sábado, 10 de dezembro de 2011

Degustação - Dom Pérignon 2002 e Château Larrivet Haut-Brion 2005

Comecemos pelo começo! Conforme mencionei em meu último post, neste e nos próximos vou falar um pouco sobre os vinhos degustados por ocasião do Wine Dinner promovido pelo Olivetto Restaurante dia 29/11.
Mas, antes dos vinhos, preciso corrigir um lapso do último post. Faltou mencionar o motivo da realização de um evento tão especial! Nosso "jantarzinho" teve como objetivo celebrar a escolha de nossa Carta de Vinhos como a 2ª Melhor do Brasil pelo Guia 4 Rodas, atrás apenas do Curitibano Dursky, ou seja, a frente de todos os grandes restaurante de São Paulo e Rio de Janeiro. O Guia 4 Rodas dispensa apresentações, pois trata-se da mais respeitada publicação do gênero no país, classificando restaurantes segundo critérios estritamente técnicos, sem atitudes bairristas ou provincianas. Termos sido reconhecidos por esta publicação é um feito que nos enche de orgulho, e reforça nossa responsabilidade pela manutenção de um bom trabalho.
Mas, vamos aos vinhos. Começando pelo Welcome Drink.

Dom Pérignon é uma das marcas mais emblemáticas de Champagne. Sua garrafa é rótulo são facilmente reconhecidos em qualquer lugar do mundo. Pertencente a Möet et Chandon, que por sua fez pertence ao conglomerado LVMH, a marca presta homenagem ao monge que, reza a lenda, teria "descoberto" o Champagne, ou ao menos aperfeiçoado as técnicas de fabricação, permitindo ao mundo encantar-se com esta deliciosa e refrescante bebida que é o vinhos espumante.
A safra 2002 em especial, apresentou boa qualidade média, com as uvas atingindo bons níveis de maturação. O vinhos apresentou aromas de amêndoas levemente tostadas, algo de cítrico e frutas secas. Em boca, intenso, cremoso, com ótima acidez, e muito mais frutas que no nariz. Discreto amargo no final e longa persistência. Muito típico.
4D
Em seguida, Château Larrivet Haut-Brions Blanc 2005.

A propriedade em si já existe há mais de 200 anos, e teve vários nomes até 1949,  quando o então proprietário Jacques Guillemaude deu-lhe o nome atual.Em 1987 foi adquirido pelos atuais proprietários, a família Gervoson, que trouxe consigo um grupe de profissionais entusiasmados, que trouxeram a boa fama de volta a propriedade. O château conta também com a consultoria de Michel Roland.
A safra de 2005 em especial foi uma das melhores de Bordeaux já registradas, com os tintos em especial atingindo notas (e preços) altíssimos. Para os brancos a safra foi igualmente grandiosa, especialmente em Pessac-Léognan, com a vantagem que os vinhos ficam prontos mais cedo.
A vinícola não informa a proporção das castas utilizadas, mas tudo indica que as duas principais brancas autorizadas em Bordeaux estão presentes aqui. Nos vinhedos a proporção é de 60% de Sauvignon Blanc e 40% de Sémillon. O vinho apresenta boa intensidade aromática, com notas de frutas frescas, como pêssegos, algo de abacaxi, delicioso e convidativo, com um discreto mineral e ainda algo de cogumelos. Em boca, boa presença, acidez no ponto. Redondo, suculento, com cítricos e frutas amarelas em profusão, além de uma longa persistência. Um belo achado entre os grandes nomes de Bordeaux, com um preço mais civilizado...
4D+
Bom, espero que tenham gostado. No próximo post, vamos aos tintos, com Lynch-Bages e Le Petit Cheval, ambos de 1999.
 Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dom Pérignon, Lynch Bages, Le Petit Cheval, Mouton, Lafite, Latour, Haut-Brion, Yquem e Rieussec. Tudo ao Mesmo Tempo Agora...

Já havia comentado em meu último post, bem como no Facebook e Twitter, sobre a realização deste evento no Olivetto Restaurante.
Família feliz e reunida...
O evento ocorreu no último dia 29, e foi um sucesso, atingindo todos os objetivo planejados. O único senão ficou por conta da substituição do Margaux 2006 por um Le Petit Cheval 1999, por motivos alheios a nossa vontade... Acontece! Mas, no final tudo dá certo! Em ocasiões diferente eu já tive a oportunidade de provar a maior parte destes vinhos (graças a minha profissão, e não ao meu saldo bancário...) mas aqui o momento foi especial! Afinal, o grande diferencial foi a oportunidade de degustar todos em sequência, e por fim desfrutar de um fantástico jantar, cuidadosamente desenhado para acompanhar estas eno-especialidades.
Em linhas gerais, posso afirmar de antemão que todos os vinhos estavam muito bons, mas vou falar deles em outros posts ok? Um para cada um. Aqui vou falar um pouco sobre o menu e o evento como um todo.
Menu do Evento (ainda com o Margaux 2006)
O formato que adotamos foi o seguinte; depois do serviço do Welcome Drink, com a Dom Pérignon, acompanhada de ostras frescas com um delicado toque de flor de sal francesa, seguimos para um degustação de todos os tintos, comentando as características de cada um deles, e encerramos a degustação com o Château d'Yquem, fantástico, como de costume...
Em seguida, o jantar! Começamos com mini-escalopes de foie gras, com uma torradinha de brioche e uma leve calda de laranjas kinkan. O objetivo aqui era óbvio; permitir aos nossos convidados experimentar na prática a clássica harmonização entre foie gras e Sauternes, e qual Sauternes melhor do que Yquem? A harmonização ficou deliciosa, com a untuosidade presente tanto no prato quanto no vinho equilibrada pela acidez do vinho e pelo toque cítrico da calda de laranjas. Sucesso unânime!
Para a entrada, um ótimo vinho branco de Péssac-Leognan, da ótima safra de 2005; o Larrivet Haut- Brion 2005. Na entrada, a cauda de lagosta grelhada recebe um toque do balsâmico de laranja, enriquecido com um toque de vinagre de Jerez, e a terrine de legumes traz um toque tostado e defumado, que harmonizou muito bem com o vinho, intenso, complexo e mineral.
Já com os pratos, e idéia era permitir que cada um testasse as possibilidades de harmonização com todos os vinhos apresentados. Começamos com os aromas e sabores rústicos e terrosos dos cogumelos e da carne do faisão, combinados com maestria pelo Chef Fábio Amaral, resultando em um prato surpreendentemente delicado, e seguimos com o kobe beef, uma carne marmorizada com gordura, de textura e sabor únicos, acompanhada de um delicado risotto feto com o arroz vialone nano e lâminas de trufas. No geral, ambos os pratos foram boas companhias para todos os vinhos, com destaque para a parceria entre o Château Mouton 1998 com o Ravioli, e o Château Latour 1999 com o Kobe Beef.
Na sobremesa, um Sauternes de alto nível, o Rieussec 1998, acompanhado de uma trilogia de Crèmes Brullé com geléia de rosas. Aqui, mais uma truque de harmonização, pois um dos brullés era salgado, feito com queijo Gorgonzola, mais uma vez para testar uma harmonização clássica; de queijos azuis com vinhos doces, e o resultado foi bom, porém não o campeão. O brullé de damascos foi a melhor combinação com este grande vinho.
De fato, salvo para alguns privilegiados, degustar tantos vinhos de alto nível, com um menu especialmente harmonizado como este, é uma experiência para repetir-se poucas vezes na vida, e que com certeza permanecerá nas memórias dos participantes.

