terça-feira, 26 de julho de 2011

Madeira – Vinícolas Barbeito e Madeira Wine Company

Em primeiro lugar, vale esclarecer que hoje a Ilha da Madeira conta, segundo o Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira (IVBAM), com apenas 7 produtores do Madeira fortificado, embora o número de viticultores seja muito maior. Isto posto, fica claro que, além de um significativo esforço conjunto na divulgação e fortalecimento da marca Vinho da Madeira, cada um há de empreender esforços significativos no sentido de reforçar sua individualidade e particularidade em relação aos demais, fato este que pudemos verificar em nossas duas visitas.
Para começar, Vinhos Barbeito; uma empresa familiar, fundada em 1946, e relativamente pequena. Desde 1991, a Barbeito abdicou da produção e venda de vinhos simples a granel, e passou a dedicar sua atenção a produção e engarrafamento de Madeira de qualidade. Passou também a atuar por meio de uma Joint Venture com a Kinoshita International, importador japonês de vinhos e destilados, o que deu novo fôlego a empresa nesta nova fase, focada mais em qualidade do que em quantidade.





Istalações e Barricas da Barbeitos


Foram degustados ao todo 17 vinhos, dos mais simples, a base de Tinta Negra Mole, aos varietais mais nobres. A curiosidade ficou por conta de quatro amostras de tanque, da casta Tinta Negra Mole, sendo duas da safra 2010 e duas da safra 2008, onde pudemos verificar a influência de dois diferentes processos de vinificação; a maceração e fermentação em lagares, com a presença das cascas, e a bica aberta, onde o mosto é removido e fermentado sem a presença das cascas. Nas amostras mais jovens, o vinho fermentado em lagar apresenta mais intensidade de aromas e sabores, porém, após dois anos apenas, o vinho obtido pelo método de bica aberta, embora menos frutado, apresenta maiores complexidade, equilíbrio e elegância. Seguem as notas de degustação completas:



Ossos do ofício...


Tinta Negra Mole


1 – Rainwater 5 Anos
Da linha mais simples da casa, meio seco, com notas marcadas de frutas secas e boca limpa. Um bom aperitivo. 3D
2 – Island Rich 5 Anos
Também dos mais simples, agora no estilo doce. Ameixa em compota e tostado, com boa acidez e doçura equilibrada. 3D
3 – Tinta Negra 2010, Tanque 77, Lagar
Coloração rubi, frutado e vinoso, leve empireumático, com alguma presença de taninos, meio doce, alcoólico, com média persistência. 3D
4 – Tinta Negra 2010, Tanque 79, Bica Aberta
Pouco aromático, mais doce, mais ácido. Equilibrado, com maior persistência. 3D
5 – Tinta Negra 2008, Casco 720, Lagar
Chocolate amargo, tostado intenso, alguma fruta, bom frescor, meio seco, agradável, com média persistência. 3D
6 – Tinta Negra 2008, Casco 111, Bica Aberta
Mais complexo, casca de laranja e especiarias, leve amargor, meio doce, equilibrado e longo. 3D+
7 – Single Harvest 2000
Meio seco, com 3.061 garrafas produzidas. Aromas de tostados e cítricos. Fresco, sápido, discreto taninos e média/longa persistência. 3D+
8 – Colheita 2002 Single Cask
Doce, com 1.035 garrafas produzidas. Frutas amarelas em compota, ótima acidez e equilíbrio. 3D+
9 – Colheita 1995 Single Cask
Meio doce, com 988 garrafas produzidas. Coloração mais intensa, com flores e especiarias, ótima acidez e longa persistência. 3D+


