sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Um Outro Chile, com MOVI

Participei nesta semana de uma degustação promovida pelo MOVI, em São Paulo, para apresentação de seus membros e vinhos.
O MOVI, Movimento das Vinícolas Independentes, é uma associação de vinícolas chilenas que atuam de forma diferenciada, em geral em pequena escala, e comprometidos com a qualidade de seus produtos, atenção esta que se inicia já no vinhedo. Segundo Felipe Garcia Reyes, proprietário da Bravado Wines, e vice-presidente do grupo, o principal pré-requisito para a participação de uma vinícola no grupo é que o proprietário esteja envolvido diretamente em TODO o processo, da plantação à venda.
Com o crescimento e profissionalização que a indústria vitivinícola chilena experimentou a partir dos anos 90, era natural o surgimento de grandes em empresas, e até conglomerados multinacionais, como é hoje a Concha y Toro, e em parte isso é positivo, pois globalizou o vinho chileno. Porém, é natural que haja, da mesma forma, profissionais preocupados com questões como sustentabilidade e tipicidade, dispostos a nadar contra a maré da padronização, produzindo vinhos únicos, que expressam não só a terra onde estão plantados, mas também a ação das pessoas envolvidas no processo produtivo, enfim, vinhos que expressem seu terroir.

O MOVI conta hoje com 19 membros, sendo que 17 estiveram com seus produtos presentes em uma série de eventos realizados em várias cidades brasileiras. A seguir, minhas notas de degustação dos 17 vinhos, e algumas informações sobre as vinícolas.

1 – Facundo 2006 – Bravado Wines
A vinícola pertence ao casal Felipe e Constanza, que desde 2006 investem em seu projeto pessoal, com vinhedos em Itata, Maule e Lolol. O vinho apresentado é um corte de Carignan, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, fragrante, com muita fruta fresca, flores, ervas, caramelo e especiarias doces; em boca é fresco, levemente sápido, longo e com finos taninos. Só sobrou uma pontinha de álcool, mas nada que comprometa o conjunto final. Importado pela Terramatter.
4D

2 – Mantum 2007 – Bustamante
Com uma produção de pouco mais de 5000 garrafas, a Bustamante localiza-se no Valle de Maule, e possui vinhas com mais de 100 anos de idade. Este corte em particular, com as castas Cabernet Sauvignon, Carmenére, Syrah e Merlot, apresenta fruta mais contida, especiarias e um leve vegetal; é seco, com média acidez, discreto amargor e média persistência, além de um discreto toque químico no retro gosto. Importado pela La Charbonnade.
3D

3 – Erasmo 2006 – Reserva de Caliboro
Sociedade entre Andrés del Solar e o Conde Francesco Marone Cinzano (isso mesmo, o do vermouth...) é produzido e engarrafado no vinhedo. Com um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, passa um ano em barricas francesas e mais um ano em garrafa. Apresenta notas florais, frutas vermelhas e negras frescas, discreto tostado e toques abaunilhados; bom corpo e frescor, macio, com taninos finos e longo final, com muita fruta. Importado pela Casa do Porto.
4D+

4 – Flaherty 2007 – Flaherty Wines
Pertencente ao casal Ed e Jen Flaherty, produz cerce de 1000 caixas a partir de vinhedos no Valle de Aconcágua. Este corte de Syrah, Cabernet Sauvignon e Tempranillo apresenta fruta madura, alcaçuz, e uma boca com bom frescor e fruta suculenta, bem agradável, com média/longa persistência. Importado pela Terramatter.
3D+

5 – Clos Andino Le Carménère 2010 – Clos Andino
Pertencente ao francês erradicado no Chile Jose Luis Martin-Bouquillard, o projeto Clos Andino foi iniciado em 2007. O foco neste vinho, que além da Carmenére leve pequenas partes de Cabernet Sauvignon e outras castas, é, a partir do terroir chileno, obter um vinho com a elegância e tipicidade peculiar dos vinhos franceses. Tem muitos aromas terciários, animais, como carne de caça e couro, além de um fruta negra discreta e um leve defumado. É fresco, com taninos finos, e um pequeno amargor final. Ainda sem importador no Brasil.
3D