Em tempo, os vinhos foram fornecidos pela Wine Stock, importadora especializada em grandes vinhos franceses, em especail de safras mais maduras.
Nos próximos posts, falo um pouco mais sobre os vinhos.
Grande abraço e até lá.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Um Outro Chile, com MOVI

Participei nesta semana de uma degustação promovida pelo MOVI, em São Paulo, para apresentação de seus membros e vinhos.
O MOVI, Movimento das Vinícolas Independentes, é uma associação de vinícolas chilenas que atuam de forma diferenciada, em geral em pequena escala, e comprometidos com a qualidade de seus produtos, atenção esta que se inicia já no vinhedo. Segundo Felipe Garcia Reyes, proprietário da Bravado Wines, e vice-presidente do grupo, o principal pré-requisito para a participação de uma vinícola no grupo é que o proprietário esteja envolvido diretamente em TODO o processo, da plantação à venda.
Com o crescimento e profissionalização que a indústria vitivinícola chilena experimentou a partir dos anos 90, era natural o surgimento de grandes em empresas, e até conglomerados multinacionais, como é hoje a Concha y Toro, e em parte isso é positivo, pois globalizou o vinho chileno. Porém, é natural que haja, da mesma forma, profissionais preocupados com questões como sustentabilidade e tipicidade, dispostos a nadar contra a maré da padronização, produzindo vinhos únicos, que expressam não só a terra onde estão plantados, mas também a ação das pessoas envolvidas no processo produtivo, enfim, vinhos que expressem seu terroir.

O MOVI conta hoje com 19 membros, sendo que 17 estiveram com seus produtos presentes em uma série de eventos realizados em várias cidades brasileiras. A seguir, minhas notas de degustação dos 17 vinhos, e algumas informações sobre as vinícolas.

1 – Facundo 2006 – Bravado Wines
A vinícola pertence ao casal Felipe e Constanza, que desde 2006 investem em seu projeto pessoal, com vinhedos em Itata, Maule e Lolol. O vinho apresentado é um corte de Carignan, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, fragrante, com muita fruta fresca, flores, ervas, caramelo e especiarias doces; em boca é fresco, levemente sápido, longo e com finos taninos. Só sobrou uma pontinha de álcool, mas nada que comprometa o conjunto final. Importado pela Terramatter.
4D

2 – Mantum 2007 – Bustamante
Com uma produção de pouco mais de 5000 garrafas, a Bustamante localiza-se no Valle de Maule, e possui vinhas com mais de 100 anos de idade. Este corte em particular, com as castas Cabernet Sauvignon, Carmenére, Syrah e Merlot, apresenta fruta mais contida, especiarias e um leve vegetal; é seco, com média acidez, discreto amargor e média persistência, além de um discreto toque químico no retro gosto. Importado pela La Charbonnade.
3D

3 – Erasmo 2006 – Reserva de Caliboro
Sociedade entre Andrés del Solar e o Conde Francesco Marone Cinzano (isso mesmo, o do vermouth...) é produzido e engarrafado no vinhedo. Com um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, passa um ano em barricas francesas e mais um ano em garrafa. Apresenta notas florais, frutas vermelhas e negras frescas, discreto tostado e toques abaunilhados; bom corpo e frescor, macio, com taninos finos e longo final, com muita fruta. Importado pela Casa do Porto.
4D+

4 – Flaherty 2007 – Flaherty Wines
Pertencente ao casal Ed e Jen Flaherty, produz cerce de 1000 caixas a partir de vinhedos no Valle de Aconcágua. Este corte de Syrah, Cabernet Sauvignon e Tempranillo apresenta fruta madura, alcaçuz, e uma boca com bom frescor e fruta suculenta, bem agradável, com média/longa persistência. Importado pela Terramatter.
3D+

5 – Clos Andino Le Carménère 2010 – Clos Andino
Pertencente ao francês erradicado no Chile Jose Luis Martin-Bouquillard, o projeto Clos Andino foi iniciado em 2007. O foco neste vinho, que além da Carmenére leve pequenas partes de Cabernet Sauvignon e outras castas, é, a partir do terroir chileno, obter um vinho com a elegância e tipicidade peculiar dos vinhos franceses. Tem muitos aromas terciários, animais, como carne de caça e couro, além de um fruta negra discreta e um leve defumado. É fresco, com taninos finos, e um pequeno amargor final. Ainda sem importador no Brasil.
3D

6 – Lot #27 Old Vine Carignan Field Blend 2010 – Garage Wine Co.
Pertencente a Derek Moosmam, a vinícola faz, em suas origens, jus ao nome; começou em 2001, de forma irregular, na garagem da família em Santiago. As uvas são adquiridas de pequenos produtores, que cuidam de forma artesanal de suas frutas, e artesanalmente o vinho e produzido, sempre me pequenos lotes, e utilizando garrafas recicladas no engarrafamento. O Lot #27 em especial é um corte de Carignan e Grenache, plantadas juntas e misturadas já na colheita, produzindo um “field blend”, que homenageia, nesta safra 2010, a resistência dos lavradores do Maule, atingidos pelo terremoto daquele ano. Traz muita especiaria doce, como canela e cravo, fruta bem madura, quase geléia, e um marcado mineral. Tem bom frescor, é macio, vivo, suculento e longo. Importado pela Premium.
4D

7 – Gilmore Hacedor de Mundos Cabernet Franc 2007 – Gilmore
Pertencente a Andrés Sanchez e Daniella Gilmore, a vinícola fica instalada no Valle de Loncomilla, na cordilheira da costa. O fundador, Francisco Gilmore, instalou-se ali no fim dos anos 80, adquirindo vinhedos que pertenciam a centenária vinícola Tabontinaja. Com vinhedos da casta inferior País, já com mais de 80 anos de idade, Francisco aproveitou-se de suas raízes profundas e enxertou variedades francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Carignan. A Carignan em especial recebe uma atenção particular da vinícola, que faz parte do Club del Carignan. Já o Cabernet Franc degustado apresentava fruta madura, notas animais, balsâmico; em boca, bom corpo, muitos e finos taninos, com muita fruta e longa persistência. Pede mais alguns anos de garrafa. Importado pela Ana Import.
3D+

8 – I Latina Carmenére 2009 – i-Wines
Produzido a partir de vinhedos em Peumo, mais prestigiada região chilena para a produção de Carmenéres topo de gama, este vinho, que leva também uma pequena parte de Syrah, tem notas marcadas de chocolate amargo e tostado, evidenciando sua passagem por barricas, além de frutas em compota e um discreto herbáceo. Em boca é fresco, com o tostado mais marcado, bom corpo, macio, com média/longa persistência. Importado pela Berenguer Imports.
3D+

9 – Single Vineyard Limited Edition Syrah 2007 – Lagar de Bezana
Fundada em 1998 pelo empresário Ricardo Benzanilla Renovales, recentemente falecido, a Lagar de Bezana produz principalmente Cabernet Sauvignon e Syrah, buscando a máxima expressão do terroir do Valle de Cachapoal. Este Syrah 2007 em particular tem um nariz delicado, fino, com boa fruta madura e discreta nota de especiarias; boa presença de boca, taninos finos e abundantes e agradável retro gosto, com boa persistência. Importado pela Magnum.
4D

10 – Meli Reserva Carignan 2008 – Meli
Pequeno projeto familiar, conduzido pela enóloga Adriana Cerda e seus três filhos, que consiste em vinhedos de Riesling e Carignan, com uma média de 60 anos, plantados em Loncomilla, no Valle de Maule. A condução do vinhedo é orgânica, sem irrigação. O vinho degustado em especial apresentava aromas marcados de garapa, bala dura, fruta madura e especiarias doces; em boca, muito fresco, fino, de longa persistência, em uma palavra, instigante. Importado pela La Charbonnade.
4D

11 – Peumayen Carmenére 2009 – Viña Peumayem
Pertencente ao casal Erika e Francisco Carevie, e Peumayem produz seus vinhos no Valle de Aconcágua. É um Carmenére com pequenas partes de Syrah e Petit Verdot, de bom corpo, com fruta bem madura, tostado intenso, macio, com um discreto amargor e média/longa persistência. Sem importador no Brasil.
3D

