sexta-feira, 29 de julho de 2011

Alentejo, Onde Tudo É Feito Com Calma...

Primeiro um esclarecimento; em nossa volta ao continente, a primeira parada foi a Herdade da Comporta, na Península do Setúbal, porém, nosso encerramento da viagem foi também em Setúbal, com os vinhos de António Saramago, portanto, vamos pular a Herdade da Comporta e seguir direto até o Alentejo ok? Quando voltarmos à Setúbal conto um pouco sobre a Herdade da Comporta.
Após nossa visita à Comporta, seguimos diretamente a cidade de Évora, no coração do Alentejo, onde ficaríamos hospedados. Évora é uma cidade antiga com suas origens remontando aos tempos do Império Romano, e tem um belo centro histórico, ainda com muitas construções medievais.




Évora, Linda!!!


Após instalarmo-nos, seguimos para um jantar no Convento do Espinheiro, belíssimo hotel, um dos mais luxuosos de Portugal, onde desfrutamos de um delicioso jantar na adega do convento. Ali pudemos contar com a presença de Cristiano Santos, Sommelier do hotel, e de Duarte Leal da Costa, proprietário da Ervideira, vinícola de Reguengos de Monsaraz, e profundo conhecedor da delicada química envolvida na produção de grandes vinhos.



Entrada do Convento do Espinheiro

O jantar foi uma oportunidade de aprendizado intenso, pela presença de Duarte, e ainda de degustar bons vinhos acompanhados de boa comida. Os pratos eram todos releituras contemporâneas de clássicos alentejanos, abarcando ingredientes como as migas, o porco preto, farinheiras e os delicados e “pouco calóricos” doces conventuais, todos preparados com maestria pelo Sous-Chef Bouazza Bouhlani. Já quanto aos vinhos provados, destaco os seguintes:

1 – Vinha d’Ervideira Espumante Bruto NV
Corte das castas Perrum e Antão Vaz, leve e agradável, macio e persistente.

3D

2 – Conde d’Ervideira Reserva Branco
Desculpem, mas não anotei a safra. Trata-se de um Antão Vaz, amadurecido em barricas novas, com o processo de batonnage, o que lhe confere maior cremosidade e complexidade aromática. Notas de baunilha e fruta bem integradas, com média acidez e longa persistência.

3D+

3 – Scancio Reserva 2008
Obra de António Saramago, em parceria com Arthur Azevedo, da ABS-SP, e José Carlos Santanita, organizador do Portugal Wine Expert e desta viagem. Um corte de Grand Noir e Alfrocheiro, com 12 meses em barricas. Nariz austero, com notas da madeira, muita fruta na boca, fino e longo.

4D

4 – Scancio Private Selection 2008
Corte de Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouschet, com 24 meses em barricas. Intenso e concentrado, com coco queimado, cassis e framboesa, encorpado, macio, longo, com bom potencial de guarda.

5D



A cara do Alentejo, Arraiolos...

Depois, retorno ao hotel, para uma boa não fim da tarde, um breve passeio por Évora e seus monumentos, bem como a feira da Festa de São João, muito valorizada pelos portugueses, para, no dia seguinte, partir com direção à região do Tejo, antigo Ribatejo.
No próximo post, um pouco mais sobre o Alentejo, suas vinícolas e seus vinhos.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Madeira – Vinícolas Barbeito e Madeira Wine Company

Em primeiro lugar, vale esclarecer que hoje a Ilha da Madeira conta, segundo o Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira (IVBAM), com apenas 7 produtores do Madeira fortificado, embora o número de viticultores seja muito maior. Isto posto, fica claro que, além de um significativo esforço conjunto na divulgação e fortalecimento da marca Vinho da Madeira, cada um há de empreender esforços significativos no sentido de reforçar sua individualidade e particularidade em relação aos demais, fato este que pudemos verificar em nossas duas visitas.
Para começar, Vinhos Barbeito; uma empresa familiar, fundada em 1946, e relativamente pequena. Desde 1991, a Barbeito abdicou da produção e venda de vinhos simples a granel, e passou a dedicar sua atenção a produção e engarrafamento de Madeira de qualidade. Passou também a atuar por meio de uma Joint Venture com a Kinoshita International, importador japonês de vinhos e destilados, o que deu novo fôlego a empresa nesta nova fase, focada mais em qualidade do que em quantidade.