6 – Lot #27 Old Vine Carignan Field Blend 2010 – Garage Wine Co.
Pertencente a Derek Moosmam, a vinícola faz, em suas origens, jus ao nome; começou em 2001, de forma irregular, na garagem da família em Santiago. As uvas são adquiridas de pequenos produtores, que cuidam de forma artesanal de suas frutas, e artesanalmente o vinho e produzido, sempre me pequenos lotes, e utilizando garrafas recicladas no engarrafamento. O Lot #27 em especial é um corte de Carignan e Grenache, plantadas juntas e misturadas já na colheita, produzindo um “field blend”, que homenageia, nesta safra 2010, a resistência dos lavradores do Maule, atingidos pelo terremoto daquele ano. Traz muita especiaria doce, como canela e cravo, fruta bem madura, quase geléia, e um marcado mineral. Tem bom frescor, é macio, vivo, suculento e longo. Importado pela Premium.
4D

7 – Gilmore Hacedor de Mundos Cabernet Franc 2007 – Gilmore
Pertencente a Andrés Sanchez e Daniella Gilmore, a vinícola fica instalada no Valle de Loncomilla, na cordilheira da costa. O fundador, Francisco Gilmore, instalou-se ali no fim dos anos 80, adquirindo vinhedos que pertenciam a centenária vinícola Tabontinaja. Com vinhedos da casta inferior País, já com mais de 80 anos de idade, Francisco aproveitou-se de suas raízes profundas e enxertou variedades francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Carignan. A Carignan em especial recebe uma atenção particular da vinícola, que faz parte do Club del Carignan. Já o Cabernet Franc degustado apresentava fruta madura, notas animais, balsâmico; em boca, bom corpo, muitos e finos taninos, com muita fruta e longa persistência. Pede mais alguns anos de garrafa. Importado pela Ana Import.
3D+

8 – I Latina Carmenére 2009 – i-Wines
Produzido a partir de vinhedos em Peumo, mais prestigiada região chilena para a produção de Carmenéres topo de gama, este vinho, que leva também uma pequena parte de Syrah, tem notas marcadas de chocolate amargo e tostado, evidenciando sua passagem por barricas, além de frutas em compota e um discreto herbáceo. Em boca é fresco, com o tostado mais marcado, bom corpo, macio, com média/longa persistência. Importado pela Berenguer Imports.
3D+

9 – Single Vineyard Limited Edition Syrah 2007 – Lagar de Bezana
Fundada em 1998 pelo empresário Ricardo Benzanilla Renovales, recentemente falecido, a Lagar de Bezana produz principalmente Cabernet Sauvignon e Syrah, buscando a máxima expressão do terroir do Valle de Cachapoal. Este Syrah 2007 em particular tem um nariz delicado, fino, com boa fruta madura e discreta nota de especiarias; boa presença de boca, taninos finos e abundantes e agradável retro gosto, com boa persistência. Importado pela Magnum.
4D

10 – Meli Reserva Carignan 2008 – Meli
Pequeno projeto familiar, conduzido pela enóloga Adriana Cerda e seus três filhos, que consiste em vinhedos de Riesling e Carignan, com uma média de 60 anos, plantados em Loncomilla, no Valle de Maule. A condução do vinhedo é orgânica, sem irrigação. O vinho degustado em especial apresentava aromas marcados de garapa, bala dura, fruta madura e especiarias doces; em boca, muito fresco, fino, de longa persistência, em uma palavra, instigante. Importado pela La Charbonnade.
4D

11 – Peumayen Carmenére 2009 – Viña Peumayem
Pertencente ao casal Erika e Francisco Carevie, e Peumayem produz seus vinhos no Valle de Aconcágua. É um Carmenére com pequenas partes de Syrah e Petit Verdot, de bom corpo, com fruta bem madura, tostado intenso, macio, com um discreto amargor e média/longa persistência. Sem importador no Brasil.
3D