12 – Polkura Syrah 2007 – Polkura
O nome faz referência a uma colina no meio do vinhedo, em cujas encostas são produzidas as uvas que dão origem a este vinho, em Marchigüe, Colchagua. Trata-se de um Syrah com pequenas partes de Malbec, Viognier, Grenache, Tempranillo e Mourvedre, com evidentes especiarias, eucalipto, fruta madura, bom frescor, taninos finos e abundantes e longa persistência, com frutas e especiarias retornando no final. Importado pela Premium.
4D

13 – Rukumilla 2006 – Rukumilla
Apenas 5 acres no Valle de Maipo, cultivados organicamente e manejados pela família dos proprietários, Andrés Costa e Angélica Grove. É um corte de Malbec, Syrah, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, austero, com cassis e framboesa, especiarias e ervas; fresco, maduro, com taninos finos e longa persistência. Sem importação no Brasil.
3D

14 – Starry Night Syrah 2010 – Starry Night
Apenas 8 hectares, divididos entre Syrah e Pinot Noir, em Maipo Costa. Este Syrah 2010 em especial traz muita fruta negra fresca, além de especiarias em evidência; fresco, longo e típico, com uma sugestão floral em boca. Importado pela Vinoart.
4D

15 – Trabun Syrah 2009 – Trabun
Pertencente ao enólogo e baterista Sergio Avendaño, a Trabun produz nesta propriedade familiar em Cachapoal o Syrah ora degustado, que tem uma leve nota vegetal, além de uma boa dose de fruta e algo de noz moscada; em boca, médio/alto frescor, maciez e um discreto amargor, aliado ao intenso retro gosto a frutas maduras. Importado pela La Charbonnade.
3D+

16 – Tanagra Syrah 2009 - Villard
Localizada no frio Valle de Casablanca, é uma das maiores vinícolas do MOVI, mas afinada com as proposta e filosofia do grupo. Este exemplar em especial traz fruta evidente, mas austera, algo de pimenta negra e discreto tostado. Fresco, de médio a encorpado, longo, equilibrado e elegante. Importado pela Decanter.
4D

17 – Montelìg 2005 – Viña von Siebenthal
Pertencente ao advogado suíço Mauro von Siebenthal, os vinhedos tem condução orgânica, e todos os esforços são dirigidos a máxima expressão do terroir do Valle de Aconcágua. Este corte de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Carmenére tem um nariz intenso, com muita fruta madura; enche a boca, e tem boa maciez, além de um agradável fim de boca. Importado pela Terramatter.
3D+

O nível geral de qualidade dos vinhos apresentados foi bem elevado, o que reforça a impressão positiva sobre os objetivos deste grupo. A maior parte da vinícolas já tem seus produtos no mercado brasileiro, e posso afirmar com tranquilidade que vale a pena garimpar nas prateleiras das lojas especializadas a sua procura.
Meus parabéns aos membros do MOVI pela bela iniciativa, e meu agradecimento a H3 pelo convite para tão especial degustação.

Espero que vocês tenham gostado, e animem-se a provar alguns destes vinhos. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Harmonizando Bacalhau

E que Bacalhau!!!
Alguém aí quer bacalhau?

Também a convite da Vinhos de Portugal, além da apresentação dos vinhos brancos que mencionei no último post, participei de uma aula do Chef Américo dos Santos, do Restaurante Quarentae4, de Matosinhos, Portugal, sugerindo duas opções de harmonização para o prato por ele apresentado.
O prato em questão foi um Bacalhau Confitado com Sabores Lusitanos, e os vinhos um espumante rosé da Bairrada e um Alvarinho do Minho.

Mas primeiro algumas palavras sobre o Chef, que atua no supracitado restaurante, como Chefe Pasteleiro, responsável pelo cardápio de sobremesas da casa. Com apenas 23 anos (é... eu estou mesmo ficando velho...), Américo e reconhecido como um dos bons nomes da nova safra de nomes da gastronomia portuguesa.
Na Semana Mesa, o Chef apresentou sua interpretação do bacalhau, peixe onipresente na mesa portuguesa, de norte a sul do país. A posta do lombo, já dessalgada, vai ao forno coberta por um refogado de cebolas, pimentões, alho, alho-poró, azeitonas, e muito, muito azeite mesmo. Depois desta fase, o prato é montado sobre um leito de batatinhas cortadas ao meio e douradas no azeite, e couve refogada com um toque de bacon. Desnecessário dizer que a preparação é simplesmente deliciosa, com o bacalhau se desmanchando em lascas suculentas.
Em ação com o Chef Américo dos Santos

Vamos então aos vinhos, cujas notas de degustação vão a seguir:

1 – Espumante 3b – Filipa Pato
Este rosé é um corte de Bical e Baga, obra da talentosa enóloga Felipa Pato, filha de Luís Pato. É cremoso, com bom frescor e intenso perlage. Nariz a frutas frescas, em especial morangos, e algo de fermento. Média persistência.
3D

2 – Portal do Fidalgo Alvarinho 2009
Ótimo Vinho Verde, da Provam. Refrescante, cítrico e mineral, muito intenso no nariz. Em boca, direto, focado, longo, com marcada sapidez. Alvarinho de fato!
3D+

No que se refere à harmonização propriamente dita, o bacalhau é, como se sabe, diferente da maior parte dos peixes. Como dizem alguns portugueses que eu conheço, carne é carne, peixe é peixe, e bacalhau é bacalhau. Devido a sua textura mais firme, e seu sabor mais intenso, não é incomum encontrar sugestões de harmonização de pratos de bacalhau com vinho tinto, mas eu, particularmente, continuo acreditando que as melhores opções estão entre os brancos, sempre respeitando, obviamente, a textura e intensidade do prato específico.
No caso particular do Bacalhau Confitado do Chef Américo, temos uma textura muito delicada, em função do processo de cocção no azeite. Encontramos também marcada aromaticidade, por conta das ervas e especiarias, além do discreto amargor da couve, e do defumado do bacon. E temos ainda a intensa untuosidade do azeite, utilizado sem parcimônia nesta preparação. Com esta combinação de ingredientes, podemos supor, de antemão, que ambos os vinhos se sairiam bem, e o fizeram, afinal, ambos tem acidez para balancear a untuosidade, e ambos tem boa intensidade aromática. Num primeiro momento, julguei que o espumante se sairia melhor, por ser um pouco mais estruturado que o Alvarinho; no entanto, a delicadeza do bacalhau era tal, que o Vinho Verde acabou sendo o melhor parceiro deste prato, fazendo frente tanto a sua estrutura, quanto a sua aromaticidade e untuosidade. Um casamento dos mais felizes!

Ainda com o Chef Américo, agora já na companhia do talentoso Chef William Ribeiro, do paulistano O Pote do Rei, fizemos a gravação de um vídeo de divulgação do Festival de Vinhos Portugueses em Restaurante, promovido pela Vinhos de Portugal, e que acontecerá entre 14/11 e 04/12, em restaurantes selecionados de São Paulo e Rio de Janeiro. Ótima oportunidade de descobrir um pouco mais da diversidade enológica portuguesa e, de quebra, concorrer a uma viagem com tudo pago a Portugal! Além do Bacalhau do Chef Américo, o Chef William preparo um delicioso Lombo de Cordeiro com Açorda de Natas, e ambas as receitas farão parte do vídeo. Tão logo o mesmo esteja na rede, posto por aqui.
Concentração total com os Chefes William e Américo

Bom, espero que tenham gostado. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post ”Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sinfonia de Brancos de Portugal

Ok, o título é meio poético, mas não é de minha autoria. A convite da Vinhos de Portugal apresentei no último dia 26 uma palestra e degustação com este tema, durante a Semana Mesa SP, organizada pela revista Prazeres da Mesa. Já escrevi bastante sobre Portugal aqui, até por conta de minha viagem para lá no meio do ano, mas, pelos vinhos que provei nesta apresentação, achei que valia a pena me repetir...