Istalações e Barricas da Barbeitos


Foram degustados ao todo 17 vinhos, dos mais simples, a base de Tinta Negra Mole, aos varietais mais nobres. A curiosidade ficou por conta de quatro amostras de tanque, da casta Tinta Negra Mole, sendo duas da safra 2010 e duas da safra 2008, onde pudemos verificar a influência de dois diferentes processos de vinificação; a maceração e fermentação em lagares, com a presença das cascas, e a bica aberta, onde o mosto é removido e fermentado sem a presença das cascas. Nas amostras mais jovens, o vinho fermentado em lagar apresenta mais intensidade de aromas e sabores, porém, após dois anos apenas, o vinho obtido pelo método de bica aberta, embora menos frutado, apresenta maiores complexidade, equilíbrio e elegância. Seguem as notas de degustação completas:



Ossos do ofício...


Tinta Negra Mole


1 – Rainwater 5 Anos
Da linha mais simples da casa, meio seco, com notas marcadas de frutas secas e boca limpa. Um bom aperitivo. 3D
2 – Island Rich 5 Anos
Também dos mais simples, agora no estilo doce. Ameixa em compota e tostado, com boa acidez e doçura equilibrada. 3D
3 – Tinta Negra 2010, Tanque 77, Lagar
Coloração rubi, frutado e vinoso, leve empireumático, com alguma presença de taninos, meio doce, alcoólico, com média persistência. 3D
4 – Tinta Negra 2010, Tanque 79, Bica Aberta
Pouco aromático, mais doce, mais ácido. Equilibrado, com maior persistência. 3D
5 – Tinta Negra 2008, Casco 720, Lagar
Chocolate amargo, tostado intenso, alguma fruta, bom frescor, meio seco, agradável, com média persistência. 3D
6 – Tinta Negra 2008, Casco 111, Bica Aberta
Mais complexo, casca de laranja e especiarias, leve amargor, meio doce, equilibrado e longo. 3D+
7 – Single Harvest 2000
Meio seco, com 3.061 garrafas produzidas. Aromas de tostados e cítricos. Fresco, sápido, discreto taninos e média/longa persistência. 3D+
8 – Colheita 2002 Single Cask
Doce, com 1.035 garrafas produzidas. Frutas amarelas em compota, ótima acidez e equilíbrio. 3D+
9 – Colheita 1995 Single Cask
Meio doce, com 988 garrafas produzidas. Coloração mais intensa, com flores e especiarias, ótima acidez e longa persistência. 3D+


Castas Brancas


1 – VB Reserva
Meio seco, com 2.478 garrafas. Pouco usual corte de Verdelho (60%) e Boal (40%). Nariz agradável e austero, menos acidez e mais estrutura, com um discreto amargor. 3D
2 – Verdelho Old Reserve 10 Anos
Quase seco, com chocolate ao leite, nozes e cravo. Sápido, com bom fresco e sensação de boca limpa. 3D+
3 – Boal Old Reserve 10 Anos
Meio doce, com um nariz mais austero, frutas secas e cristalizadas. Leve chocolate em boca, agradável e equilibrado. 3D
4 – Malvasia Old Reserve 10 Anos
Doce. Leve mineral e marcadas notas oxidativas, frutas secas, laranja, boa acidez e persistência. 3D+
5 – Malvasia 2000 Single Cask
Doce, com 980 garrafas engarrafadas em novembro/2010. Mineral bem marcado, com uma doçura gostosa e equilibrada. Média/longa persistência e retro olfato evocando laranjas. 4D
6 – Sercial 1988 Frasqueira
Meio seco, com 900 unidades engarrafas em janeiro/2011. Nariz delicado, com notas florais e oxidativas. Sápido, equilibrado, com longa persistência. 4D
7 – Boal 1978
Meio doce, com 618 unidades engarrafadas em janeiro/2011. Achocolatado, crème anglaise, frutas secas, boca cheia, jovem, longo, com leve adstringência e retro olfato de manga verde. Muito bom. 5D
8 – Malvasia 20 Anos
Meio doce, 874 unidades engarrafadas em novembro/2010. Intenso, etéreo, fresco, equilibrado e harmônico. 5D
Depois desta “pequena” sequência, um rápido almoço a beira mar, com o típico peixe espada preto, acompanhado de um delicado molho de maracujá e banana, todos ingredientes tradicionais da Ilha; e a seguir, Madeira Wine Company.


