terça-feira, 24 de julho de 2012

Portugal na Classe A Magazine!

Olá Pessoal
Partilho com vocês, a matéria abaixo, de minha autoria, publicada na edição 16 da Classe A Magazine, daqui da região de Campinas. Espero que gostem!!!



"Portugal – Descubra a Diversidade

"O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo."

Foi esta frase de Fernando Pessoa, na obra Portugal Entre Passado e Futuro, que escolhi para abrir a Carta de Vinhos no novo Emporium do Bacalhau, em Campinas, com mais de 230 rótulos daquele país; e se a frase em questão se aplica ao povo português, por certo se aplica da mesma forma aos seus vinhos, frutos que são da cultura de um povo.

Portugal, com seu território relativamente pequeno, em especial se comparado a uma nação de dimensões continentais, como a nossa, possui um dos, senão o maior, patrimônio vitivinícola da Terra, com quase 300 espécies diferentes de uvas viníferas. Esta variedade toda, aliada ainda as diferenças de solo, clima e cultura das diferentes regiões de Portugal, resultam em uma ampla variedade de estilos de vinhos, adequados aos mais variados momentos e ocasiões.

Muito além do vinho do Porto, dos Vinhos Verdes mais simples, e dos tintos alentejanos, Portugal nos oferece uma miríade de sabores e sensações. Podemos começar pelos ótimos espumantes método clássico, provenientes principalmente da Bairrada, de Távora-Varosa e do Douro, seguindo para os brancos frescos do Minho, os cortes brancos do Douro, aristocráticos e elegantes, os varietais e cortes com a Arinto, onipresente em diversas regiões, os brancos minerais de Encruzado, sobretudo do Dão, e os macios alentejanos, da Antão Vaz.

Seguindo aos tintos, temos os belos vinhos feitos com a Castelão, em Setúbal, que pelas mãos de talentosos enólogos mostra todo seu potencial após alguns anos de guarda, o duo Aragonês/Trincadeira do Alentejo, os elegantes cortes de Lisboa, os longevos tintos do Dão, com Touriga Nacional, Jaen, e outras castas, os rústicos e deliciosos tinto de Baga, da Bairrada, e os cada vez mais grandiosos tintos de mesa do Douro, produzidos com as mesmas uvas do Porto.

Nos doces e fortificados, um capítulo a parte, onde além do tradicional Porto tinto, encontramos os deliciosos Portos brancos, os ótimos Moscatéis, de Setúbal e do Douro, e o Madeira! Ah, o Madeira... Talvez o maior tesouro enológico de Portugal... Se você ainda não conhece, prove! Um Boal 10 Anos, ao fim de uma refeição, ou um Sercial 10 Anos como um aperitivo de alta classe.

Se até aqui você já se sente perdido ou confuso com tantos nomes e denominações diferentes, fique tranquilo... A melhor parte da aventura e provar e conhecer na prática. Além do mais, podemos também contar com uma boa dose de nomes conhecidos, de castas internacionais, que tem apresentado bons resultados em solo português, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, e até algum Pinot Noir, que vem complementar o panorama com castas típicas como a Borrado das Moscas, Rabo de Ovelha, Esgana Cão, Negra Mole, Tinta Miúda, e outras tantas.

Além das regiões tradicionais, facilmente encontradas aqui no Brasil, vale também manter a atenção para regiões que só recentemente começam a apresentar vinhos de mais qualidade, ou ainda regiões e denominações pequenas, difíceis de encontrar até em Portugal. Fique atento aos vinhos do Algarve, Trás-os-Montes, Colares, Carcavelos (belos vinhos doces), Açores, e tantas outras, que valem, e muito, pela tipicidade e exclusividade.

Seja com os tradicionais pratos portugueses, como o Bacalhau, as alheiras e farinheiras, o leitãozinho da Bairrada e a doçaria conventual, ou ainda com a diversificada cozinha internacional, os modernos vinhos portugueses são sempre uma aposta certeira, em belas e novas sensações e descobertas. Descubra você também o sabor da diversidade, descubra os vinhos de Portugal!"
Espero que tenham gostado!