12 – Polkura Syrah 2007 – Polkura
O nome faz referência a uma colina no meio do vinhedo, em cujas encostas são produzidas as uvas que dão origem a este vinho, em Marchigüe, Colchagua. Trata-se de um Syrah com pequenas partes de Malbec, Viognier, Grenache, Tempranillo e Mourvedre, com evidentes especiarias, eucalipto, fruta madura, bom frescor, taninos finos e abundantes e longa persistência, com frutas e especiarias retornando no final. Importado pela Premium.
4D

13 – Rukumilla 2006 – Rukumilla
Apenas 5 acres no Valle de Maipo, cultivados organicamente e manejados pela família dos proprietários, Andrés Costa e Angélica Grove. É um corte de Malbec, Syrah, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, austero, com cassis e framboesa, especiarias e ervas; fresco, maduro, com taninos finos e longa persistência. Sem importação no Brasil.
3D

14 – Starry Night Syrah 2010 – Starry Night
Apenas 8 hectares, divididos entre Syrah e Pinot Noir, em Maipo Costa. Este Syrah 2010 em especial traz muita fruta negra fresca, além de especiarias em evidência; fresco, longo e típico, com uma sugestão floral em boca. Importado pela Vinoart.
4D

15 – Trabun Syrah 2009 – Trabun
Pertencente ao enólogo e baterista Sergio Avendaño, a Trabun produz nesta propriedade familiar em Cachapoal o Syrah ora degustado, que tem uma leve nota vegetal, além de uma boa dose de fruta e algo de noz moscada; em boca, médio/alto frescor, maciez e um discreto amargor, aliado ao intenso retro gosto a frutas maduras. Importado pela La Charbonnade.
3D+

16 – Tanagra Syrah 2009 - Villard
Localizada no frio Valle de Casablanca, é uma das maiores vinícolas do MOVI, mas afinada com as proposta e filosofia do grupo. Este exemplar em especial traz fruta evidente, mas austera, algo de pimenta negra e discreto tostado. Fresco, de médio a encorpado, longo, equilibrado e elegante. Importado pela Decanter.
4D

17 – Montelìg 2005 – Viña von Siebenthal
Pertencente ao advogado suíço Mauro von Siebenthal, os vinhedos tem condução orgânica, e todos os esforços são dirigidos a máxima expressão do terroir do Valle de Aconcágua. Este corte de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Carmenére tem um nariz intenso, com muita fruta madura; enche a boca, e tem boa maciez, além de um agradável fim de boca. Importado pela Terramatter.
3D+

O nível geral de qualidade dos vinhos apresentados foi bem elevado, o que reforça a impressão positiva sobre os objetivos deste grupo. A maior parte da vinícolas já tem seus produtos no mercado brasileiro, e posso afirmar com tranquilidade que vale a pena garimpar nas prateleiras das lojas especializadas a sua procura.
Meus parabéns aos membros do MOVI pela bela iniciativa, e meu agradecimento a H3 pelo convite para tão especial degustação.

Espero que vocês tenham gostado, e animem-se a provar alguns destes vinhos. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Harmonizando Bacalhau

E que Bacalhau!!!
Alguém aí quer bacalhau?

Também a convite da Vinhos de Portugal, além da apresentação dos vinhos brancos que mencionei no último post, participei de uma aula do Chef Américo dos Santos, do Restaurante Quarentae4, de Matosinhos, Portugal, sugerindo duas opções de harmonização para o prato por ele apresentado.
O prato em questão foi um Bacalhau Confitado com Sabores Lusitanos, e os vinhos um espumante rosé da Bairrada e um Alvarinho do Minho.