Entrada da Madeira Wine Company


A Madeira Wine Company surgiu em 1913, como Madeira Wine Association, sendo então uma associação comercial, que visava concentrar os esforço comerciais de vários produtores sob uma única bandeira. Com o tempo, mais e mais empresas juntaram-se a associação, que veio a se tornar uma empresa de fato, proprietárias das marcas Blandy’s, Leacock, Cossart-Gordon e Miles, a mais antiga datando de 1760. Desde o princípio dos anos 80 a família Blandy, residente na ilha desde 1811, assumiu o controle da empresa, e constituiu em 1989 uma sociedade com a família Symington, tradicionais produtores de vinho do Porto, o que trouxe um novo impulso as vendas da MWC.
As instalações da MWC são grandes para os padrões da Ilha, contando inclusive com sua própria tanoaria, e uma grande armazém climatizado em “agradáveis” 38°C, a fim de permitir aos vinhos, quer seja em tanques de epóxi, quer seja em cascos de carvalho, desenvolver seu caráter típico.


Tonéis de vinho envelhecendo a "agradáveis" 38°C


Para a degustação, 6 vinhos representativos das diversas linhas da casa, conforme segue.
1 – Duke of Clarence Rich
Vinho da linha básica da Blandy’s, feito a partir da casta Tinta Negra Mole, e envelhecido por três anos. Oxidativo marcado, figos e caramelo queimado, correto. 3D
2 – Alvada 5 Years
Nova linha da Blandy’s, com um visual mais moderno, buscando atingir novos consumidores. Doce, com notas de caramelo mais intensas, bem fresco e estruturado, sem deixar de lado o equilíbrio. 3D
3 – Malmsey Single Harvest 2004
Mineral marcado, fresco, equilibrado e longo. 3D
4 – Verdelho 10 Years
Meio seco, com aromas finos, frutas secas e mineral intenso. Equilibrado e longo. 4D
5 – Malmsey Colheita 1994
Doce, cacau, melado de cana, borra de café. Excelente acidez, longo. 4D
6 – Terrantez 1976
21 anos em carvalho, engarrafado em 1997. Feito a partir da mais rara casta da Ilha da Madeira, e historicamente reconhecida por sua qualidade superior. Como já diz um secular verso da Madeira, “As uvas Terrantez, não as comas nem as dês, pois para o vinho Deus as fez”, o que podemos confirmar neste exemplar. Trufa branca, frutas secas, castanhas, amêndoas e especiarias. Bom corpo, sápido e equilibrado. Boca limpa e interminável persistência. 6D
A parte “triste” da visita ficou por conta de algumas garrafas centenárias, como um Boal 1811, um Verdelho 1822 e um Terrantez 1899, que pudemos ver, tocar, abrir e cheirar... mas não provar... Enfim, nada é perfeito.



Pois é... este eu não provei...