Grande abraço e até a próxima!

domingo, 15 de julho de 2012

Post nº 100!!! Degustando o Passado!

Aos trancos e barrancos, chego ao centésimo post deste blog! Agradeço aqueles que tem acompanhando este inconstante trabalho!
Para este post, havia eu já há algum tempo reservado um tema em particular, devido, principalmente, a enorme carga nostálgica e sentimental aqui envolvida. Sem deixar de falar de vinhos, este post, de forma singela, rende homenagem póstuma ao meu pai, António Carlos Arrebola, falecido em dezembro, e sua influência sobre minha escolha profissional.
Primeiramente, cabe esclarecer que o vinho não foi minha primeira escolha profissional, nem a segunda... E também que, embora minha família tenha raízes européias, não eram, nem meu pai, nem meu avô, consumidores habituais de vinho. No entanto, a primeira impressão positiva que tive a respeito desta bebida, e que carreguei comigo por muitos anos, surgiu a partir de um bate papo familiar, entre meu pai e meu avô  no distante ano de mil novecentos e qualquer coisa, quando eu tinha aí meus 10 anos de idade.
Nesta conversa, discutiam meu pai e meu avô os então recém descobertos benefícios do vinho a saúde, assunto que despertou-me o interesse. No dia seguinte, ao voltar da escola, repeti a um colega de classe todo o "conteúdo" absorvido na noite anterior. Ainda que de modo insipiente, este foi meu primeiro contato "técnico" com o mundo do vinho, e tudo aquilo que ele tinha a oferecer.
Outro aspecto que me influenciou foi a "adega" de meu pai. Coloco entre aspas, pois a referida adega nada mais era do que um móvel de madeira, no cômodo errado, recebendo os primeiros raios de sol da manhã, onde meu pai armazenava os vinhos que ele havia ganhado e adquirido ao longo dos anos. E é desta adega que saiu este pedaço do nosso recente passado enológico da foto aí embaixo.
Vinhos de outra época...
Ao limpar a adega, deparei-me com estes rótulos, que já há algum tempo me despertavam curiosidade; afinal, como teriam sobrevivido ao peso dos anos estes vinhos, relativamente simples em sua origem?
A oportunidade de colocá-los a prova veio por intermédio de um convite do Sr. Cristiano "Vivendo Vinhos" Orlandi, para participar de uma degustação para o Guia Brasil às Cegas, em fase de elaboração por ele e pelo Beto "Papo de Vinho" Duarte. A degustação deu-se no Espaço Rosso Bianco, do amigo Tiago Ribeiro, e ao final, aproveitei para colocar os meus velhinhos na mesa e partilhar o momento com os presentes.
Algumas boas surpresas! Para começar, embora nenhum dos vinhos estivesse em perfeitas condições, nenhum estava totalmente decrépito. Todos, inclusive os populares Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 e Almadén Cabernet 1996. Seguem minhas observações, segundo a foto da esquerda para a direita:
- Forestier Cabernet Franc 1996 (Brasil) : Ainda com alguns taninos e vivacidade, aromas francamente evoluídos, mas não desagradáveis.
- Cabernet San Carlos NV (Brasil) : Sei que esta garrafa é dos anos 80, embora não seja possível precisar a safra. Embora meio morto em boca, no nariz era o único a ainda apresentar evidentes notas frutadas.
- Baron de Lantier Cabernet Franc 1986 (Brasil) : Sempre citado como um exemplo da vitivinicultura de outros tempos, com rusticidade na medida e potencial de guarda. Era o melhor da série, ainda vivo, com taninos presentes e acidez agradável.
- Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 (Chile) : Bom, não era um grande vinho em 1995, e não o é agora, mas sobreviveu, e estava perfeitamente potável.
- Almadén Cabernet 1996 (Brasil) : Vale o texto acima. Apenas apresentava um pouco mais de corpo.
- Conde de Foucauld Cabernet 1986 (Brasil) : No nariz menos expressão que o Baron de Lantier, mas em boca igualmente agradável, com taninos ainda vivos.
- Marchesi di Pallavicini NV (Itália) : Também dos anos 80, este vinho vêneto apresentava acidez viva e um fim de boca elegante. No contra-rótulo não consta nome do produtor ou safra, apenas que era importado pela Expand...
- Corte in Poggio 2000 Vino da Távola (Itália) : Muito jovem, muito simples, mas agradável.
Fiquei feliz em observar a resistência, em especial dos mais antigos, que sobreviveram a quase 30 anos, armazenados inadequadamente, sendo transportados com alguma frequência, e sem nenhum controle de temperatura.
De minha parte, foi também um momento de introspeção, de agradecer aos incentivos que, ainda que inconscientemente, meu pai me deu, e que me trouxeram a este ponto de minha carreira como Sommelier. Obrigado pai, pela formação, pelos ensinamentos, pela constante presença, e também pela experiência proporcionada, nestas garrafas cheias de vinhos, histórias, memórias e lembranças...