Mas primeiro algumas palavras sobre o Chef, que atua no supracitado restaurante, como Chefe Pasteleiro, responsável pelo cardápio de sobremesas da casa. Com apenas 23 anos (é... eu estou mesmo ficando velho...), Américo e reconhecido como um dos bons nomes da nova safra de nomes da gastronomia portuguesa.
Na Semana Mesa, o Chef apresentou sua interpretação do bacalhau, peixe onipresente na mesa portuguesa, de norte a sul do país. A posta do lombo, já dessalgada, vai ao forno coberta por um refogado de cebolas, pimentões, alho, alho-poró, azeitonas, e muito, muito azeite mesmo. Depois desta fase, o prato é montado sobre um leito de batatinhas cortadas ao meio e douradas no azeite, e couve refogada com um toque de bacon. Desnecessário dizer que a preparação é simplesmente deliciosa, com o bacalhau se desmanchando em lascas suculentas.
Em ação com o Chef Américo dos Santos

Vamos então aos vinhos, cujas notas de degustação vão a seguir:

1 – Espumante 3b – Filipa Pato
Este rosé é um corte de Bical e Baga, obra da talentosa enóloga Felipa Pato, filha de Luís Pato. É cremoso, com bom frescor e intenso perlage. Nariz a frutas frescas, em especial morangos, e algo de fermento. Média persistência.
3D

2 – Portal do Fidalgo Alvarinho 2009
Ótimo Vinho Verde, da Provam. Refrescante, cítrico e mineral, muito intenso no nariz. Em boca, direto, focado, longo, com marcada sapidez. Alvarinho de fato!
3D+

No que se refere à harmonização propriamente dita, o bacalhau é, como se sabe, diferente da maior parte dos peixes. Como dizem alguns portugueses que eu conheço, carne é carne, peixe é peixe, e bacalhau é bacalhau. Devido a sua textura mais firme, e seu sabor mais intenso, não é incomum encontrar sugestões de harmonização de pratos de bacalhau com vinho tinto, mas eu, particularmente, continuo acreditando que as melhores opções estão entre os brancos, sempre respeitando, obviamente, a textura e intensidade do prato específico.
No caso particular do Bacalhau Confitado do Chef Américo, temos uma textura muito delicada, em função do processo de cocção no azeite. Encontramos também marcada aromaticidade, por conta das ervas e especiarias, além do discreto amargor da couve, e do defumado do bacon. E temos ainda a intensa untuosidade do azeite, utilizado sem parcimônia nesta preparação. Com esta combinação de ingredientes, podemos supor, de antemão, que ambos os vinhos se sairiam bem, e o fizeram, afinal, ambos tem acidez para balancear a untuosidade, e ambos tem boa intensidade aromática. Num primeiro momento, julguei que o espumante se sairia melhor, por ser um pouco mais estruturado que o Alvarinho; no entanto, a delicadeza do bacalhau era tal, que o Vinho Verde acabou sendo o melhor parceiro deste prato, fazendo frente tanto a sua estrutura, quanto a sua aromaticidade e untuosidade. Um casamento dos mais felizes!

Ainda com o Chef Américo, agora já na companhia do talentoso Chef William Ribeiro, do paulistano O Pote do Rei, fizemos a gravação de um vídeo de divulgação do Festival de Vinhos Portugueses em Restaurante, promovido pela Vinhos de Portugal, e que acontecerá entre 14/11 e 04/12, em restaurantes selecionados de São Paulo e Rio de Janeiro. Ótima oportunidade de descobrir um pouco mais da diversidade enológica portuguesa e, de quebra, concorrer a uma viagem com tudo pago a Portugal! Além do Bacalhau do Chef Américo, o Chef William preparo um delicioso Lombo de Cordeiro com Açorda de Natas, e ambas as receitas farão parte do vídeo. Tão logo o mesmo esteja na rede, posto por aqui.
Concentração total com os Chefes William e Américo

Bom, espero que tenham gostado. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post ”Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sinfonia de Brancos de Portugal

Ok, o título é meio poético, mas não é de minha autoria. A convite da Vinhos de Portugal apresentei no último dia 26 uma palestra e degustação com este tema, durante a Semana Mesa SP, organizada pela revista Prazeres da Mesa. Já escrevi bastante sobre Portugal aqui, até por conta de minha viagem para lá no meio do ano, mas, pelos vinhos que provei nesta apresentação, achei que valia a pena me repetir...