A impressão geral que ficou desta breve visita a Ilha da Madeira foi a de que seus vinhos são um grande tesouro a ser descoberto. Complexo, equilibrados e gastronômicos, com um potencial quase ilimitado de guarda, os Vinhos da Madeira estão, desde algum tempo, indubitavelmente, entre os meus favoritos, de acordo com o estilo para os mais variados momentos da refeição. Se você ainda não provou, prove surpreenda-se com o Vinho da Madeira.
Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
No próximo post, voltamos ao continente.
Abraço e até lá.

domingo, 24 de julho de 2011

Para Começar: Pastéis de Belém e Ilha da Madeira

Pois é, um bom começo. Depois de um voo noturno da TAP, chegamos a Lisboa às 07h30min da manhã, com uma temperatura de 28°C (!!!), apenas um prenúncio do que nos reservava o verão português. Como bons turistas, seguimos para o café da manhã na tradicional Fábrica dos Pastéis de Belém. Vale destacar aqui que o estabelecimento em questão é o único em Portugal que pode utilizar a nomenclatura “Pastéis de Belém” para seu produto, cabendo aos demais estabelecimentos que produzem pastéis similares a nomenclatura de “pastéis de nata”.
Os tais dos pastéis são realmente muito bons, delicados e saborosos. Em minha modesta opinião, o tal do “segredo” fica por conta da massa, que além de saborosa tem uma crocância inacreditável. Após um breve passeio pela margem do Tejo, nas proximidades do Mosteiro do Jerônimos, voltamos ao aeroporto, agora para um voo de pouco mais de uma hora rumo a Funchal, capital da Ilha da Madeira.





A Casa do Pastéis de Belém e os Próprios...


A Ilha da Madeira fica a cerca de 1000 km de Lisboa, mas apenas 660 km da costa africana, e faz parte de um arquipélago vulcânico que foi descoberto em 1419 e rapidamente colonizado pelos portugueses, devido a sua posição estratégica na rota entre a Europa e as Índias Orientais. Com suas encostas íngremes, forma uma bela paisagem, e um grande desafio a agricultura e mesmo a instalação de habitações. Como destino turístico, é imperdível.
Como qualquer centro populacional da época, os colonos da Madeira plantaram ali a vinha, além de outras culturas agrícolas. Como o vinho em questão tinha que suportar grandes viagens, o mesmo era fortificado, e no decorrer do século XVII, passou a ganhar grande fama o vinho da roda, ou Madeira de Torna Viagem; o vinho da Madeira que ia e voltava ou das índias ou da América no porão dos navios, passando por constantes processos de aquecimento e resfriamento, o que lhes conferia um caráter aromático único, além de maior concentração de acidez e sabores. Após algum tempo os produtores passaram a construir grandes armazéns, sem isolação térmica, os canteiros, onde estas variações de temperatura são parcialmente reproduzidas.


Vista do Hotel na Madeira. Feio né?


Hoje em dia o Madeira é produzido em quatro estilos, a partir de 6 castas. A casta mais plantada é a Tinta Negra Mole, de grande produção, que da origem aos Madeiras mais simples, e que conforme sua vinificação pode abranger os quatros estilos do Madeira, seco, meio-seco, meio-doce e doce. Depois, em menor quantidade, são plantadas as varietais “nobres” da Ilha; Sercial (seco), Verdelho (meio-seco), Boal (meio-doce) e Malvasia, ou Malmsey (doce), além da cada vez mais rara Terrantez (ou Folgosão), reconhecida de longa data pela qualidade elevada de seus vinhos, entre o meio-seco e o meio-doce, mas que produz uma média de apenas 300 kg por hectare, o que para muitos produtores a torna comercialmente inviável. Nos registros oficiais do Instituto do Vinho da Madeira, consta a comercialização de pouco mais de 1.000 litros de Terrantez em 2010, ou seja, nada.
O processo particular de produção do Vinho da Madeira, com um longo envelhecimento sob altas temperaturas, resulta num vinho de acidez pronunciada, devido à redução por evaporação, e aliada a sua doçura característica (que é importante mesmo nos estilos mais secos, ficando acima de 49 g por litro), esta acidez faz do Madeira, em minha opinião, o mais equilibrado e gastronômico dos vinhos fortificados doces.
Nossa passagem pela Madeira incluiu uma visita a Vinícola Barbeitos, em Câmara de Lobos, e a Madeira Wine Company, proprietária da marca Blandy´s, localizada no Funchal, mas destas visitas tratarei com mais atenção em outro post ok?