sábado, 2 de junho de 2012

Encontro de Vinhos Chega a Campinas!!!

Bom, já faz algum tempo que não escrevo por aqui não é? Mas, antes tarde do que nunca! Para quem vive e trabalha aqui no interior, é um fato até corriqueiro que a maior parte dos bons eventos do mundo do vinho acabam se concentrando nas capitais, e apesar (ou talvez por conta disso) de Campinas estar a menos de 100km de São Paulo, não é incomum que os grandes eventos, bem como as visitas de produtores, acabem restritas a capital.
Porém, devido a maior importância que a economia da região tem a cada dia no mercado do vinho, já há alguns anos tem aumentado frequência de produtores, enólogos e afins por aqui, e tivemos inclusive o florescimento de uma bem sucedida feira de vinhos, a MIV, Mostra Internacional do Vinho de Campinas.
 
Só faltava um feira vir de São Paulo para cá. Faltava, não falta mais! Dia 23 de junho, pela primeira vez será realizada em Campinas uma edição do Encontro de Vinhos, feira organizada pelos amigos Daniel Perches, do blog Vinhos de Corte, e Beto Duarte, do Papo de Vinho. Depois de algumas edições muito bem sucedidas na capital e uma em Ribeirão Preto, este ano os dois decidiram sair pelo Brasil, com edições no Rio de Janeiro, Curitiba e Campinas.
O Encontro de Vinhos Campinas será no Casarão, como eu disse no dia 23. Mais informações, bem como os pontos de venda, podem ser encontrados no site, neste link aqui.
Como parte das atividades do Encontro de Vinhos, apresentarei um degustação intitulada "Ícones da Viticultura Italiana", com oito vinhos das mais importantes denominações. Se você estiver em Campinas nesta data, não perca!!




































Em tempo, esta degustação conta com o apoio da Cantu Importadora, e ainda das importadoras Decanter, Ravin e Interfood Todo Vino.
Abraços e até lá!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um Pouco Mais de Áustria...

Vinhedos de Burgenland
Já falei um pouco sobra a Áustria e seus vinhos em um post anterior (Você Conhece a Zweigelt?), e ali também comentei sobre alguns vinhos degustados a convite a The Special Wineries, importadora especializada nos vinhos daquele país. Dia destes tive a oportunidade de participar de um almoço organizado pela importadora, como parte de uma série de eventos para divulgação dos produtos austríacos realizada em várias cidades do Brasil. Esta série de eventos contou com o apoio do Departamento Comercial do Consulado Geral da Áustria, e apresentou, inclusive, vinhos de outras importadoras, reforçando o caráter institucional dos eventos.
Informações muito relevantes a respeito da cultura do vinho na Áustria podem ser encontrados no site da Austrian Wine, bem como no sita da importadora, The Special Wineries.
Contamos neste almoço com a presença da simpática Kathrin Schreiner, um das proprietárias da Sonnenmulde, uma das vinícolas apresentadas. Porém, sempre que solicitada, Kathrin mostrou-se muito solicita em esclarecer dúvidas sobre a Áustria como um todo, demonstrando a clara visão de que os demais players do mercado, sejam vinícolas, importadoras, negociantes ou o próprio governo, são antes aliados do que concorrentes. Fica a dica para nossas vinícolas...
O painel contou com 6 vinhos, alguns ainda não disponíveis no Brasil. O almoço aconteceu no Bellini Ristorante, em Campinas, com o serviço de vinhos sob responsabilidade de seu competente sommelier, Itamar. Seguem minha observações sobre os vinhos:

