Portugal, Itália e Espanha. Estes são em geral vinhos de boa qualidade, modernos, e que buscam exprimir a tipicidade destas pouco usuais castas em terroirs específicos. São em geral bons vinhos, e que valem muito a pena pela oportunidade de provar diferentes expressões de países produtores já conhecidos.

Porém, é no segundo grupo que encontramos as opções mais curiosas e instigantes! Afinal, falamos aqui de castas cuja origem, estilo e cultivo estão intimamente ligados às suas respectivas regiões, vinhos autênticos, típicos, de personalidade. Delícias como as supracitadas Zweigelt (Áustria), Bastardo (Douro, Portugal), Vermentino (Sardegna, Itália) e Plavac Mali (Croácia), ou ainda Poulsard, Trousseau e Savagnin (Jura, França), Encruzado, Antão Vaz e Ramisco (Portugal), Mencía e Bobal (Espanha), Aglianico e Piedirosso (Itália), Agiorgitiko e Assyrtico (Grécia), Humagne Rouge e Petite Arvine (Suíça), e tantas outras, que não seria possível mencionar em dez artigos. Muitas destas castas perderam espaço nos vinhedos, por conta de questões comerciais, e de um público sempre em busca de nomes conhecidos nos rótulos. No entanto, com o crescimento do mercado consumidor, e, principalmente, com o aperfeiçoamento destes consumidores, o interesse pelo menos óbvio aumenta a cada dia. Regiões e vinícolas que antes atendiam apenas aos mercados internos, hoje se preocupam com exportações e a conquista de novos mercados; importadoras, antes focadas nos produtos mais conhecidos, reconhecem hoje a importância de contar com produtos particulares em seus catálogos.
Você, que assim como eu é, antes de qualquer coisa, um consumidor, valorize estes produtos, prove, deguste, divulgue, descubra. Todo novo vinho, todo novo sabor, toda nova casta é uma descoberta e um aprendizado. Encontrando um nome estranho e pouco usual nas prateleiras, compre sem medo, e partilhe esta experiência nova com seus amigos!  Nada contra o seu vinho do dia a dia, seja ele qual for, mas não está na hora de ampliar um pouco o repertório?"

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Como parte de nossa nova parceria com a LATAM Travel Shopping Frei Caneca , teremos no mês de Novembro/2016 um imperdível tour por alguma...