Paisagem Típica da Madeira


Mas, vamos aos destaques gastronômicos da Ilha! Em primeiro lugar, o Bacalhau, afinal, não se pode passar por Portugal sem provar-se um bom Bacalhau! E na Madeira provei o primeiro dos três que eu provaria ao longo da viagem; uma posta alta, ao forno, com natas e tomates, macio, dessalgado no ponto, e desmanchando ao toque do garfo. Como produto típico, além dos belos e caros bordados, há o Bolo de Mel da Ilha da Madeira, algo como o nosso pão de mel, mas muito mais intenso, com muitas especiarias, e adoçado com melaço de cana; muito bom para harmonização com os estilos mais doces de Madeira.
Para encerrar, em nossa última noite, uma jantar na Churrascaria A Vista d’António, isso mesmo, uma churrascaria! Um pouco diferente das nossas, é verdade, com a grelha dentro de um forno à lenha, mas com carnes muito macias e saborosas. A grande atração da casa é o tal do António, proprietário da casa, apaixonado pelo vinho, e pessoas das mais simpáticas. Ali provamos o afamado Queijo do Azeitão, parente do Serra da Estrela, porém de sabor mais pungente, com seu interior cremoso, puro deleite. Além disso, pudemos provar um vinho regional madeirense, um tinto não fortificado, o Terras do Avô 2009, um corte de Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah produzido pela A Duarte Caldeira e Filhos – Seixal Wines, de médio corpo, boa acidez e fruta, com média persistência e final de boca agradável. Um vinho que classifico como 3D.

Depois disso, graças aos ótimos preços da Carta de Vinhos, nos empolgamos a provar, por um preço inacreditavelmente baixo, até para os padrões portugueses, um Barca Velha 1999, um vinho com aromas difíceis de definir, algo de couro e especiarias, uma fruta ainda presente, bom frescor, taninos finos e longa persistência. Classifico como 5D
E por fim, a grande estrela da noite, um Boal 1930, adquirido de uma reserva particular, com coloração âmbar/castanho, aromas intensos de nozes e avelãs, especiarias e tostado, ótima acidez e equilíbrio, com a doçura no ponto, e uma persistência quase interminável, emocionante. 6D
Com estes grandes vinhos, encerro esta parte do meu relato. A seguir, maiores detalhes sobre a Barbeitos, a Madeira Wine Company e seus respectivos vinhos.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Portugal de Ponta a Ponta: Mais 8 Dias de Vinho e Comida

Como eu já disse antes por aqui, parece diversão, mas é trabalho! Um trabalho duro, mas que alguém tem que fazer... Paciência.

A Boina, o Douro e a Bandeira, tirando eu, tudo bem português...


Depois de um intenso giro pela Argentina, com mais de 200 vinhos degustados, uma breve passagem por minha casa, seguida de 9 dias em Portugal, visitando várias regiões e vinícolas, e conhecendo mais a fundo a culinária e os vinhos de nosso país-irmão.
Mas não imaginem que a profissão de Sommelier, ainda que recém-reconhecida por nossos legisladores, está rendendo tanto assim... Assim como fui à Argentina mediante um convite da Wines of Argentina, esta viagem a Portugal foi uma oferta da ViniPortugal e dos patrocinadores da Wine Academy, como prêmio por minha vitória no concurso Portugal Wine Expert São Paulo 2011, que eu já comentei por aqui antes.
Com um grupo de onze pessoas, do qual faziam parte enófilos e sommeliers, além da vencedora do Portugal Wine Expert Salvador, Jéssica Alves, e as minhas colegas finalistas do Portugal Wine Expert São Paulo, Thaís Yumi e Mariana Passos, visitamos Madeira, Alentejo, Setúbal, Tejo, Lisboa, Douro, Minho e Bairrada, provando pratos típicos e vinhos surpreendentes, sobres os quais pretendo partilhar um pouco com vocês.
Ao contrário do relato de minha viagem pela Argentina, aqui devo escrever um post sobre cada região, seguido de posts específicos a respeito das vinícolas visitadas, sempre com as respectivas notas de degustação. Espero poder contar com sua “audiência”!!!
Grande abraço e até a próxima.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mallman, Don Julio e Despedidas