Nossa tendência, aqui no Brasil, é pensar em Portugal apenas por conta de seus tintos, além do Vinho do Porto. Porém, dentro do seu universo de quase 300 castas autóctones, as brancas desempenham um papel importante na vitivinicultura lusitana. De norte a sul produz-se bons brancos, dos mais variados estilos; alguns muito particulares, outros, de classe internacional. Nesta prova, pude averiguar, mais uma vez, por meio de um panorama por várias castas e regiões, a elevada qualidade média dos brancos de nossos patrícios, e minhas impressões sobre os vinhos degustados partilho agora com vocês.

1 – Quinta da Aveleda 2010 (Vinhos Verdes)
Já degustado e comentado aqui, por ocasião de minha visita à Aveleda. Um Vinho Verde “de manual”, com bom frescor, aromas cítricos, alguma mineralidade e boa persistência, obtido a partir de um corte de Alvarinho, Loureiro e Trajadura. Ótima pedida para o nosso verão, é importado pela Interfood, e custa cerca de R$ 37,00.

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2 – Quinta do Cruzeiro 2010 (Vinhos Verdes)

Aqui o corte já é de Loureiro, Arinto e Trajadura. Um pouco mais fresco e aromático, com um floral mais intenso. A vinícola é representada pela Tambuladeira, empresa que representa os interesses de várias pequenas vinícolas portuguesas no mercado brasileiro. Importado pela Gracciano, custa cerca de R$ 30,00.

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3 – Campolargo Arinto 2010 (Bairrada)

Um dos ótimos vinhos de Carlos Campolargo, este Arinto surpreende. Ótimo frescor, notas de frutas amarelas frescas, algo de cítricos e florais, entremeados por delicadas notas biscoitos, por canta de sua maturação sobre borras finas. Cremoso, preciso e persistente. Importado pela Mistral, custa cerca de R$ 100,00.

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4 – Monte de São Sebastião Branco 2010 (Douro)

Este corte de Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio está entre os bons vinhos brancos do Douro, com estilo e elegância para o mercado internacional. Fresco, mineral, de média persistência, com um agradável retrogosto. É importado pela Vinhas do Douro, e custa cerca de R$ 64,00.

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5 – Maritávora Reserva 2009 (Douro)

Também representada pela Tambuladeira, a Maritávora fica localizada no Douro Superior, e conta com os serviços do enólogo Jorge Serôdio Borges. Elaborado com Códega do Larinho, Rabigato, Viosinho, e uma parcela de 20% de vinhas velhas, é um branco complexo, macio, que evidencia sua fermentação em barricas. Cítricos, ervas aromáticas, notas minerais e discreto tostado, com boa persistência. Importado pela Gracciano, custa cerca de R$ 125,00.

4D

6 – Baron de B Reserva 2009 (Alentejo)

Produzido pela Herdade da Calada, com a casta Antão Vaz, que em muitos pontos lembra a Chardonnay, como sua boa adaptação a climas quentes, e sua aptidão ao uso de madeira. Um branco de mais corpo, macio, com média acidez e notas de fruta madura. Bem agradável. Importado pela Adega dos Três, custa cerca de R$ 80,00
3D+

7 – Monte Cascas Malvasia Colares 2008 (Lisboa – Colares)

O vinho que mais me surpreendeu nesta prova. Produzido na região de Colares, dentro da grande Lisboa, com a casta Malvasia Fina. As videiras são plantadas em solo arenoso, sem nenhuma condução específica, ou seja, como um arbusto. A fermentação se dá em barricas, e segue um período de 11 meses de maturação sobre as borras, com battonage quinzenal. A coloração é um belo palha-dourado, no nariz, iodo, maçãs, notas oxidativas, amêndoas, lembrando um pouco um Jerez Fino. Em boca, tem bom corpo, excelente frescor, e uma marcada sapidez, quase salgado. Longo e equilibrado. É importado pela MS, com um preço de cerca de R$ 150,00

5D

8 – Venâncio da Costa Lima Moscatel de Setúbal (Península de Setúbal)

Equilibrado, com notas marcadas de doce de laranja e frutas cristalizadas. Doçura agradável e boa persistência. É importado pela Deu La DeuVinhos, e custa impressionantes R$ 27,00.

3D+

9 – Bacalhôa Moscatel de Setúbal 2004 (Península de Setúbal)

Mais complexo e elegante, com algo de flores, amêndoas e nozes, além de mel, frutas secas e cristalizadas. Excelente exemplar, representativo da qualidade elevada desta DOC. É importado pela Portuscale, mas infelizmente vou ficar devendo o preço ok?

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Para completar, só faltaram dois brancos muito particulares, dos quais eu gostaria de fazer uma pequena propaganda, o Porto Branco (sim, ele existe!) e o Madeira, principalmente aqueles feitos com as castas brancas, Sercial, Verdelho, Terrantez, Bual e Malvasia. São vinho únicos e deliciosos. Se você ainda não conhece, prove!

Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até a próxima.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Harmonizando Bordeaux

Após uma pequena ausência, de volta aqui ao blog, com um pouco de harmonização. Mas não uma harmonização qualquer, e sim um jantar completo, com uma seleção de diferentes terroirs de Bordeaux!
Château Lagrange
O jantar em questão teve lugar no Olivetto Restaurante e Enoteca, em Campinas, no último dia 25; e ali tivemos a oportunidade de apresentar uma seleção de vinhos bordaleses do portfólio da Cantu Importadora, e que hoje fazem parte de nossa Carta.  Aqui tínhamos duas propostas; a primeira, do evento em si, era apresentar diferentes comunas e estilos, mostrando um pouco de nossa seleção de vinhos franceses, e dissipando um pouco do preconceito que ainda existe entre muitos consumidores, de que vinho francês bom é, necessariamente, caro.
Neste ponto, os objetivos foram atingidos! O interesse e receptividade do público foram bem positivos, e pudemos ainda contar com o competente trabalho do Chef Fábio Amaral na elaboração e confecção dos pratos que discutimos anteriormente. É importante frisar que, sempre que um evento semelhante ocorre no Olivetto, trata-se de um trabalho de quase dois meses, que passa pela seleção dos vinhos, pela elaboração do cardápio harmonizado, pelos testes, e obviamente pela divulgação e venda do evento em si. Com casa cheia, pudemos então degustar estas peças, harmonizadas com belos pratos, e conversar um pouco sobre algumas peculiaridades de Bordeaux, conforme segue:


Entrada
Vinho – Château Peyruchet Les Parcelles du Moullin 2007
Um corte de 85% de Sauvignon Blanc e 15% de Semillon. Embora o rótulo traga a AOC Bordeaux, os vinhedos ficam na comuna de Loupiac, entre Entre-Deux-Mers e Graves, com solos que combinam argilo-calcáreos e algo de cascalho. Trata-se de uma região reputada pela boa relação custo/benefício de seus vinhos, fato que se confirma neste exemplar, fresco, de leve a médio, macio e com boa persistência, além de um discreto toque mineral.
3D
Prato – Endívias e Vieiras Crocantes ao Aroma de Pêssegos
Vieiras marinadas e salteadas, empanadas e fritas, com uma camada crocante, acompanhadas de folhas de endívias e um delicado coullis de pêssegos. Uma preparação leve, pensada para acompanhar o vinho, e não suplantá-lo, função cumprida com êxito. A maciez do vinho foi bem adequada para a textura firme e ao mesmo tempo delicada das vieiras, e seu frescor balanceou de forma adequada a discreta untuosidade conferida pela fritura. Para completar, o aroma discreto do coullis de pêssego, presente também no vinho.