Nossa tendência, aqui no Brasil, é pensar em Portugal apenas por conta de seus tintos, além do Vinho do Porto. Porém, dentro do seu universo de quase 300 castas autóctones, as brancas desempenham um papel importante na vitivinicultura lusitana. De norte a sul produz-se bons brancos, dos mais variados estilos; alguns muito particulares, outros, de classe internacional. Nesta prova, pude averiguar, mais uma vez, por meio de um panorama por várias castas e regiões, a elevada qualidade média dos brancos de nossos patrícios, e minhas impressões sobre os vinhos degustados partilho agora com vocês.

1 – Quinta da Aveleda 2010 (Vinhos Verdes)
Já degustado e comentado aqui, por ocasião de minha visita à Aveleda. Um Vinho Verde “de manual”, com bom frescor, aromas cítricos, alguma mineralidade e boa persistência, obtido a partir de um corte de Alvarinho, Loureiro e Trajadura. Ótima pedida para o nosso verão, é importado pela Interfood, e custa cerca de R$ 37,00.

3D

2 – Quinta do Cruzeiro 2010 (Vinhos Verdes)

Aqui o corte já é de Loureiro, Arinto e Trajadura. Um pouco mais fresco e aromático, com um floral mais intenso. A vinícola é representada pela Tambuladeira, empresa que representa os interesses de várias pequenas vinícolas portuguesas no mercado brasileiro. Importado pela Gracciano, custa cerca de R$ 30,00.

3D

3 – Campolargo Arinto 2010 (Bairrada)

Um dos ótimos vinhos de Carlos Campolargo, este Arinto surpreende. Ótimo frescor, notas de frutas amarelas frescas, algo de cítricos e florais, entremeados por delicadas notas biscoitos, por canta de sua maturação sobre borras finas. Cremoso, preciso e persistente. Importado pela Mistral, custa cerca de R$ 100,00.

4D

4 – Monte de São Sebastião Branco 2010 (Douro)

Este corte de Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio está entre os bons vinhos brancos do Douro, com estilo e elegância para o mercado internacional. Fresco, mineral, de média persistência, com um agradável retrogosto. É importado pela Vinhas do Douro, e custa cerca de R$ 64,00.

3D

5 – Maritávora Reserva 2009 (Douro)

Também representada pela Tambuladeira, a Maritávora fica localizada no Douro Superior, e conta com os serviços do enólogo Jorge Serôdio Borges. Elaborado com Códega do Larinho, Rabigato, Viosinho, e uma parcela de 20% de vinhas velhas, é um branco complexo, macio, que evidencia sua fermentação em barricas. Cítricos, ervas aromáticas, notas minerais e discreto tostado, com boa persistência. Importado pela Gracciano, custa cerca de R$ 125,00.

4D

6 – Baron de B Reserva 2009 (Alentejo)

Produzido pela Herdade da Calada, com a casta Antão Vaz, que em muitos pontos lembra a Chardonnay, como sua boa adaptação a climas quentes, e sua aptidão ao uso de madeira. Um branco de mais corpo, macio, com média acidez e notas de fruta madura. Bem agradável. Importado pela Adega dos Três, custa cerca de R$ 80,00
3D+

7 – Monte Cascas Malvasia Colares 2008 (Lisboa – Colares)

O vinho que mais me surpreendeu nesta prova. Produzido na região de Colares, dentro da grande Lisboa, com a casta Malvasia Fina. As videiras são plantadas em solo arenoso, sem nenhuma condução específica, ou seja, como um arbusto. A fermentação se dá em barricas, e segue um período de 11 meses de maturação sobre as borras, com battonage quinzenal. A coloração é um belo palha-dourado, no nariz, iodo, maçãs, notas oxidativas, amêndoas, lembrando um pouco um Jerez Fino. Em boca, tem bom corpo, excelente frescor, e uma marcada sapidez, quase salgado. Longo e equilibrado. É importado pela MS, com um preço de cerca de R$ 150,00

5D

8 – Venâncio da Costa Lima Moscatel de Setúbal (Península de Setúbal)

Equilibrado, com notas marcadas de doce de laranja e frutas cristalizadas. Doçura agradável e boa persistência. É importado pela Deu La DeuVinhos, e custa impressionantes R$ 27,00.

