sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um Pouco Mais de Áustria...

Vinhedos de Burgenland
Já falei um pouco sobra a Áustria e seus vinhos em um post anterior (Você Conhece a Zweigelt?), e ali também comentei sobre alguns vinhos degustados a convite a The Special Wineries, importadora especializada nos vinhos daquele país. Dia destes tive a oportunidade de participar de um almoço organizado pela importadora, como parte de uma série de eventos para divulgação dos produtos austríacos realizada em várias cidades do Brasil. Esta série de eventos contou com o apoio do Departamento Comercial do Consulado Geral da Áustria, e apresentou, inclusive, vinhos de outras importadoras, reforçando o caráter institucional dos eventos.
Informações muito relevantes a respeito da cultura do vinho na Áustria podem ser encontrados no site da Austrian Wine, bem como no sita da importadora, The Special Wineries.
Contamos neste almoço com a presença da simpática Kathrin Schreiner, um das proprietárias da Sonnenmulde, uma das vinícolas apresentadas. Porém, sempre que solicitada, Kathrin mostrou-se muito solicita em esclarecer dúvidas sobre a Áustria como um todo, demonstrando a clara visão de que os demais players do mercado, sejam vinícolas, importadoras, negociantes ou o próprio governo, são antes aliados do que concorrentes. Fica a dica para nossas vinícolas...
O painel contou com 6 vinhos, alguns ainda não disponíveis no Brasil. O almoço aconteceu no Bellini Ristorante, em Campinas, com o serviço de vinhos sob responsabilidade de seu competente sommelier, Itamar. Seguem minha observações sobre os vinhos:

1 - Burgundersekt Extra Brut 2004
Curioso espumante, produzido pela Graf Hardegg, em Weinviertel, Niederösterreich, ao norte de Viena. A vinícola é biodinâmica, e conta com mais de 400 anos de tradição. Este espumante Método Clássico é produzido a partir das castas Pinot Noir e Chardonnay, e passa por um período de amadurecimendo sur lie de 36 meses. Tem boa acidez e equilíbrio, com aromas típicos de brioche e leveduras. Bom perlage e persistência, mas com as bolhas um pouquinho grandes de mais para um Método Clássico, porém nada que chegue a comprometer o resultado final.
3D+

2 - Lois Grüner Veltliner 2009
Do produtor Fred Loimer, de Kamptal, este branco biodinâmico apresenta toda a tipicidade desta casta tão ligada a vitivinivultura austríaca. Nariz fino, com boa complexidade, maças verdes, algo de especiarias em boca, ervas aromáticas, reforçado pela adequada acidez e equilíbrio.
3D+

3 - Zöbing Riesling 2009
No post anterior sobre a Áustria já havia mencionado este vinho, e esta nova degustação confirmou sua qualidade. Produzido pelo Weingut Hirsch, em Kamptal, apresenta um intenso mineral, notas de frutas brancas e amarelas, florais e cítricos. Acidez intensa e agradável, em um conjunto bem seco e elegante.
Aqui vale destacar que, enquanto na Alemanha, e na maior parte dos países, um vinho seco pode ter até 4g/l de açúcar residual, na Áustria este número cai para 2g/l, ou seja, vinho seco é seco mesmo...
4D

4 - Sonnenmulde Rosé Blaufränkish 2010
Primeiro vinho degustado da Sonnenmulde, obtido a partir de uvas plantadas em Neusiedlersee, Burgenland, segundo os princípios da biodinâmica. Agradável e fácil de beber, com típicas frutas vermelhas frescas, ótimo frescor e equilíbrio, médio corpo e média persistência. Só faltou um pouquinho de persistência aromática...
3D+

5 - Sonnenmulde Blaufränkish 2008
Agora um tinto, da mesma vinícola e da mesma casta, com fermentação em inox e estágio em barricas. Um vinho fino e elegante, com frutas negras e vermelhas, leve adstrigência e taninos maduros, macios. Acidez adequada e média persistência. Muito agradável.
4D

6 - Forticus 2005
Eis um vinho que você não espera encontrar na Áustria! Um Merlot 100%, fortificado no estilo Porto, com 3 anos de barrica. Também produzidos pela Graf Hardegg, do espumante acima, este vinho apresentou aroma muito intenso de cacau, chocolate e algo de café. Frutas em compota, como morangos e amoras. Macio e untuoso, com boa acidez e persistência. No mínimo, curioso.
3D+

Bom, espero que tenham gostado, e que, juntamente com meu post anterior, este post possa despertar em vocês o interesse de conhecer melhor os bons vinhos deste encantador país que é a Áustria.
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima, com o post nº 100 deste blog!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Degustação - Château Rieussec 1998 e Château d"Yquem 1998