1º Prato


Vinho – Château Louive 2006 – Christian Veyry (Saint-Émilion)
Obtido com 80% de Merlot e 20% de Cabernet Franc, de vinhedos classificados como Grand Cru nesta denominação da margem direita do rio que corta a região. Aqui, os solos de calcário e argila favorecem a maturação da precoce Merlot, razão pela qual ela, e não a Cabernet Sauvignon, é a casta dominante deste lado do rio. O Louive, em especial, apresenta em seus 5 hectares solos variados, entre argilo-calcáreos, arenosos e argilo-arenosos. O vinho resultante é maduro, fino e elegante, com ótimo frescor e boa presença de boca, além de ricos e finos taninos.
3D+
Prato – Mil-Folhas de Roast-Beef com Ragôut de Cogumelos
A textura delicada da massa folhada, combinada ao sabor e textura do roast-beef, e ao sabor bem típico dos cogumelos frescos, com um roti de cebolas. Em termos de aromas e sabores ouve uma boa complementaridade entre vinho e prato, com o vinho levantando o prato no meio de boca e o prato reforçando o retro olfato do vinho; porém, faltou intensidade ao prato. Talvez utilizando uma carne de caça, ao invés da carne bovina no roast-beef, a harmonização seria perfeita, mas como ficou, embora tenha ido bem, ficou e impressão que podia ser melhor.


2ºPrato


Vinho – Château Tour du Roc Milon 2006 (Pauillac)
A mais emblemática comuna de Bordeaux, representada por um vinho com toda sua tipicidade. Um corte de 60% de Cabernet Sauvignon, 20% de Merlot e 15% de Cabernet Franc, complementadas por Petit Verdot e Malbec. Neste solo rico em cascalho, o vinho apresenta o tradicional caráter de Pauillac, com bom corpo, fruta madura, especiarias e algo mineral. Um bom vinho, que já ostentou, inclusive, a classificação de Cru Bourgeois nos anos 1930.
4D
Prato – Carré de Cordeiro em Crosta de Cebolas com Quenelles Crocantes de Risotto
O clássico da harmonização; Bordeaux de Pauillac e cordeiro. Os suculentos carrés levavam uma camada de crocantes cebolas desidratadas, e foram escoltados pelos quenelles. Boa complementaridade de aromas, sabores e texturas, que ilustra muito bem por que as harmonizações clássicas são, de fato, clássicas.

3º Prato


Vinho – Château Lagrange 2007 (Saint-Julien)
Presente na reputada classificação de 1855, como um Troisième Cru Classé, este corte de 65% de Cabernet Sauvignon, 28% Merlot e 7% Petit Verdot, apresenta ótima estrutura, muito frescor, aromas intensos e complexos, que vão abrindo e mudando na taça. Taninos abundantes e muito finos, equilibrados, e com um longo fim de boca. Sem dúvida um belo exemplar de Bordeaux.
4D+
Prato – Entrecôte com Crocante de Alho Poró e Purê Rustico de Lentilhas
A maciez, suculência e discreta gordurosidade do entrecôte, com um toque de roti e o sabor adocicado e terroso das lentilhas combinaram-se em uma prodigiosa harmonização com o vinho, ambos complementando-se de forma bem positiva.


Sobremesa


Vinho – Château Des Comperes Sauternes 2005
Sauternes é Sauternes... Sempre uma experiência para os sentidos. Temos aqui 90% de Semillon, 8% de Sauvignon Blanc e 2% de Muscadelle, resultando em um vinho equilibrado, untuoso, com ótimo frescor, aromas de frutos amarelos maduros, notas florais, mel e frutas secas. Sobra um pequeno amargor no final, mas nada que comprometa muito.
3D+
Prato – Abacaxi Assado com Calda de Frutas Exóticas e Sorvete de Gengibre e Canela
A melhor harmonização da noite! Perfeito casamento entre as sensações, aromas e sabores do prato e do vinho, além das diferentes temperaturas e texturas, que chamam os sentidos à atenção aos detalhes da combinação.


Lá atrás eu disse que este evento tinha duas propostas, lembram? Pois bem, a segunda era funcionar como um “aquecimento” para nosso próximo Wine Dinner. Dia 29 de novembro, celebrando a conquista do título de 2ª Melhor Carta de Vinhos do Brasil, pelo Guia 4 Rodas 2012, o Olivetto realizará em Campinas, pela primeira vez, um degustação com os 5 Premier Cru Classés de 1855, e mais o Chateau d’Yquem, seguida de um jantar mais do que especial, onde a grande estrela será o Château Lynch-Bages 1999. Uma oportunidade única para provar tantos grandes vinhos em uma só ocasião. A quem possa interessar, segue o cardápio completo do evento.


Bom, por hoje é só. Espero que tenham gostado das harmonizações propostas!
Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.


Grande abraço e até a próxima.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Você conhece a Zweigelt?

Ou a Blaufränkisch? Ou ainda a Samling? Pois estas são apenas duas castas que fazem parte da miríade de castas plantadas em solo austríaco. Pouco conhecidos por aqui (por enquanto...) os vinhos austríacos gozam de boa reputação internacional, devido a sua tipicidade, às suas castas únicas, e principalmente devido a sua elevada qualidade.
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O belo vale de Wachau, típica paisagem austríaca.
A Áustria tem um clima predominantemente continental, com invernos muito frios, mas verões muito quentes, além de boa variação de temperatura entre o dia e a noite no período de maturação das uvas, o que leva a produção de vinhos mais encorpados e secos, porém com a mesma rica acidez de seus vizinhos alemães. Aliás, a semelhanças com a Alemanha vão além do idioma. A legislação austríaca e bem semelhante à alemã, com nomenclaturas semelhantes para suas escalas de qualidade e doçura, porém, a legislação austríaca é, em geral, mais rigorosa do que a alemã. Esse rigor se explica por um triste fato, ocorrido em 1985, quando se descobriu uma significativa quantidade de vinho austríaco fraudado com a mistura de dietileno-glicol, substância inofensiva, porém proibida, que deixa uma sensação de mais corpo e doçura no vinho. Os esforços para apagar a mancha deixada por este escândalo foram muitos, e hoje se refletem na elevada qualidade do vinho austríaco.


Outra importante questão relativa ao clima, e que este favorece o manejo orgânico e/ou biodinâmico dos vinhedos, devido a pouca necessidade de intervenção agrícola. Isso se reflete no fato de que 10% de todos os vinhedos austríacos são orgânicos, fato sem paralelo no mundo do vinho, e cerca de 75% das vinícolas participam de programas de mínima intervenção, apoiados pelo governo e pela União Europeia.
Porém, o que mais chama mesmo a atenção é a grande variedade de uvas pouco conhecidas por aqui. A principal, respondendo por 36% dos vinhedos austríacos, é a branca Grüner Veltliner. Com tendência a produzir vinhos simples e descompromissados, nas mãos dos melhores produtores resulta em vinhos sedutores, de bom corpo, condimentados, e com algum potencial de guarda.
A Grüner Veltliner pode ser a mais importante, ao menos em voluma, mas não é a única. A Zweigelt, mencionada lá no título, é a tinta mais plantada, gerando vinhos de médio corpo, agradáveis e corretos, e até mesmo alguns de mais corpo e com algum potencial de guarda; como sempre, dependo da intenção e cuidado do produtor. A Zweigelt é resultado de um cruzamento de outras duas tintas muito importantes na Áustria; a Blaufränkisch, nome dado a Lemberger por lá, e a Sankt Laurent, outra tinta de grande importância, muito semelhante à Pinot Noir, que produz os melhores resultados em grandes tintos austríacos, gastronômicos e com potencial de guarda.
No campo dos vinhos doces, destaque para algumas castas da família das moscatéis, como a Gelber Muskateler (essa bem mais usada em vinhos secos, mas com o inconfundível toque aromático da Moscatel) e a Muskat Ottonel, além da Riesling, a mais utilizada em grandes vinhos doces, embora também produzida em belos estilos secos, a Furmint, típica dos vinhos de Tokaj, muito pouco plantada, mas de elevada qualidade, e a mencionada Samling, mais conhecida pelo nome de Scheurebe, um cruzamento alemão do início do séc. XX, que lembra em muitos pontos a Riesling, porém com um pouco mais de produção.
As oportunidades de conhecer um pouco melhor estes vinhos aqui no Brasil eram em geral um pouco esparsas, afinal, além do baixo interesse das importadoras, os vinhos, em grande parte leves e frescos, não caem de cara no gosto do consumidor médio brasileiro. Porém, de olho em um potencial nicho de mercado, um grupo de jovens empresários, com o apoio e endosso do Österreich Wein Marketing, órgão governamental responsável pela divulgação dos vinhos daquele país, iniciaram no Brasil as atividades da The Special Wineries, importadora focada apenas em vinhos austríacos, que trás ao mercado nacional mais de 70 rótulos, de 21 vinícolas.
Tive a oportunidade de provar alguns de seus vinhos em uma degustação realizada semana passada, no mais austríaco dos ambientes; o único restaurante austríaco de São Paulo, o Wolf’s Garten. Guiados pelos proprietários da TSW, Lucila e Maurício, pude provar, além dos deliciosos vinhos, algumas especialidades da culinária austríaca, cuidadosamente preparada pelo Chef Markus Wolf, conforme segue:
1 – Terrasen Reserve 2009
Começando pelo óbvio ululante, um Grüner Veltliner, do produtor Loimer, de Kamptal, ao noroeste de Viena. Biodinâmico, produzido a partir de parreiras de 15 a 30 anos e com 2 meses de madeira. Nariz delicado, com flores brancas e leve cítrico. Em boca, ótimo frescor, cremoso, alguma sapidez e um discretíssimo amargor, com média persistência. Típico e delicioso.
3D+
Harmonização – Acompanhou um creme de aspargos com aspargos salteados. Foi uma parceria bem feliz, apesar de o aspargo ser reconhecidamente um elemento difícil de harmonizar. Em geral, o Grüner Veltliner faz frente aos aspargos de modo bem satisfatório.