3D+

9 – Bacalhôa Moscatel de Setúbal 2004 (Península de Setúbal)

Mais complexo e elegante, com algo de flores, amêndoas e nozes, além de mel, frutas secas e cristalizadas. Excelente exemplar, representativo da qualidade elevada desta DOC. É importado pela Portuscale, mas infelizmente vou ficar devendo o preço ok?

4D

Para completar, só faltaram dois brancos muito particulares, dos quais eu gostaria de fazer uma pequena propaganda, o Porto Branco (sim, ele existe!) e o Madeira, principalmente aqueles feitos com as castas brancas, Sercial, Verdelho, Terrantez, Bual e Malvasia. São vinho únicos e deliciosos. Se você ainda não conhece, prove!

Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até a próxima.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Harmonizando Bordeaux

Após uma pequena ausência, de volta aqui ao blog, com um pouco de harmonização. Mas não uma harmonização qualquer, e sim um jantar completo, com uma seleção de diferentes terroirs de Bordeaux!
Château Lagrange
O jantar em questão teve lugar no Olivetto Restaurante e Enoteca, em Campinas, no último dia 25; e ali tivemos a oportunidade de apresentar uma seleção de vinhos bordaleses do portfólio da Cantu Importadora, e que hoje fazem parte de nossa Carta.  Aqui tínhamos duas propostas; a primeira, do evento em si, era apresentar diferentes comunas e estilos, mostrando um pouco de nossa seleção de vinhos franceses, e dissipando um pouco do preconceito que ainda existe entre muitos consumidores, de que vinho francês bom é, necessariamente, caro.
Neste ponto, os objetivos foram atingidos! O interesse e receptividade do público foram bem positivos, e pudemos ainda contar com o competente trabalho do Chef Fábio Amaral na elaboração e confecção dos pratos que discutimos anteriormente. É importante frisar que, sempre que um evento semelhante ocorre no Olivetto, trata-se de um trabalho de quase dois meses, que passa pela seleção dos vinhos, pela elaboração do cardápio harmonizado, pelos testes, e obviamente pela divulgação e venda do evento em si. Com casa cheia, pudemos então degustar estas peças, harmonizadas com belos pratos, e conversar um pouco sobre algumas peculiaridades de Bordeaux, conforme segue:


Entrada
Vinho – Château Peyruchet Les Parcelles du Moullin 2007
Um corte de 85% de Sauvignon Blanc e 15% de Semillon. Embora o rótulo traga a AOC Bordeaux, os vinhedos ficam na comuna de Loupiac, entre Entre-Deux-Mers e Graves, com solos que combinam argilo-calcáreos e algo de cascalho. Trata-se de uma região reputada pela boa relação custo/benefício de seus vinhos, fato que se confirma neste exemplar, fresco, de leve a médio, macio e com boa persistência, além de um discreto toque mineral.
3D
Prato – Endívias e Vieiras Crocantes ao Aroma de Pêssegos
Vieiras marinadas e salteadas, empanadas e fritas, com uma camada crocante, acompanhadas de folhas de endívias e um delicado coullis de pêssegos. Uma preparação leve, pensada para acompanhar o vinho, e não suplantá-lo, função cumprida com êxito. A maciez do vinho foi bem adequada para a textura firme e ao mesmo tempo delicada das vieiras, e seu frescor balanceou de forma adequada a discreta untuosidade conferida pela fritura. Para completar, o aroma discreto do coullis de pêssego, presente também no vinho.


1º Prato


Vinho – Château Louive 2006 – Christian Veyry (Saint-Émilion)
Obtido com 80% de Merlot e 20% de Cabernet Franc, de vinhedos classificados como Grand Cru nesta denominação da margem direita do rio que corta a região. Aqui, os solos de calcário e argila favorecem a maturação da precoce Merlot, razão pela qual ela, e não a Cabernet Sauvignon, é a casta dominante deste lado do rio. O Louive, em especial, apresenta em seus 5 hectares solos variados, entre argilo-calcáreos, arenosos e argilo-arenosos. O vinho resultante é maduro, fino e elegante, com ótimo frescor e boa presença de boca, além de ricos e finos taninos.
3D+
Prato – Mil-Folhas de Roast-Beef com Ragôut de Cogumelos
A textura delicada da massa folhada, combinada ao sabor e textura do roast-beef, e ao sabor bem típico dos cogumelos frescos, com um roti de cebolas. Em termos de aromas e sabores ouve uma boa complementaridade entre vinho e prato, com o vinho levantando o prato no meio de boca e o prato reforçando o retro olfato do vinho; porém, faltou intensidade ao prato. Talvez utilizando uma carne de caça, ao invés da carne bovina no roast-beef, a harmonização seria perfeita, mas como ficou, embora tenha ido bem, ficou e impressão que podia ser melhor.