1 - Burgundersekt Extra Brut 2004
Curioso espumante, produzido pela Graf Hardegg, em Weinviertel, Niederösterreich, ao norte de Viena. A vinícola é biodinâmica, e conta com mais de 400 anos de tradição. Este espumante Método Clássico é produzido a partir das castas Pinot Noir e Chardonnay, e passa por um período de amadurecimendo sur lie de 36 meses. Tem boa acidez e equilíbrio, com aromas típicos de brioche e leveduras. Bom perlage e persistência, mas com as bolhas um pouquinho grandes de mais para um Método Clássico, porém nada que chegue a comprometer o resultado final.
3D+

2 - Lois Grüner Veltliner 2009
Do produtor Fred Loimer, de Kamptal, este branco biodinâmico apresenta toda a tipicidade desta casta tão ligada a vitivinivultura austríaca. Nariz fino, com boa complexidade, maças verdes, algo de especiarias em boca, ervas aromáticas, reforçado pela adequada acidez e equilíbrio.
3D+

3 - Zöbing Riesling 2009
No post anterior sobre a Áustria já havia mencionado este vinho, e esta nova degustação confirmou sua qualidade. Produzido pelo Weingut Hirsch, em Kamptal, apresenta um intenso mineral, notas de frutas brancas e amarelas, florais e cítricos. Acidez intensa e agradável, em um conjunto bem seco e elegante.
Aqui vale destacar que, enquanto na Alemanha, e na maior parte dos países, um vinho seco pode ter até 4g/l de açúcar residual, na Áustria este número cai para 2g/l, ou seja, vinho seco é seco mesmo...
4D

4 - Sonnenmulde Rosé Blaufränkish 2010
Primeiro vinho degustado da Sonnenmulde, obtido a partir de uvas plantadas em Neusiedlersee, Burgenland, segundo os princípios da biodinâmica. Agradável e fácil de beber, com típicas frutas vermelhas frescas, ótimo frescor e equilíbrio, médio corpo e média persistência. Só faltou um pouquinho de persistência aromática...
3D+

5 - Sonnenmulde Blaufränkish 2008
Agora um tinto, da mesma vinícola e da mesma casta, com fermentação em inox e estágio em barricas. Um vinho fino e elegante, com frutas negras e vermelhas, leve adstrigência e taninos maduros, macios. Acidez adequada e média persistência. Muito agradável.
4D

6 - Forticus 2005
Eis um vinho que você não espera encontrar na Áustria! Um Merlot 100%, fortificado no estilo Porto, com 3 anos de barrica. Também produzidos pela Graf Hardegg, do espumante acima, este vinho apresentou aroma muito intenso de cacau, chocolate e algo de café. Frutas em compota, como morangos e amoras. Macio e untuoso, com boa acidez e persistência. No mínimo, curioso.
3D+

Bom, espero que tenham gostado, e que, juntamente com meu post anterior, este post possa despertar em vocês o interesse de conhecer melhor os bons vinhos deste encantador país que é a Áustria.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima, com o post nº 100 deste blog!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Degustação - Château Rieussec 1998 e Château d"Yquem 1998

Enfim, os doces! As melhores calorias de qualquer refeição.
Aqui, acompanhando um delicado canapé de foie gras em calda de kinkan e especiarias, e, mais tarde, uma trilogia de brullés, pudemos degustar duas jóias da vitivinicultura bordalesa, mais especificamente da comuna de Sauternes. Embora não hajam registros precisos sobre quando iniciou-se a produção de vinhos doces nesta região, existem indícios que apontam para a comercialização de vinhos doces aqui já no séc. XVII. Sauternes goza de condições muito específicas de relevo e clima, que permitem o surgimento da podridão nobre, a botrytis cinerea, praticamente todos os anos. O relevo e a presença do Ciron, tributário do rio Garonne, garantem as condições muito precisas de umidade e insolação necessárias.
Inicialmente, Rieussec, vizinho de cerca do Château de Yquem.