Tudo que é bom, tem um fim... E o nosso foi em grande estilo. Para começar, ainda em Mendoza, o jantar de sábado no restaurante 1884, do Chef Francis Mallman. O 1884 fica dentro da Bodega Escorihuela Gascón, dentro de Mendoza, e é considerado um dos melhores restaurantes da Argentina. Para começar, empanadas, as empanadas de Francis Mallman, de carne, assadas, sequinhas e levemente picantes. Para mim, as melhores da viagem, mas boa parte do grupo preferiu as empanadas de milho da Callia. Depois, um Ojo de Bife, assado na brasa, no ponto perfeito, sobre uma cama de batatas fritas fininhas e crocantes, e por fim, na sobremesa, uma sobremesa para gordos, com o sugestivo nome de Chocolate para Fanáticos, uma combinação de sorvete, mousse e bolo cremoso de chocolate, além de um bombonzinho recheado de dulce de leche; inesquecível.



Entrada do 1884 e as Empanadas
No dia seguinte, após o check out, aeroporto de Mendoza, graças a Deus funcionando normalmente, com direção a Buenos Aires, para almoçar na tradicional Parrilla Don Julio, mais uma vez em Palermo (o bairro e não o jogador). Ali, num ambiente simples e acolhedor, comi simplesmente a melhor carne de minha vida (até o momento). Três cortes, filet mignon, ojo de bife e bife ancho, no ponto perfeito, absurdamente macios e saborosos. O Filet Mignon em especial desmanchava na boca. Recomendo para todo apreciador de carnes de passagem por Buenos Aires. Em nossa última refeição não poderia faltar um bom espumante para o brinde (Alma 4, da Zuccardi, muito bom), e um bom malbec, o Malbec de los Angeles 2008, obra do Sr. Michel Rolland, do qual confesso não ser um grande admirador, mas que me surpreendeu, pela grande complexidade e maciez.

Parrilla Don Julio, só para carnívoros
Após uma parada estratégica para as compras (Simone e Marlene não poderiam deixar Buenos Aires sem compras...), seguimos novamente para o Aeroporto, já para retornar ao Brasil.
Ficou a experiência de conhecer ótimos vinhos, acompanhado de ótimos profissionais e ótimas pessoas. De modo especial, a Wines of Argentina e o CFI nos permitiram conhecer um pouco melhor a Argentina vitivinícola, além dos limites do malbec mendocino gordo e pesado que muitas vezes encontramos por aqui. Provei vinhos elegantes, complexos e surpreendentes, feitos com Malbec, mas também com outras castas, o que demonstra o vasto universo inexplorado que se encontra em nosso vizinho.


Foto "Oficial" do Grupo
Agradeço mais uma vez a Wines of Argentina e o Consejo Federal de Inversiones pelo convite e pela oportunidade.
Então é isso, espero que vocês tenham gostado de me acompanhar nesta viagem. Estou neste momento retornando de um giro de 8 dias por Portugal, e logo logo conto aqui os detalhes desta outra viagem.
Grande abraço e até lá.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mendoza: 26 Bodegas em 2 Dias