2ºPrato


Vinho – Château Tour du Roc Milon 2006 (Pauillac)
A mais emblemática comuna de Bordeaux, representada por um vinho com toda sua tipicidade. Um corte de 60% de Cabernet Sauvignon, 20% de Merlot e 15% de Cabernet Franc, complementadas por Petit Verdot e Malbec. Neste solo rico em cascalho, o vinho apresenta o tradicional caráter de Pauillac, com bom corpo, fruta madura, especiarias e algo mineral. Um bom vinho, que já ostentou, inclusive, a classificação de Cru Bourgeois nos anos 1930.
4D
Prato – Carré de Cordeiro em Crosta de Cebolas com Quenelles Crocantes de Risotto
O clássico da harmonização; Bordeaux de Pauillac e cordeiro. Os suculentos carrés levavam uma camada de crocantes cebolas desidratadas, e foram escoltados pelos quenelles. Boa complementaridade de aromas, sabores e texturas, que ilustra muito bem por que as harmonizações clássicas são, de fato, clássicas.

3º Prato


Vinho – Château Lagrange 2007 (Saint-Julien)
Presente na reputada classificação de 1855, como um Troisième Cru Classé, este corte de 65% de Cabernet Sauvignon, 28% Merlot e 7% Petit Verdot, apresenta ótima estrutura, muito frescor, aromas intensos e complexos, que vão abrindo e mudando na taça. Taninos abundantes e muito finos, equilibrados, e com um longo fim de boca. Sem dúvida um belo exemplar de Bordeaux.
4D+
Prato – Entrecôte com Crocante de Alho Poró e Purê Rustico de Lentilhas
A maciez, suculência e discreta gordurosidade do entrecôte, com um toque de roti e o sabor adocicado e terroso das lentilhas combinaram-se em uma prodigiosa harmonização com o vinho, ambos complementando-se de forma bem positiva.


Sobremesa


Vinho – Château Des Comperes Sauternes 2005
Sauternes é Sauternes... Sempre uma experiência para os sentidos. Temos aqui 90% de Semillon, 8% de Sauvignon Blanc e 2% de Muscadelle, resultando em um vinho equilibrado, untuoso, com ótimo frescor, aromas de frutos amarelos maduros, notas florais, mel e frutas secas. Sobra um pequeno amargor no final, mas nada que comprometa muito.
3D+
Prato – Abacaxi Assado com Calda de Frutas Exóticas e Sorvete de Gengibre e Canela
A melhor harmonização da noite! Perfeito casamento entre as sensações, aromas e sabores do prato e do vinho, além das diferentes temperaturas e texturas, que chamam os sentidos à atenção aos detalhes da combinação.


Lá atrás eu disse que este evento tinha duas propostas, lembram? Pois bem, a segunda era funcionar como um “aquecimento” para nosso próximo Wine Dinner. Dia 29 de novembro, celebrando a conquista do título de 2ª Melhor Carta de Vinhos do Brasil, pelo Guia 4 Rodas 2012, o Olivetto realizará em Campinas, pela primeira vez, um degustação com os 5 Premier Cru Classés de 1855, e mais o Chateau d’Yquem, seguida de um jantar mais do que especial, onde a grande estrela será o Château Lynch-Bages 1999. Uma oportunidade única para provar tantos grandes vinhos em uma só ocasião. A quem possa interessar, segue o cardápio completo do evento.


Bom, por hoje é só. Espero que tenham gostado das harmonizações propostas!
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.


Grande abraço e até a próxima.

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