Enfim, os doces! As melhores calorias de qualquer refeição.
Aqui, acompanhando um delicado canapé de foie gras em calda de kinkan e especiarias, e, mais tarde, uma trilogia de brullés, pudemos degustar duas jóias da vitivinicultura bordalesa, mais especificamente da comuna de Sauternes. Embora não hajam registros precisos sobre quando iniciou-se a produção de vinhos doces nesta região, existem indícios que apontam para a comercialização de vinhos doces aqui já no séc. XVII. Sauternes goza de condições muito específicas de relevo e clima, que permitem o surgimento da podridão nobre, a botrytis cinerea, praticamente todos os anos. O relevo e a presença do Ciron, tributário do rio Garonne, garantem as condições muito precisas de umidade e insolação necessárias.
Inicialmente, Rieussec, vizinho de cerca do Château de Yquem.

Esta propriedade pertencia, até a revolução francesa, ao monges Carmelitas de Langon, tendo sido então confiscada e posteriormente vendida a proprietários particulares. Após várias trocas de comando, Rieussec passou, em 1984, ao comando do Baron Eric de Rothschild, proprietário de Lafite. Desde então grandes investimentos tem sido feitos visando a melhora significativa dos vinhos ali produzidos, sempre tendo em mente o grande potencial de seu terroir, muito próximo a Yquem.
As colheitas, desde então, tem sido mais criteriosas, e a vinificação mais bem cuidada, incluindo o uso de barricas novas, e maiores estágios em madeira, sempre visando um vinho de qualidade superior; fato este que se confirma na taça.
A coloração é de um dourado intenso, com bom brilho, e boa consistência. No nariz, um toque cítrico, com casca de limão siciliano, abacaxi em calda, flores brancas, cera e mel de abelhas, além das evidentes notas de botrytis. Em boca, bom frescor, longo, macio e equilibrado, com mel evidente no retro olfato. Excelente vinho.
5D
E por fim, o ícone máximo dos vinhos doces da França, o Château d'Yquem.

Pertencente aos ingleses até 1453, quando passou ao controle francês, Yquem sempre foi reconhecido como a melhor propriedade da região. De 1785 até 1999 foi controlado pela família Lur Saluces, que levou este vinho da condição de grandioso a condição de icônico, que ele ocupa até hoje, Desde 1999 o controle acionário pertence ao grupo LVMH, e desde 2004 cabe a Pierre Lurton a direção da vinícola.
A safra de 1998 apresentou alterações climáticas que levaram a duas colheitas em Yquem, em setembro e outubro, afim de garantir a colheita apenas das melhores uvas. Vale lembrar que esta prática é comum no Château, que já chegou a ter 14 colheitas em um mesmo ano, sempre recolhendo apenas as uvas perfeitamente secas e atingidas completamente pela podridão nobre.
A coloração deste Yquem é de um belo tom dourado, com ótimo brilho, já evocando seu agradável frescor. No nariz, muito complexo, com notas balsâmicas, mel, frutas amarelas em calda, cera, caramelo, tostado, jasmim e flor de laranjeira, além de botrytis. Na boca, denso, cremoso, com bom frescor, quase viscoso, com doçura equilibrada e longo final de boca. Um belo exemplar, que faz jus a fama deste grande vinho.
5D+


Château d'Yquem ao fundo, com uma parte de seu privilegiado terroir
 A impressão geral deste painel foi bem positiva. Conforme eu já havia mencionado no primeiro post desta série, eu já havia degustado a maior parte destes vinhos, porém em ocasiões diferentes, nunca todos em uma só ocasião, como aqui. Minha opinião, em parte, permanece; grandes vinhos são grandes vinhos, de fato, porém com preços que não correspondem perfeitamente a suas qualidades. Afinal, para ficar no caso destes últimos dois, Yquem é um grande vinho sim, superior ao Rieussec sim, mas não 4 vezes melhor, embora seja, nesta safra em especial, 4 vezes mais caro.
Não me ajoelho e faço reverência a estes grandes nomes, mas reconheço que são sim merecedores de sua fama, que foi construída ao longo de séculos, e não em meras três décadas de boas notas recebidas de críticos nacionais! (Sim, isso foi uma crítica aos vinhos californianos endeusados pelo duo Parker/Wine Spectator)
Perceber a constância, a qualidade e a elegância deste belos vinhos só reforçam meu respeito pelos vinhos franceses das denominações mais tradicionais, pois saborear estas especialidades, mais do que saborear bons vinhos, sempre é saborear uma boa dose de história, história muito saborosa, diga-se de passagem!
Bom, espero que tenham gostado deste relato. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Degustação - Château Lafite-Rothschild 2002 e Château Haut-Brion 1999

Apenas relembrando, para quem não acompanhou meus últimos quatro posts, venho apresentando aqui um pouco mais a respeito dos vinhos degustados durante o memorável jantar ocorrido no Olivetto Restaurante e Enoteca em novembro, do qual já passei o cardápio completo em outro post.Agora, encerrando nossa seleção de tintos, mais dois belos Premier Crus, Lafite e Haut-Brion.
Inicialmente, o Château Lafite-Rothschild 2002!

