domingo, 24 de julho de 2011

Para Começar: Pastéis de Belém e Ilha da Madeira

Pois é, um bom começo. Depois de um voo noturno da TAP, chegamos a Lisboa às 07h30min da manhã, com uma temperatura de 28°C (!!!), apenas um prenúncio do que nos reservava o verão português. Como bons turistas, seguimos para o café da manhã na tradicional Fábrica dos Pastéis de Belém. Vale destacar aqui que o estabelecimento em questão é o único em Portugal que pode utilizar a nomenclatura “Pastéis de Belém” para seu produto, cabendo aos demais estabelecimentos que produzem pastéis similares a nomenclatura de “pastéis de nata”.
Os tais dos pastéis são realmente muito bons, delicados e saborosos. Em minha modesta opinião, o tal do “segredo” fica por conta da massa, que além de saborosa tem uma crocância inacreditável. Após um breve passeio pela margem do Tejo, nas proximidades do Mosteiro do Jerônimos, voltamos ao aeroporto, agora para um voo de pouco mais de uma hora rumo a Funchal, capital da Ilha da Madeira.





A Casa do Pastéis de Belém e os Próprios...


A Ilha da Madeira fica a cerca de 1000 km de Lisboa, mas apenas 660 km da costa africana, e faz parte de um arquipélago vulcânico que foi descoberto em 1419 e rapidamente colonizado pelos portugueses, devido a sua posição estratégica na rota entre a Europa e as Índias Orientais. Com suas encostas íngremes, forma uma bela paisagem, e um grande desafio a agricultura e mesmo a instalação de habitações. Como destino turístico, é imperdível.
Como qualquer centro populacional da época, os colonos da Madeira plantaram ali a vinha, além de outras culturas agrícolas. Como o vinho em questão tinha que suportar grandes viagens, o mesmo era fortificado, e no decorrer do século XVII, passou a ganhar grande fama o vinho da roda, ou Madeira de Torna Viagem; o vinho da Madeira que ia e voltava ou das índias ou da América no porão dos navios, passando por constantes processos de aquecimento e resfriamento, o que lhes conferia um caráter aromático único, além de maior concentração de acidez e sabores. Após algum tempo os produtores passaram a construir grandes armazéns, sem isolação térmica, os canteiros, onde estas variações de temperatura são parcialmente reproduzidas.


Vista do Hotel na Madeira. Feio né?


Hoje em dia o Madeira é produzido em quatro estilos, a partir de 6 castas. A casta mais plantada é a Tinta Negra Mole, de grande produção, que da origem aos Madeiras mais simples, e que conforme sua vinificação pode abranger os quatros estilos do Madeira, seco, meio-seco, meio-doce e doce. Depois, em menor quantidade, são plantadas as varietais “nobres” da Ilha; Sercial (seco), Verdelho (meio-seco), Boal (meio-doce) e Malvasia, ou Malmsey (doce), além da cada vez mais rara Terrantez (ou Folgosão), reconhecida de longa data pela qualidade elevada de seus vinhos, entre o meio-seco e o meio-doce, mas que produz uma média de apenas 300 kg por hectare, o que para muitos produtores a torna comercialmente inviável. Nos registros oficiais do Instituto do Vinho da Madeira, consta a comercialização de pouco mais de 1.000 litros de Terrantez em 2010, ou seja, nada.
O processo particular de produção do Vinho da Madeira, com um longo envelhecimento sob altas temperaturas, resulta num vinho de acidez pronunciada, devido à redução por evaporação, e aliada a sua doçura característica (que é importante mesmo nos estilos mais secos, ficando acima de 49 g por litro), esta acidez faz do Madeira, em minha opinião, o mais equilibrado e gastronômico dos vinhos fortificados doces.
Nossa passagem pela Madeira incluiu uma visita a Vinícola Barbeitos, em Câmara de Lobos, e a Madeira Wine Company, proprietária da marca Blandy´s, localizada no Funchal, mas destas visitas tratarei com mais atenção em outro post ok?


Paisagem Típica da Madeira


Mas, vamos aos destaques gastronômicos da Ilha! Em primeiro lugar, o Bacalhau, afinal, não se pode passar por Portugal sem provar-se um bom Bacalhau! E na Madeira provei o primeiro dos três que eu provaria ao longo da viagem; uma posta alta, ao forno, com natas e tomates, macio, dessalgado no ponto, e desmanchando ao toque do garfo. Como produto típico, além dos belos e caros bordados, há o Bolo de Mel da Ilha da Madeira, algo como o nosso pão de mel, mas muito mais intenso, com muitas especiarias, e adoçado com melaço de cana; muito bom para harmonização com os estilos mais doces de Madeira.
Para encerrar, em nossa última noite, uma jantar na Churrascaria A Vista d’António, isso mesmo, uma churrascaria! Um pouco diferente das nossas, é verdade, com a grelha dentro de um forno à lenha, mas com carnes muito macias e saborosas. A grande atração da casa é o tal do António, proprietário da casa, apaixonado pelo vinho, e pessoas das mais simpáticas. Ali provamos o afamado Queijo do Azeitão, parente do Serra da Estrela, porém de sabor mais pungente, com seu interior cremoso, puro deleite. Além disso, pudemos provar um vinho regional madeirense, um tinto não fortificado, o Terras do Avô 2009, um corte de Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah produzido pela A Duarte Caldeira e Filhos – Seixal Wines, de médio corpo, boa acidez e fruta, com média persistência e final de boca agradável. Um vinho que classifico como 3D.

Depois disso, graças aos ótimos preços da Carta de Vinhos, nos empolgamos a provar, por um preço inacreditavelmente baixo, até para os padrões portugueses, um Barca Velha 1999, um vinho com aromas difíceis de definir, algo de couro e especiarias, uma fruta ainda presente, bom frescor, taninos finos e longa persistência. Classifico como 5D
E por fim, a grande estrela da noite, um Boal 1930, adquirido de uma reserva particular, com coloração âmbar/castanho, aromas intensos de nozes e avelãs, especiarias e tostado, ótima acidez e equilíbrio, com a doçura no ponto, e uma persistência quase interminável, emocionante. 6D
Com estes grandes vinhos, encerro esta parte do meu relato. A seguir, maiores detalhes sobre a Barbeitos, a Madeira Wine Company e seus respectivos vinhos.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

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