quarta-feira, 23 de março de 2022

Japão - Escanção

 O Japão é uma nação muito particular. Seu hábitos e cultura, livros, séries, comida e tanto mais, hoje ocupam um espaço importante no imaginário popular e tem forte influência cultural em povos de todos os lados. Hoje consumimos cultura, comida e bebida japonesas, em grandes quantidades, diga-se de passagem.

Mas... e o vinho japonês?

Pois é, o Japão vai muito, muito além do Nihonshu (popularmente conhecido como Sakê), com uma rica e antiga produção vitivinícola, que data já de muito séculos, ainda que oscilando entre altos e baixos, por conta de diferentes correntes e opções políticas; vale citar, por exemplo, o período do Shogunato, quando senhores feudais controlavam o país e tudo o que vinha de fora, especialmente do então remotíssimo Ocidente, era visto como algo a ser evitado, incluso o vinho.

O Japão tem uma localização geográfica muito particular, exatamente entre a maior massa de água do planeta, o Pacífico, e a maior massa de terra, e Eurásia. Isso e outros fatores, fazem com que o clima local não seja exatamente convidativo à vitivinicultura, com frio intenso no inverno, chuvas torrenciais na primavera e a constante ameaça de tufões e tempestades. Some-se ainda a geologia local, com uma paisagem sobretudo montanhosa e íngreme, onde os poucos pedaços de terra relativamente plana e fértil são valorizados e disputados para a produção de alimentos.

Mas nada disso impediu que o Japão se desenvolve uma indústria do vinho hoje pujante e dinâmica, onde pesquisa e tecnologia caminham lado a lado com a tradição, na busca pela produção de mais e melhores vinhos.

A vitivinicultura moderna tem seu início ainda no final do séc. XIX, com os dois maiores nomes da produção de vinhos e bebidas nacionais, as centenárias Suntory e Mercian, surgindo nessa época. O “berço” e, ainda hoje, centro da produção nipônica é a prefeitura de Yamanashi, relativamente próxima de Tóquio, nos arredores do monte Fuji, mais destacado e reconhecido cartão postal do país. Aqui condições de clima mais seco e menos nublado permitem o cultivo de frutas, inclusive uvas, ainda em grande parte ainda consumidas in natura. Mas hoje a produção é muito mais difundida por todo o país, com vinícolas operando em 45 das 47 prefeituras que compõem o Japão.

O arquipélago que compõem o país tem grande extensão de Norte a Sul, o que faz com que haja uma grande variação climática. Adicione-se o relevo montanhoso a esta fórmula e temos os ingredientes para a composição de uma miríade de terroirs, cada qual com seu distinto microclima, do subtropical ao frio.

Hoje a segunda região de maior importância é Nagano, localizada ao Norte de Yamanashi e com similaridades climáticas. Até pela proximidade, além da menor suscetibilidade às chuvas intensas, a região tem atraído importantes investimentos. Outra região que chama atenção e merece destaque é Hokkaido; a ilha mais ao Norte do arquipélago.

Hokkaido a priori seria muito fria para o cultivo, porém as mudanças climáticas vêm permitindo cada vez mais a maturação adequada de uvas para vinho, até por conta do fato que sua localização reduzir muito a influência de tufões e chuvas. Assim, ainda que o número de horas sol anual seja 33% menor, é possível a maturação adequada, sobretudo de castas mais adequadas a clima frios, entregando vinhos frescos e de acidez vívida.

Mas falar em castas aqui no Japão é um capítulo à parte, tratando-se de um país onde não reinam, necessariamente, as castas viníferas mais conhecidas. Ainda que encontremos cultivos aqui de castas como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Merlot, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Franc, entre tantas outras, os cultivos mais expressivos são de castas híbridas ou de mesa, mais adaptadas aos rigores do clima local. Das uvas de mesa ocupam os postos principais nos vinhedos japoneses; a local Kyoho e a americana Delaware; que ainda que sejam direcionadas principalmente ao consumo in natura, são também utilizadas na produção de vinhos, mas simplórios.

A casta hibrida de melhores resultados é a Muscat Bailey A, criada aqui mesmo. Quando bem trabalhada produz tintos decentes, ainda que carentes de profundidade. Mas a principal uva daqui é uma Vinífera, a Koshu.

As menções a Koshu são antigas, de séculos, o que levou mesmo a afirmação que seria uma casta autóctone, surgida ali em território japonês; no entanto, pesquisas genéticas mais cuidadosas indicam que sua origem é europeia, ainda que não seja possível determinar com precisão de onde nem a partir de quais castas. A hipótese mais provável é que ela tenha sido trazida por mercadores, através da rota da seda, em um passado distante. Suas uvas de casca rosada são saborosas, grandes e doces, fazendo com que a Koshu tenha sempre sido muito cultivada como uva de mesa, mas o trabalho cuidadoso de tantos e tantos produtores têm permitido a produção de vinhos cada vez melhores, mais limpos e focados, com deliciosa acidez. Há versões com e sem madeira, além de versões cada vez mais frequentes maturadas sobre as borras finas, para maior complexidade e textura de boca.

Pronto para encontrar o Japão nas melhores cartas de vinhos muito em breve?


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