Embora esta propriedade compartilhe o sobrenome com o Château Mouton, ambas são totalmente independentes, pertencendo a ramos separados da família. O Château Lafite em especial é uma propriedade muito antiga, com os primeiros registros a seu respeito datando de 1234. Porém, assim como a Château Latour, apenas no séc. XVII a propriedade passou a gozar de maior prestígio. Nesta época Lafite, Latour e Mouton pertenciam ao mesmo dono, Jacques de Ségur. No princípio do séc XVIII, seus descendentes obtém êxito em fornecer vinho para a casa real, fazendo com que Lafite se tornasse, na época, o vinho favorito da corte francesa. Testemunho da qualidade superior do vinho já nesta época, vem dos escritos do ex-presidente americano Thomas Jefferson, então embaixador da jovem república dos Estados Unidos na França. Após alguns meses de visitas e estudos dos vinhedos e vinhos de Bordeaux, Jefferson inclusive elaborou sua própria classificação de qualidade dos vinhos da região, e apontou como os melhores vinhos justamente aqueles que, mais de 70 anos depois, seriam os quatro Premier Crus Classés originais, Lafite, Latour, Margaux e Haut-Brion.
É importante frisar que durante todo este período, as trocas de comando foram frequentes, como é comum à história de muitas propriedades bordalesas. Foi apenas mais de uma década após a classificação de 1855, mais precisamente em 1868, a o Château Lafite foi adquirido pelo Barão James de Rothschild, e passou, então, a ostentar seu sobrenome.
Hoje a propriedade é administrada pelo Barão Eric, que foi o responsável pelas recentes renovações pela qual o Château passou, com melhoria em sua estrutura, avanços tecnológicos, e aquisição de outras propriedades, na França e fora dela, como por exemplo Duhart-Millon, Rieussec, Viña Los Vascos, entre outras.
Mas, dados históricos a parte, vamos ao vinho!
A safra 2002 não foi fácil, com um inverno quente e seco, e temperaturas baixas na época da floração, o que levou a quedas de rendimento, devido ao desenvolvimento desigual das videiras. Melhoras mais próximas a colheita permitiram, apesar das quantidades menores, obter-se, ainda assim, vinhos de boa qualidade, densos, com taninos fechados, e bom potencial de guarda. A coloração ainda é de um rubi intenso, com poucos sinais de evolução; o nariz é fechado, demora a se mostrar, com notas balsâmicas, especiarias doces, castanhas e um leve floral. Em boca, ótimo frescor, fino e agradável, com taninos de boa qualidade, elegantes e bem colocados, dando suporte a um longo fim de boca. Um vinho que definitivamente ainda precisa de alguns anos de adega para mostrar o seu melhor.
5D+
Em seguida, o único Premier Cru de fora do Médoc, o Château Haut-Brion!

A propriedade existe como produtora de vinhos de alta qualidade em Péssac-Léognan desde o séc XV, e desde então passou pelas mãos de cinco famílias. Vale destacar que, na "classificação" informal feita por Thomas Jefferson, Haut-Brion era seu favorito. A propriedade foi adquirida em 1934 pelo banqueiro americano, filho de uma francesa, Clarence Dilon, e é administrada desde 2008 por seu bisneto, Príncipe Robet de Luxembourg. Outra característica importante deste vinho é seu caráter único, com marcadas notas animais, que o tornam, em geral, muito fácil de ser reconhecido em meio aos demais Premier Crus, mesmo às cegas. Isto se deve a presença de Brettanomyces, uma cepa de levedura que, embora muitos considerem um defeito, em pequenas quantidades pode acrescentar uma significativa complexidade aromática ao vinho. Aqueles que defendem a presença de Brett como um componente de complexidade, usualmente citam Haut-Brion como exemplo; afinal, seria impossível imaginar este vinho sem seu marcado caráter olfativo.
A safra de 1999 em especial foi marcada por uma série de eventos meteorológicos extremos, mas resultou, ao final, em vinhos de boa qualidade. Este Haut-Brion em particular apresenta coloração rubi intensa, com discretos reflexos grená; no nariz, uvas passas, notas animais, estábulo, especiarias e flores, tudo muito bem integrado; em boca, intenso, com muitos e finos taninos, macio, potente e longo.
5D+
Bom, espero que tenham gostado. No próximo post, sobremesas, com dois vinhosinhos da região, Château Rieussec e Château d'Yquem, ambos 1998. Até lá!
Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima!

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