2 – Zobing 2009
Um Riesling do produtor Weingut Hirsch, também biodinâmico de Kamptal, e de vinhedos com mais de 30 anos. Mineral mais intenso, com algo de frutas amarelas e toques florais. Crocante, com marcada sapidez e média/longa persistência. Muito bom!
4D
Harmonização – Truta Grelhada com Purê de Raiz Forte. O vinho fez frente ao prato muito bem, e este trouxe mais brilho a deliciosa acidez do Riesling. Uma ótima parceria. Só uma observação, aqui testei também o Grüner Veltliner, que embora não traga tanta informação na combinação com o prato, também harmoniza muito bem, sem perder para o aroma marcado da raiz forte.


3 – Gelber Muskateller 2009
Produzido por Weinbau Wenzel, mais um produtor biodinâmico, mas desta vez de Burgenland, ao sul de Viena. Um vinho muito frutado, algo de uvas verdes, como o típico Moscatel, e ainda algo de lichias e um toque floral. Diferente do que sugere o nariz, bem seco, fresco e sápido, com média longa persistência, e algo de maçãs no retro olfato.
4D
Harmonização – Gnocchi de Abóbora com Raspas de Maçã Verde e Óleo de Semente de Abóbora Torrada. Ótima harmonização entre a textura macia e o corpo do vinho com a firmeza da massa. A refrescante acidez foi balanceada pelo toque oleoso e tostado do óleo de semente de abóbora, e as raspas de maçã trouxeram mais um discreto, porém importante, elemento de ligação no conjunto da harmonização.


4 – Juris Rosé 2009
Primeira versão da Sankt Laurent, num rosé biodinâmico de Burgenland, sério em suas intenções, sem perder o ar descontraído que lhe é peculiar. Muita fruta fresca, morango e cereja, aliado a um toque de pimenta branca. Boca fresca, leve e macia, com média/longa persistência.
3D+
Harmonização – Steak Tartar. Uma harmonização fenomenal!!! O Tartar do Chef Markus é, por si só, um show, temperado na medida certa, com a delicada textura do filet mignon picado na ponta da faca, e uma pontinha a mais de páprica que integra muito bem o conjunto. Mas a interação desse prato com o vinho rosé foi algo surpreendente, uma experiência de harmonização que qualquer amante do vinho tem que ter...


5 – Zweigelt Classic 2009
Também biodinâmico, também de Burgenland, produzido por Umathum. Com frutas negras frescas e algo de especiarias. Em boca, fresco, de leve a médio corpo, com alguma sapidez e toques tostados no retro olfato. Fino, com média persistência.
3D+
Harmonização – Aqui, uma especialidade tanto da cozinha austríaca como da húngara, o Goulash, consistente cozido, com uma boa dose de páprica (não a picante), que cai muito bem com um vinho com estas características.


6 – Kraxner 2008
Um Sankt Laurent biodinâmico da produtora Heidi Schrock, com fruta intensa, couro, especiarias, bom frescor, alguma adstringência e novamente especiarias. Corpo e persistência médios.
3D+
Harmonização – O mais do que clássico Wiener Schnietzel, um delicado escalope de carne suína empanado e frito em banha, de uma delicadeza e leveza inacreditáveis. Caiu como uma luva com o vinho.


7 – Leithaberg 2008
Um Bläufrankisch biodinâmico de Prieler, produzido naquele que é reconhecido como o melhor terroir para a Bläufrankisch na Áustria, o cru Leithaberg, que empresta seu nome ao vinho em questão. Complexo, mineral, com fruta intensa, cerejas e amoras, especiarias, algo de couro, bom frescor, macio, fino e longo.
4D+
Harmonização – Lombo de Cordeiro com Crosta e Polenta de Porcini. Delicioso, a textura delicada do cordeiro, além dos aromas peculiares do porcini, casam muito bem com o vinho.


8 – Eiswein 2003 Weingut Sonnenmulde
Um Eiswein biodinâmico produzido com a casta Samling, com 36 meses de barricas. Fruta amarela, mel, cera, abrindo para algo de cítrico e flores brancas. Ótima acidez, doçura intensa e equilibrada, com mais fruta no retro olfato, muito longo.
4D+
Harmonização – Além de um doce tradicional austríaco, que traz pedacinhos de bolo e frutas, foi servido com uma pequena porção de gorgonzola morno. Gostei mais com o queijo, perfeito.


A impressão geral da degustação foi bem positiva. Todos os vinhos apresentados tinham bom nível, o que demonstra a seriedade das intenções da The Special Wineries. Deixo minha recomendação para todos aqueles que queiram conhecer um pouco mais sobre os vinhos austríacos. E para quem quiser conhecer um pouco mais da comida, visite o Wolf’s Garten; palavra de gordo que vale a pena...
Espero que tenham gostado deste breve relato.
Dúvidas sobre o meus sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Setúbal – António Saramago e o Fim da Jornada

Como tudo o que é bom tem um fim, com esta viajem por Portugal não seria diferente... Depois de nossa visita a Quinta das Bagéiras, na Bairrada, rumamos de volta a Lisboa, para o último estágio de nossa jornada. No caminho, falaram alto o turismo e a religiosidade, e fizemos uma breve parada (50min) em Fátima, para conhecer o santuário, e chegamos a Lisboa já durante a noite.

Santuário de Nossa Senhora de Fátima
Lisboa...
No dia seguinte, meio período para conhecer a cidade, caçar um Queijo da Serra da Estrela, que ainda não tínhamos provado, e no fim da tarde, rumo sul, novamente para Setúbal, agora para uma visita e jantar na companhia do Mestre António Saramago. Já falei um pouco de António Saramago no post “Alentejo – Vinícolas Monte da Ravasqueira e Herdade dos Coelheiros”, mas ali estávamos provando os vinhos da Coelheiros, vinícola que, embora tenha a imagem de seus vinhos intimamente ligada a Saramago, não pertence a ele. Logo, conhecer a “casa” do mestre, e provar seus grandes vinhos in loco, seria uma oportunidade mais do que especial.