Mendoza by Night

Enfim, Mendoza. Capital da Província de mesmo nome, e centro da indústria vitivinícola argentina. Ao contrario do que muitos imaginam, Mendoza é uma cidade grande e moderna, muito agradável, e provida de uma boa infraestrutura. Chegamos ao hotel (hotel nº 4) quinta feira a noite, e após um breve jantar nos recolhemos, em preparação a intensa programação do dia seguinte.
Fomos na sexta ao Valle de Uco, região mais próxima aos Andes, e com vinhedos em maior altitude, e consequentemente, mais fria. Para começar, uma visita a Masi Tupungato. Para quem não sabe, a Masi é um dos maiores produtores italianos do Vêneto, e já há alguns anos investe na Argentina, focada na produção de cortes entre as castas tradicionais vênetas e argentinas, utilizando técnicas de apassimento. A visita foi conduzida pela simpática Collen Clayton, uma americana que representa vinícolas italianas e mora na Argentina, coisas da globalização. As instalações são das mais modernas, de modo que uma bodega de grande porte consegue operar com apenas cinco funcionários, e mais alguns temporários na época da colheita. Entre os vinhos, destaque para o Corbec, corte de 70% de corvina e 30%de malbec, produzido como um Amarone, e que em breve estará no Brasil.



Instalações e vinhedos da Masi Tupungato

A seguir, Salentein. Aí sim uma GRANDE vinícola, com toda uma infraestrutura voltada ao turismo, e uma arquitetura muito caprichada. Aqui o maior destaque fica por conta do enólogo, o recém-contratado Pepe Galante, que durante 35 anos foi o responsável pelos vinhos da Bodega Catena Zapata, e que agora assumiu a Salentein. Um dos vinhos que provamos, o Numina 2009, já traz sua assinatura e estilo.


Imponentes instalações da Salentein (vista BEEEM de longe) com os Andes ao fundo
Ali mesmo, tivemos outra minifeira, com as vinícolas Atamisque, Diamandes, Finca La Celia, Tamarí e Clos de Los Siete, além dos donos da casa. Entre os vinhos degustados, que estão na integra no post “Argentina – Notas de Degustação” , destaco, além do já citado Numina, da Salentein, o Zhik 2007, da Tamarí, o Heritage Cabernet Franc, da Finca La Celia, e o sempre bem feito Clos de Los Siete, presente com as safras 2008 e 2009.
De volta ao hotel, nada de descanso. Antes do jantar, no ótimo Siete Cocinas, mais uma minifeira, agora com Doña Paula, Krontiras, Domínio del Plata, Zuccardi, Riglos, Família Bianchi e Altos las Hormigas. Destaque para os malbecs da Krontiras, que tem a marca Doña Silvina, e são todos biodinâmicos, além do sempre campeão Q Tempranillo, da Zuccardi, o ótimo Ben Marco Expressivo, da Domínio del Plata, o elegante e agradável Colonia las Liebres Bonarda, da Alto Las Hormigas, e o campeão da noite, o Doña Paula Seleccion de Bodega Malbec.
Já o dia seguinte, guardava aquela que seria, na opinião de todo o grupo, a melhor visita da semana. Mendel. A entrada desta pequena bodega engana. Simples e acanhada, com um prédio antigo, e Mendel guarda em seus vinhedos, em Lujan de Cuyo, o segredo de sua qualidade; vinhas de malbec de mais de 80 anos, plantadas em pé franco, sem enxertia. Por dentro, a vinícola é pequena, mas muito moderna e organizada. Já os vinhos, obra do jovem e talentoso enólogo Santiago Mayorga, são de cair o queixo. O pior deles já é muito bom! Começamos com um Semillon 2011, ainda turvo, não filtrado, muito complexo e equilibrado, com grande potencial. A seguir, o Lunta 2009, malbec de entrada da linha, com uma qualidade equivalente e de muitos vinhos tops por aí. Por fim, uma sequência de quatro vinhos impressionantes, para dizer o mínimo, Mendel Malbec 2008, Mendel Unus 2008, Mendel Unus 2006, e Mendel Malbec Finca Remota 2008. Difícil cravar qual deles foi o melhor. Por fim, fica como destaque a guarda da vinícola, feita pelo Bruno, um cão negro do tamanho de um bezerro, e manso como um gato, que esteve presente em nossa recepção e despedida.