Esta propriedade pertencia, até a revolução francesa, ao monges Carmelitas de Langon, tendo sido então confiscada e posteriormente vendida a proprietários particulares. Após várias trocas de comando, Rieussec passou, em 1984, ao comando do Baron Eric de Rothschild, proprietário de Lafite. Desde então grandes investimentos tem sido feitos visando a melhora significativa dos vinhos ali produzidos, sempre tendo em mente o grande potencial de seu terroir, muito próximo a Yquem.
As colheitas, desde então, tem sido mais criteriosas, e a vinificação mais bem cuidada, incluindo o uso de barricas novas, e maiores estágios em madeira, sempre visando um vinho de qualidade superior; fato este que se confirma na taça.
A coloração é de um dourado intenso, com bom brilho, e boa consistência. No nariz, um toque cítrico, com casca de limão siciliano, abacaxi em calda, flores brancas, cera e mel de abelhas, além das evidentes notas de botrytis. Em boca, bom frescor, longo, macio e equilibrado, com mel evidente no retro olfato. Excelente vinho.
5D
E por fim, o ícone máximo dos vinhos doces da França, o Château d'Yquem.

Pertencente aos ingleses até 1453, quando passou ao controle francês, Yquem sempre foi reconhecido como a melhor propriedade da região. De 1785 até 1999 foi controlado pela família Lur Saluces, que levou este vinho da condição de grandioso a condição de icônico, que ele ocupa até hoje, Desde 1999 o controle acionário pertence ao grupo LVMH, e desde 2004 cabe a Pierre Lurton a direção da vinícola.
A safra de 1998 apresentou alterações climáticas que levaram a duas colheitas em Yquem, em setembro e outubro, afim de garantir a colheita apenas das melhores uvas. Vale lembrar que esta prática é comum no Château, que já chegou a ter 14 colheitas em um mesmo ano, sempre recolhendo apenas as uvas perfeitamente secas e atingidas completamente pela podridão nobre.
A coloração deste Yquem é de um belo tom dourado, com ótimo brilho, já evocando seu agradável frescor. No nariz, muito complexo, com notas balsâmicas, mel, frutas amarelas em calda, cera, caramelo, tostado, jasmim e flor de laranjeira, além de botrytis. Na boca, denso, cremoso, com bom frescor, quase viscoso, com doçura equilibrada e longo final de boca. Um belo exemplar, que faz jus a fama deste grande vinho.
5D+


Château d'Yquem ao fundo, com uma parte de seu privilegiado terroir
 A impressão geral deste painel foi bem positiva. Conforme eu já havia mencionado no primeiro post desta série, eu já havia degustado a maior parte destes vinhos, porém em ocasiões diferentes, nunca todos em uma só ocasião, como aqui. Minha opinião, em parte, permanece; grandes vinhos são grandes vinhos, de fato, porém com preços que não correspondem perfeitamente a suas qualidades. Afinal, para ficar no caso destes últimos dois, Yquem é um grande vinho sim, superior ao Rieussec sim, mas não 4 vezes melhor, embora seja, nesta safra em especial, 4 vezes mais caro.
Não me ajoelho e faço reverência a estes grandes nomes, mas reconheço que são sim merecedores de sua fama, que foi construída ao longo de séculos, e não em meras três décadas de boas notas recebidas de críticos nacionais! (Sim, isso foi uma crítica aos vinhos californianos endeusados pelo duo Parker/Wine Spectator)
Perceber a constância, a qualidade e a elegância deste belos vinhos só reforçam meu respeito pelos vinhos franceses das denominações mais tradicionais, pois saborear estas especialidades, mais do que saborear bons vinhos, sempre é saborear uma boa dose de história, história muito saborosa, diga-se de passagem!
Bom, espero que tenham gostado deste relato. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Degustação - Château Lafite-Rothschild 2002 e Château Haut-Brion 1999

Apenas relembrando, para quem não acompanhou meus últimos quatro posts, venho apresentando aqui um pouco mais a respeito dos vinhos degustados durante o memorável jantar ocorrido no Olivetto Restaurante e Enoteca em novembro, do qual já passei o cardápio completo em outro post.Agora, encerrando nossa seleção de tintos, mais dois belos Premier Crus, Lafite e Haut-Brion.
Inicialmente, o Château Lafite-Rothschild 2002!