Castas Brancas


1 – VB Reserva
Meio seco, com 2.478 garrafas. Pouco usual corte de Verdelho (60%) e Boal (40%). Nariz agradável e austero, menos acidez e mais estrutura, com um discreto amargor. 3D
2 – Verdelho Old Reserve 10 Anos
Quase seco, com chocolate ao leite, nozes e cravo. Sápido, com bom fresco e sensação de boca limpa. 3D+
3 – Boal Old Reserve 10 Anos
Meio doce, com um nariz mais austero, frutas secas e cristalizadas. Leve chocolate em boca, agradável e equilibrado. 3D
4 – Malvasia Old Reserve 10 Anos
Doce. Leve mineral e marcadas notas oxidativas, frutas secas, laranja, boa acidez e persistência. 3D+
5 – Malvasia 2000 Single Cask
Doce, com 980 garrafas engarrafadas em novembro/2010. Mineral bem marcado, com uma doçura gostosa e equilibrada. Média/longa persistência e retro olfato evocando laranjas. 4D
6 – Sercial 1988 Frasqueira
Meio seco, com 900 unidades engarrafas em janeiro/2011. Nariz delicado, com notas florais e oxidativas. Sápido, equilibrado, com longa persistência. 4D
7 – Boal 1978
Meio doce, com 618 unidades engarrafadas em janeiro/2011. Achocolatado, crème anglaise, frutas secas, boca cheia, jovem, longo, com leve adstringência e retro olfato de manga verde. Muito bom. 5D
8 – Malvasia 20 Anos
Meio doce, 874 unidades engarrafadas em novembro/2010. Intenso, etéreo, fresco, equilibrado e harmônico. 5D
Depois desta “pequena” sequência, um rápido almoço a beira mar, com o típico peixe espada preto, acompanhado de um delicado molho de maracujá e banana, todos ingredientes tradicionais da Ilha; e a seguir, Madeira Wine Company.


Entrada da Madeira Wine Company


A Madeira Wine Company surgiu em 1913, como Madeira Wine Association, sendo então uma associação comercial, que visava concentrar os esforço comerciais de vários produtores sob uma única bandeira. Com o tempo, mais e mais empresas juntaram-se a associação, que veio a se tornar uma empresa de fato, proprietárias das marcas Blandy’s, Leacock, Cossart-Gordon e Miles, a mais antiga datando de 1760. Desde o princípio dos anos 80 a família Blandy, residente na ilha desde 1811, assumiu o controle da empresa, e constituiu em 1989 uma sociedade com a família Symington, tradicionais produtores de vinho do Porto, o que trouxe um novo impulso as vendas da MWC.
As instalações da MWC são grandes para os padrões da Ilha, contando inclusive com sua própria tanoaria, e uma grande armazém climatizado em “agradáveis” 38°C, a fim de permitir aos vinhos, quer seja em tanques de epóxi, quer seja em cascos de carvalho, desenvolver seu caráter típico.


Tonéis de vinho envelhecendo a "agradáveis" 38°C


Para a degustação, 6 vinhos representativos das diversas linhas da casa, conforme segue.
1 – Duke of Clarence Rich
Vinho da linha básica da Blandy’s, feito a partir da casta Tinta Negra Mole, e envelhecido por três anos. Oxidativo marcado, figos e caramelo queimado, correto. 3D
2 – Alvada 5 Years
Nova linha da Blandy’s, com um visual mais moderno, buscando atingir novos consumidores. Doce, com notas de caramelo mais intensas, bem fresco e estruturado, sem deixar de lado o equilíbrio. 3D
3 – Malmsey Single Harvest 2004
Mineral marcado, fresco, equilibrado e longo. 3D
4 – Verdelho 10 Years
Meio seco, com aromas finos, frutas secas e mineral intenso. Equilibrado e longo. 4D
5 – Malmsey Colheita 1994
Doce, cacau, melado de cana, borra de café. Excelente acidez, longo. 4D
6 – Terrantez 1976
21 anos em carvalho, engarrafado em 1997. Feito a partir da mais rara casta da Ilha da Madeira, e historicamente reconhecida por sua qualidade superior. Como já diz um secular verso da Madeira, “As uvas Terrantez, não as comas nem as dês, pois para o vinho Deus as fez”, o que podemos confirmar neste exemplar. Trufa branca, frutas secas, castanhas, amêndoas e especiarias. Bom corpo, sápido e equilibrado. Boca limpa e interminável persistência. 6D
A parte “triste” da visita ficou por conta de algumas garrafas centenárias, como um Boal 1811, um Verdelho 1822 e um Terrantez 1899, que pudemos ver, tocar, abrir e cheirar... mas não provar... Enfim, nada é perfeito.



Pois é... este eu não provei...


A impressão geral que ficou desta breve visita a Ilha da Madeira foi a de que seus vinhos são um grande tesouro a ser descoberto. Complexo, equilibrados e gastronômicos, com um potencial quase ilimitado de guarda, os Vinhos da Madeira estão, desde algum tempo, indubitavelmente, entre os meus favoritos, de acordo com o estilo para os mais variados momentos da refeição. Se você ainda não provou, prove surpreenda-se com o Vinho da Madeira.
Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
No próximo post, voltamos ao continente.
Abraço e até lá.

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