O delicioso Queijo da Serra da Estrela. E eu garanto que essa Coca Cola não é minha...
Coloquei o “casa” entre parênteses ali em cima por um motivo. Ao contrário do que muitos possam imaginar, a António Saramago Vinhos não possui cantina, e aliás, nem vinhedos!!! Pois é, ao longo de décadas atuando no mercado, Saramago cultivou uma preciosa rede de contatos na região de Setúbal, rede esta que permite a produção de grandes vinhos, verdadeiramente diferenciados, sem a necessidade nem de cantina, nem de vinhas. Saramago aluga um espaço ocioso dentro de outra vinícola, onde ele vinifica, matura, engarrafa e armazena seus vinhos, e compra as uvas de terceiros, mas apenas a melhor uva, dos melhores produtores, como seria de se esperar. Apenas no Alentejo, onde produz os já citados aqui Scancio Reserve e Private Selection, é que a António Saramago Vinhos possui vinhedos, mas não em sua região-sede, a Península de Setúbal.

Saramago no seu "habitat"
Em nossa breve visitas ao local de produção de seus vinhos, Saramago deu-nos a oportunidade de provar, ainda nas barricas, sua última criação, um Castelão topo de gama, que deverá ficar entre o seu ícone, o Dúvida, e o também Castelão António Saramago Reserva. Vem mais um grande vinho por aí, com muita concentração, mas desde já grande elegância em boca, com taninos muito finos. Os meses que ainda passará nas barricas lhe fará bem...

Não sei qual vinho vai sair daqui, mais eu sei que vai ser bom!
Seguimos, então, para nosso jantar de encerramento, na casa de Saramago, e na companhia de toda sua família, os filhos, Nuno e António, a nora Vânia, e, muito mais importante que o próprio António Saramago, a simpatia em pessoa, sua esposa, Dona Ausenda Saramago, um doce...

Em tão ilustres companhias, pudemos encerrar em grande estilo nossa jornada, com um jantar impecável, e a degustação dos demais vinhos do Mestre, conforme segue:

1 – Risco Branco 2009
Vinho regional, corte de Arinto e Fernão Pires, com nariz cítrico, leve floral e mineral. Em boca, sápido, fresco, de média persistência.
3D+

2 – Risco Tinto 2009
100% Castelão, com um belo tom rubi, nariz de frutos vermelhos frescos, e uma pontinha de tostado. Em boca, mais fruta, taninos macios, finos, bom frescor e equilíbrio, com média/longa persistência.
3D+

3 – Risco Reserva Tinto 2009
Corte de Alicante Bouschet, Castelão, Cabernet Sauvignon e Trincadeira, com frutos mais maduros, especiarias, discreto vegetal, macio, com muitos e finos taninos, e retro gosto a baunilha e tostado.
4D

4 – António Saramago Reserva 2009
Elegante corte de Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, com notas balsâmicas, fruta em compota, terciário. Taninos finos e equilibrados, bom frescor, macio e longo. Um vinho de classe e estilo.
5D

5 – Dúvida 2005
Alentejano. Um grande vinho, eleito o melhor de Portugal em 2009, um corte de Aragonês, Trincadeira e Grand Noir, encorpado denso, com frutas negras, flores, especiarias, caramelo e cacau torrado. Em boca, fino, elegante, amplo e longo, muito longo.
5D

6 – JMS Moscatel de Setúbal Superior 1993
O “bombomzinho” de Saramago, vinho superior, do qual apenas 1000 meias garrafas foram produzidas, em homenagem ao pai do enólogo. Servido ao fim do jantar, como um brinde de encerramento, não só ao jantar, mas a toda nossa viagem. Um vinho que faz jus a sua raridade, muito complexo, com uma linda coloração âmbar, cascas de laranja, mel, frutas em compota, especiarias, notas oxidativas e balsâmicas. Em boca, cremoso, untuoso, intensamente doce, com excelente equilíbrio, garantido pela sua ótima acidez. Interminável e perfeito...
6D

Depois deste verdadeiro néctar, hotel, e no dia seguinte aeroporto, de volta ao Brasil. Ficaram só as saudades de Portugal, ...e os quilos acumulados...

Saudades de Portugal...
O premio pela vitória no Portugal Wine Expert São Paulo não poderia ter sido melhor. Esta viagem foi um aprendizado único, de valor inestimável. A ViniPortugal deixo meu sincero agradecimento, pelo apoio dado a esta iniciativa, que por certo contribuiu de forma decisiva em reforçar a imagem do vinho português no Brasil.

Isso tudo não seria possível também sem a iniciativa do Sommelier José Carlos Santanita, responsável pela organização, e sem a participação decisiva de sua empresa, a Wine Academy Portugal, que já tem um papel de destaque no enoturismo regional em Arraiolos, Alentejo, e tem desenvolvido no Brasil um trabalho muito significativo, voltado à formação de profissionais, e também a maior difusão da cultura do vinho entre leigos e connoisseurs. Para quem estiver a caminho de Portugal (ou já estiver por aí...) recomendo uma visita ao site da Wine Academy.

Deixo também meu agradecimento aos produtores que apoiaram esta ação, foi um grande prazer poder visitar tantas e tão variadas vinícolas, compondo um panorama mais amplo de tudo o que Portugal tem a oferecer-nos.

Bom, Portugal fica por aqui, ou pelo menos esta viagem. Nos próximos posts, voltamos a conversar sobre outros temas. Espero que vocês tenham gostado, e agradeço a todos que, de alguma forma, me acompanharam nesta jornada.

Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até a próxima.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Setúbal – Herdade da Comporta

Para terminar, de volta ao começo...


Conforme eu havia dito lá atrás, começamos o giro pelo continente pela Península de Setúbal, ao sul de Lisboa, porém, como o encerramento foi ali também, deixei para abordar a região aqui no final.

A Península do Setúbal é composta pela região que se estende ao sul de Lisboa, do outro lado da foz do Tejo. Até recentemente, parte da região era denominada Terras do Sado, mas, assim como Ribatejo e Estremadura se tornaram, respectivamente, Tejo e Lisboa, Terras do Sado assumiu o nome da formação geográfica mais ao norte da região, a tal Península de Setúbal. O clima aqui é atlântico, com solos argilo-calcáreos, próximo a Serra da Arrábida, e arenosos nos vales.

A região tem duas DOCs; Setúbal, de onde vem o Moscatel de Setúbal, vinhos de sobremesa fortificado, de elevada qualidade quando bem feito, e Palmela, onde se obtém os melhores resultados com a casta tinta Castelão (também conhecida como Periquita). A região guarda algum pioneirismo na produção de vinhos mais modernos, com uso inclusive de castas internacionais, como no Quinta da Bacalhôa, um Cabernet Sauvignon entre os tintos portugueses mais conhecidos por aqui.

Começamos a explorar a região pela Herdade da Comporta. Localizada ao sul da Baía de Setúbal, trata-se de uma das maiores propriedades rurais contínuas de Portugal, com mais de 12.000ha, que incluem praias, aldeias, e grande plantações de arroz, principal cultura da Herdade. Neste cenário o vinho ocupa um pequeno espaço, com apenas 30 ha plantados, e planos de ampliação até, no máximo, 40 ha. As plantações estão em um pequeno vale, a poucos quilômetros de distância do mar, e são compostas principalmente das tintas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Touriga Franca, e, em menor quantidade, as brancas Antão Vaz e Arinto. O solo ali é arenoso, como na maior parte da região, porém composto de uma areia mais pesada, com características de drenagem e composição mineral diferenciadas.
Solos arenosos da Herdade da Comporta
Já a cantina, é moderna e bem cuidada. A área de recepção das uvas fica fora da cantina, e tubulações a ar puxam as uvas selecionadas, levando-as diretamente para as desengaçadeiras, e daí, por gravidade, para as cubas e lagares em inox, que contam com robôs para a pisa das uvas. Após a fermentação, com temperaturas controladas, os vinhos seguem para pipas de 500 litros, de carvalho francês e americano, ondem repousam ao som de canto gregoriano (mais marketing para turistas do que razões técnicas...).
Modernas instalações da cantina
Foto meio fora de foco da sala de barricas. Para a próxima viagem preciso providenciar uma máquina com tripé...