Embora esta propriedade compartilhe o sobrenome com o Château Mouton, ambas são totalmente independentes, pertencendo a ramos separados da família. O Château Lafite em especial é uma propriedade muito antiga, com os primeiros registros a seu respeito datando de 1234. Porém, assim como a Château Latour, apenas no séc. XVII a propriedade passou a gozar de maior prestígio. Nesta época Lafite, Latour e Mouton pertenciam ao mesmo dono, Jacques de Ségur. No princípio do séc XVIII, seus descendentes obtém êxito em fornecer vinho para a casa real, fazendo com que Lafite se tornasse, na época, o vinho favorito da corte francesa. Testemunho da qualidade superior do vinho já nesta época, vem dos escritos do ex-presidente americano Thomas Jefferson, então embaixador da jovem república dos Estados Unidos na França. Após alguns meses de visitas e estudos dos vinhedos e vinhos de Bordeaux, Jefferson inclusive elaborou sua própria classificação de qualidade dos vinhos da região, e apontou como os melhores vinhos justamente aqueles que, mais de 70 anos depois, seriam os quatro Premier Crus Classés originais, Lafite, Latour, Margaux e Haut-Brion.
É importante frisar que durante todo este período, as trocas de comando foram frequentes, como é comum à história de muitas propriedades bordalesas. Foi apenas mais de uma década após a classificação de 1855, mais precisamente em 1868, a o Château Lafite foi adquirido pelo Barão James de Rothschild, e passou, então, a ostentar seu sobrenome.
Hoje a propriedade é administrada pelo Barão Eric, que foi o responsável pelas recentes renovações pela qual o Château passou, com melhoria em sua estrutura, avanços tecnológicos, e aquisição de outras propriedades, na França e fora dela, como por exemplo Duhart-Millon, Rieussec, Viña Los Vascos, entre outras.
Mas, dados históricos a parte, vamos ao vinho!
A safra 2002 não foi fácil, com um inverno quente e seco, e temperaturas baixas na época da floração, o que levou a quedas de rendimento, devido ao desenvolvimento desigual das videiras. Melhoras mais próximas a colheita permitiram, apesar das quantidades menores, obter-se, ainda assim, vinhos de boa qualidade, densos, com taninos fechados, e bom potencial de guarda. A coloração ainda é de um rubi intenso, com poucos sinais de evolução; o nariz é fechado, demora a se mostrar, com notas balsâmicas, especiarias doces, castanhas e um leve floral. Em boca, ótimo frescor, fino e agradável, com taninos de boa qualidade, elegantes e bem colocados, dando suporte a um longo fim de boca. Um vinho que definitivamente ainda precisa de alguns anos de adega para mostrar o seu melhor.
5D+
Em seguida, o único Premier Cru de fora do Médoc, o Château Haut-Brion!

A propriedade existe como produtora de vinhos de alta qualidade em Péssac-Léognan desde o séc XV, e desde então passou pelas mãos de cinco famílias. Vale destacar que, na "classificação" informal feita por Thomas Jefferson, Haut-Brion era seu favorito. A propriedade foi adquirida em 1934 pelo banqueiro americano, filho de uma francesa, Clarence Dilon, e é administrada desde 2008 por seu bisneto, Príncipe Robet de Luxembourg. Outra característica importante deste vinho é seu caráter único, com marcadas notas animais, que o tornam, em geral, muito fácil de ser reconhecido em meio aos demais Premier Crus, mesmo às cegas. Isto se deve a presença de Brettanomyces, uma cepa de levedura que, embora muitos considerem um defeito, em pequenas quantidades pode acrescentar uma significativa complexidade aromática ao vinho. Aqueles que defendem a presença de Brett como um componente de complexidade, usualmente citam Haut-Brion como exemplo; afinal, seria impossível imaginar este vinho sem seu marcado caráter olfativo.
A safra de 1999 em especial foi marcada por uma série de eventos meteorológicos extremos, mas resultou, ao final, em vinhos de boa qualidade. Este Haut-Brion em particular apresenta coloração rubi intensa, com discretos reflexos grená; no nariz, uvas passas, notas animais, estábulo, especiarias e flores, tudo muito bem integrado; em boca, intenso, com muitos e finos taninos, macio, potente e longo.
5D+
Bom, espero que tenham gostado. No próximo post, sobremesas, com dois vinhosinhos da região, Château Rieussec e Château d'Yquem, ambos 1998. Até lá!
Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Degustação - Château Mouton-Rothschild 1998 e Château Latour 1999