Mendel, vinhos maiúsculos
Dali, seguimos para a última visita da viagem, a Finca Decero, bodega muito bonita e moderna, que recebeu-nos, inicialmente, para mais uma minifeira, agora com Pulenta, Norton, Séptima, Filus, Clos de Chacras, Kaiken, Pascual Toso e a própria Decero. Aqui muitos vinhos se destacaram, então deixo a recomendação para que vocês vejam as degustações na integra no post “Argentina – Notas de Degustação”, ok? Em nossa visita pelas modernas instalações da Decero, ficou para o final a boa surpresa, de provar junto do enólogo, amostras de barrica dos cinco vinhos que compõem o corte do Amano, top da Decero, eram estes dois malbec, de duas parcelas distintas de vinhedos, cabernet sauvignon, petit verdot e tannat. Uma curiosa e didática experiência para melhor compreender o resultado final.

Finca Decero
No próximo post conto um pouco sobre nosso último jantar, bem como o regresso a Buenos Aires.
Abraço e até a próxima.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

San Juan; Mais Empanadas, Mollejas e Ótimos Vinhos

Chegamos a San Juan por volta da 23 horas de quarta-feira, e fizemos o check in no ótimo Hotel Del Bono (hotel nº 3), onde recuperamos as energias após um agradável jantar. Na manhã seguinte, check out, e visita a Bodega Callia, uma das maiores da Província, pertencente ao grupo Salentein.


Garoto Propaganda


Fomos recebidos com muita competência e profissionalismo pelo enólogo Ariel Cavalier, que mostrou-nos todas as belas instalações da vinícola, e depois conduziu-nos a uma sala de degustação imponente, com uma grande mesa de pedra, no subsolo da bodega, onde pudemos provar os bons vinhos da Callia, com especial destaque para o sempre excelente Callia Magna Syrah, e o Grand Callia, seu vinho principal.



Reservatório para irrigação e sala de degustação da Callia


Depois, um almoço informal, em formato de coquetel, com mais algumas empanadas, a de milho, para muitos, foi a melhor da viagem, e as tais da mollejas, uma glândula bovina, responsável pela produção da saliva. Acreditem não sou nem de longe fã de miúdos de qualquer natureza, mas as mollejas são muito saborosas, vale se arriscar.
Seguimos então para a vizinha Casa Montes, onde faríamos a mais completa degustação da viagem, provando nada menos do que 17 vinhos, simplesmente todo o portfólio da vinícola. Em primeiro lugar, só para esclarecer, a Casa Montes não tem nenhuma ligação com a chilena Viña Montes, ok?
Os vinhos surpreenderam, com destaque para o Torrontés 2011, ainda uma amostra de tanque, e que foi o melhor branco desta casta que eu já provei, um curioso corte de syrah e tannat, da linha Ampakama, o Cabernet Franc da linha Don Baltazar, muito bom, além do vinho top da vinícola, que ainda não está no mercado, e que deve levar o nome de Casa Montes, um corte de Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot, complexo e com muito potencial.


Instalações da Casa Montes


O que ficou evidente em San Juan é o grande potencial que outras castas além da Malbec, em especial a Syrah, tem naquele terroir, por certo uma agradável alternativa ao tradicional malbec mendocino presente em nosso mercado. Lembrando que as notas de degustação de todos os vinhos estão no post “Argentina – Notas de Degustação”.
Por fim, uma visita protocolar a sede do Governo da Província de San Juan, afinal, o CFI, órgão que, em parceria com a Wines of Argentina, pagou pela viagem, é um conselho vinculado aos governos de todas as províncias argentinas. Fomos muito bem recebidos pelo “Ministro del Desarrollo” (algo como nossos Secretários Estaduais), e seguimos para mais 200 km, rumo a Mendoza, maior região produtora de vinhos da Argentina.
No próximo post conto mais. Abraço e até lá.

Postagem em destaque

Enoturismo em Mendoza

Como parte de nossa nova parceria com a LATAM Travel Shopping Frei Caneca , teremos no mês de Novembro/2016 um imperdível tour por alguma...