Os vinhos forma degustados durante um agradável almoço no restaurante regional Pinheiro Novo. A curiosidade fica por conta do proprietário do restaurante, um jovem brasileiro, concentrado em fazer uma comida regional sem firulas, mas precisa e bem-feita.
Restaurante Pinheiro Novo
Os vinhos degustados foram:

1 – Parus Branco 2009
100% Antão Vaz, agradável e equilibrado, com notas cítricos e abacaxi. Falta um pouquinho de acidez, mas por outro lado resulta num branco bem macio, de média/longa persistência.
3D+

2 – Parus Tinto 2008
Prioritariamente Alicante Bouschet (80%), com pequenas quantidades de Aragonez e Touriga Nacional. Fino e complexo, com toques contidos de madeira, como especiarias e tostados. Fruta madura, macio, de bom corpo e média/longa persistência.
3D+

Após uma breve parada na praia particular da Herdade (na qual nós não tivemos tempo de nadar...) seguimos nossa viagem, rumo a Évora, da qual já falei em outro post.
Uma visão do Paraíso... Fora do nosso alcance.
Uma curiosidade a respeito do nome Herdade, muito comum em propriedades rurais do Alentejo, e Quinta, muito comum no norte de Portugal. No norte, densamente povoado, as propriedades eram, em geral, pequenas e familiares, quase um quintal muito grande, vindo daí o nome quinta. Já no sul, mais árido e pouco povoado, quando a coroa portuguesa precisa de apoio para a guerra, oferecia aos que a apoiavam largas porções de terra, que seriam, a partir de então, hereditárias, passadas de uma geração para a outra, e daí o nome Herdade.

Mas, Herdades e Quintas a parte, nó próximo post encerro este giro por Portugal, com o jantar na casa do Mestre António Saramago.

Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até lá.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bairrada – Leitões e Quinta das Bágeiras

No caminho para Lisboa, eis a Bairrada, parada estratégica para o almoço, e como não poderia deixar de ser, bons vinhos. A Bairrada abrange praticamente todo o território das colinas que demarcam o limite do Dão até o Atlântico. É uma região de clima mais úmido que a média de outras regiões importantes, o que consequentemente trará dificuldades para a maturação das uvas e para o controle de pragas na vinha.


As castas símbolo aqui são a tinta Baga, e as brancas Bical e Maria Gomes (ou Fernão Pires). O solo é pesado, argiloso, o que resulta em vinhos mais encorpados. Isso somado ao toque rústico natural da Baga resultará em tintos estruturados e com potencial de guarda, muitas vezes até difíceis de degustar quando jovens. Nos dias de hoje, uma série de processos enológicos mais modernos tem resultado em vinhos mais macios e prontos, tendência esta iniciada por pioneiros como Luís Pato, que assumiu como missão a tarefa de “domar” a Baga, tornando-a uma uva mais comercial e acessível.

Entrada da Quinta da Bágeiras
Além dos bons vinhos tranquilos, a Bairrada também tem grande potencial para a produção de bons espumantes, em especial pelo método clássico, com a segunda fermentação em garrafa, e foi parte deste processo que pudemos conferir mais de perto na Quinta das Bágeiras.

A Bágeiras é uma vinícola relativamente pequena, familiar, que iniciou suas atividades no fim dos anos 80. O proprietário, Mário Sérgio Alves Nuno, participa de todo o processo, e é atento aos menores detalhes. A Bágeiras produz ótimos tintos e brancos, muito bons mesmo, mas é nos grandes espumantes que está sua grande vocação, vinhos complexos e longevos, cujas provas compartilharei a seguir.

Fomos recebidos primeiramente pelo Bernardo, um moçambicano autointitulado “pau-para-toda-colher”, que nos guiou em uma didática visita pelas caves da Bágeiras, mostrando na prática todo o processo de produção de espumantes pelo Método Clássico.
O "Pau-Para-Toda-Colher" Bernardo

As leveduras e a mágica da autólise
Está tudo lá, as pupitres, os vinhos antigos ainda sur lie, aproveitando-se das vantagens do processo de autólise, os equipamentos de dégorgement. A vinícola conta ainda com estoques de suas safras mais antigas, em especial o Colheita 1989, que ainda esta disponível na vinícola.
Pupitres
Reserva de safras antigas. Imagina se cai a última garrafinha la de baixo...
Além dos vinhos, a Bágeiras ainda produz, em pequenas quantidades, um delicado vinagre de vinho tinto, com vinhos base de Baga, que passa por um cuidadoso e longo processo de acetificação natural, por no mínimo 15 anos em barricas, além de dois destilados, uma bagaceira aromática e intensa, e um ótimo brandy, destilado pelo método charentais, e envelhecido por no mínimo dez anos antes do engarrafamento; macio e complexo.
Só para lembrar da "pequena" pressão de 6 atmosferas que se encontra dentro de uma garrafa de espumante.
Porém, a parte dos vinhos, o grande destaque ficou por conta do almoço. Após um entrada “levinha”, arroz de cabidela, que nada mais é do que um arroz cozido com os miúdos do porco, em seu sangue, degustamos (sim, esse é o termo que se aplica), o incomparável Leitãozinho da Bairrada, macio, com a carne desmanchando, pele clarinha e crocante, pouquíssima gordura e sabor e texturas delicados. O correto serviço do Leitão foi garantido pelo próprio Mário Sérgio, ele mesmo membro da Confraria do Leitão da Bairrada, que se dedica a manter inalterada a tradição que envolve esta iguaria regional. O ponto correto do assado, segundo a tradição, acontece quando é possível separar a cabeça do leitão do corpo utilizando a borda de um prato. Uma cena pitoresca, cuja foto, infelizmente vou ficar devendo acabaram as pilhas da máquina... Para quem não provou ainda esta iguaria, eu recomendo, vale a viagem.
Aqui nós comemos o Leitão. Depois desta foto, acabaram minhas pilhas...
Mas, de volta ao nosso tema central, vamos aos vinhos degustados na Quinta das Bágeiras:

1 – Espumante Brut Reserva 2009
Leve nota de fermentação, fruta branca e leve floral. Ótima mousse, grande frescor, discreto amargor e média longa persistência.
4D+

2 – Espumante Grande Reserva 2003
Mel, frutas secas, leve balsâmico. Excelente frescor, complexo e longo. Já com um pouco menos de gás.
4D+

3 – Espumante Colheita 1989
Um espetáculo, complexo, evoluído, cogumelos, frutas secas, etéreo, bom perlage, embora não muito intenso, cremoso, muito longo, quase um grande Champagne.
5D+

4 – Colheita Branco 2010
Corte de Maria Gomes, Bical e Cercial, com fruta amarela delicada, algo de floral, ótimo frescor, boca cítrica, macio e longo.
3D+

5 – Garrafeira Branco 2009
Corte de Maria Gomes e Bical, com notas marcadas de baunilha e fermento, por conta da fermentação em barricas. Fruta amarela mais madura, cera, bom frescor, fino, longo e harmônico, complexo.
4D+

6 – Reserva Tinto 2008
Corte de Baga e Touriga Nacional, com boa fruta, madura e limpa, algo de floral. Bom frescor, ótima adstringência, com taninos muito finos, longo e equilibrado.
4D+

7 – Garrafeira Tinto 2004
Um Baga maduro, balsâmico, com fruta em compota, estragão e alcaçuz. Grande frescor, finíssimo, longo, muita especiaria no retro olfato. Harmônico, um grande vinho.
5D

Ótimos vinhos, comida de cair o queixo, anfitriões simpáticos e acolhedores, tudo perfeito, um grande encerramento, não é? Pois é, mas ainda faltava um último jantar...

Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até a próxima.

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