Ok, vamos então aos Premier Crus!! Começando por aquele que é praticamente um neófito no grupo, o Château Mouton-Rothschild.
O vinho...

...e o Château.

Como muitos de vocês devem saber, os vinhos da margem esquerda de Bordeaux foram classificado em 5 níveis de qualidade em 1855, por ordem de Napoleão. A classificação completa, sua história, e mais uma série de informações mais detalhadas podem ser encontradas no site oficial dos Grands Crús Classés. Porém, nesta classificação inicial, apenas 4 propriedades receberam a honraria máxima, e Mouton Rothschild não era um destes! Ao Château Mouton coube encabeçar a listas do 2eme Crús, fato que não foi muito bem aceito pelo seu proprietário, Baron Nathaniel. O Barão havia comprado a propriedade 2 anos antes, e alterado seu nome, que até então era Château Brane-Mouton, para o nome atual. O objetivo do Barão então era tão somente servir seu próprio vinhos aos seus convidados, de modo que seus descendentes diretos não demonstraram grande interesse pelo negócio do vinho, situação que permaneceu até 1922, quando o Baron Philippe de Rothschild, então com apenas 20 anos de idade, assumiu a vinícola com entusiasmo renovado, e com o firme proposito de levar Mouton ao status de Premier Cru, propósito bem representado pelo lema então adotado pela vinícola; "Premier ne puis, Second ne daigne, Mouton suis!" (Primeiro eu não posso ser, Segundo eu não quero ser, Mouton eu sou!).
Finalmente, em junho de 1973, após anos de intenso lobby, Baron Philippe finalmente consegui que a classificação de 1855 fosse alterada pelo ministério da agricultura, incluindo Mouton-Rothschild entre os Premiers Crus. Esta foi a única alteração feita então, e nenhuma nova mudança foi feita desde 1973. Se o status é merecido ou não, isso já é uma longa história... Não provei safras o suficiente deste ou dos demais 1er Crus para poder emitir uma opinião a respeito, mas, merecido ou não, o fato é que para fins de promoção e, principalmente, preço, Mouton é um 1er Cru Classé.
Mas, vamos ao que importa, o vinho. Começando pelo rótulo, que traz uma pintura do artista mexicano Rufino Tamayo. Aliás, esta é outra curiosidade dos vinhos de Mouton; desde 1945 a cada ano um artista diferente é convidado a ilustrar seus rótulos. Esta honra já coube a gente do calibre de Pablo Picasso, Salvador Dalí, Andy Warhol, entre outros.
Já o líquido propriamente dito, apresenta coloração rubi de média/alta intensidade, com discretos reflexos grená. No nariz, complexo e fino, com leve notas minerais, fruta negra, groselha e especiaria, além de notas de caramelo e balsâmicas. Em boca, é macio, fresco, elegante, sápido, com taninos finos e abundantes e longa persistência, evocando notas de especiarias no fim de boca.
5D
Em seguida, Château Latour 1999!


Em primeiro plano a "tal" da torre, com o Château ao fundo.

A propriedade cultiva vinhas desde 1331, porém a partir do séc. XVII é que a propriedade passou a gozar de mais destaque, em função de seu proprietário na época, proprietário também dos Châteaux Lafite e Mouton. Depois de várias mudanças de proprietário, em 1993 Latou finalmente voltou a mão francesas, tendo sido adquirido por François Pinault, proprietário até os dias de hoje. Com 78 ha de vinhas, com uma média de 40 anos de idade, é reconhecido pela sua potência e fineza.
Este 1999 em particular apresenta uma intensa coloração rubi, apenas com laivos de grená, denotando ainda juventude. No nariz, concentração, com tabaco, caixa de charuto e grafite, fruta negra, cassis, e ainda notas balsâmicas, muito complexo. Em boca é intenso, complexo, com taninos firmes, finos e abundantes, sápido e fresco, com muitas frutas no longo retro olfato. Meu favorito!
5D+
Bom, espero que tenham gostado. No próximo post, Lafite e Haut Brion. Lembrando que estes vinhos, embora esteja disponíveis em várias importadoras, foram fornecidos para este evento em particular pela Wine Stock, importadora especializada em vinhos franceses, e que apresenta preços muuuito competitivos.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Degustação - Château Lynch-Bages 1999 e Le Petit Cheval 1999

Château Cheval Blanc

Ok, após uma pequena pausa de final de ano, vamos adiante conforme o prometido no post anterior, agora com os vinhos tintos, o começando com dois exemplares de elevada qualidade, por certo entre os grandes nomes da região.
Inicialmente, o Château Lynch-Bages 1999!

Já havia comentado sobre este vinho aqui, porém da safra 2005. Neste post, que pode ser acessado pelo link, você encontrará mais informações sobre o Château e um pouco de sua rica história. Aqui, vamos direto ao ponto; o vinho.

 Esta safra em especial foi uma boa safra em Bordeaux, mas não excepcional, fato que acaba se destacando com a safra seguinte, 2000, esta sim uma safra acima da média. O Lynch-Bages em especial, sempre uma boa aposta entre os bons Châteaux de Bordeaux, apresentava uma coloração já discretamente evoluida, com reflexos grená em sua coloração rubi de média/alta intensidade. No nariz, fruta fresca, muita especiaria, notas florais, e já alguns aromas terciários, como couro. Uma paleta de aromas que se mostra aos poucos, conforme o vinho respira. Já em boca, um vinho fresco, vivo, com médio corpo, com taninos muito finos, e uma longa persistência.
5D

Agora, atravessando o rio, rumo a Saint-Émilion, rumo ao Château Cheval Blanc.

Aqui uma particularidade, pois trata-se do único grande vinho de Bordeaux a utilizar um percentual superior a 50% de Cabernet Franc em seu corte. Lembrando que o solo da margem direita do rio que corta Bordeaux leva as uvas em geral a uma maturação mais lenta, o que favorece em particular a Merlot, casta de maturação mais precoce que a Cabernet Sauvignon. E foi neste terroir em particular que o Château Cheval Blanc, propriedade criada na sua configuração atual em 1871, atingiu bons resultados com a Cabernet Franc, "irmã" menos encorpada e mais delicada da Cabernet Sauvignon, e que normalmente entra em pequenas quantidades nos vinhos da região, apenas para acrescentar um pouco de frescor e notas aromáticas mais frescas e florais.
A propriedade é classificada desde 1954 com Premier Grand Cru Classé "A", classificação concedida ao vinhedo, e não ao vinho, de modo que o segundo vinho, Le Petit Cheval, também ostenta e denominação Grand Cru Classé em seu rótulo.
O 1999 em especial leva um pouco a mais de Merlot que o normal, em função de particularidades climáticas da safra que favoreceram a maturação adequada desta casta. Apresenta uma coloração rubi com reflexos grená, já denotando alguma evolução, que se confirma no nariz, com fruta vermelha madura, café espresso, caramelo e notas balsâmicas. Em boca, boa acidez, com uma pontinha de álcool, taninos muito finos e longa persistência, com discreta predominância das notas balsâmicas no retro olfato.
4D+
Bom, por hoje é só! Desejo um 2012 pleno de alegrias e realizações para todos que me acompanham por aqui, e nos vemos no próximo post, com Mouton-Rothschild e Latour.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima.

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