sexta-feira, 10 de julho de 2020

Canadá - Revista Escanção


A produção global de vinhos, ainda que liderada pela Europa, conta já há muito com importantes países do Novo Mundo entre os mais destacados produtores, com vinhos de qualidade e bom preço em volumes expressivo. Entre os maiores volumes produzidos, encontraremos países como Argentina, Austrália e Estados Unidos. Precisamente os Estados Unidos ocupam uma posição muito especial, como o 4º maior produtor mundial e um dos principais mercados consumidores.
Ainda que os grandes volumes, de produção e consumo, estejam nos Estados Unidos, não é estes país produtor exclusivo na América do Norte; afinal temos um importante volume de produção ao Sul, no México, além de vinhos de classe internacional, que receberão nossa atenção hoje, ao Norte, no Canadá.
Com mais de 12.000ha de vinhedos, o Canadá ainda é um produtor tímido no cenário global; basta citar que apenas o pequenino Napa Valley tem uma área de vinhedos superior. Mas o que deixa a mais notável impressão aqui é não o volume, mas sim a qualidade dos vinhos, já elevada e ainda em evolução.
As referências imediatas que se tem do Canadá são as de um país frio, com um vasto território gélido e inexplorado comercialmente, até por conta da real impossibilidade da agricultura comercial ter sucesso em temperaturas tão baixas. Mas mesmo essa característica tem sua importância no posicionamento dos vinhos canadenses no mercado, como veremos a seguir.
Ainda que a história do vinho no Canadá venha já desde os séculos XVII e XVIII, a moderna indústria do vinho tem seu início nos anos 1970 e passa a realmente crescer e organizar-se na década seguinte, após a assinatura dos primeiros acordos de livre comércio com os EUA. De lá para cá, ainda que com volumes de produção pequenos, o Canadá vem encontrando seu espaço, posicionando-se como um produtor de vinhos de clima frio, com grande sucesso com castas como a Pinot Noir a Riesling e a Chardonnay, além de ter como seu produto emblemático os vinhos doces feitos com uvas congeladas, os Icewines. Essa especialidade, comum na Alemanha e em outros países do Leste Europeu, encontra aqui condições ideais para sua produção com qualidade e constância, em função dos sempre rigorosos invernos do país, onde as temperaturas exigidas por lei para que as uvas congelem totalmente nos vinhedos, -8°C, são atingidas com relativa facilidade.
A uva mais utilizada na produção dos Icewines canadenses é a Vidal Blanc, hibrida, resistente ao frio e de maturação mais rápida, porém os melhores exemplares só aqueles produzidos a partir da Riesling. Também há cultivos expressivos de variedades hibridas para a produção de vinhos secos de mesa, inclusive com uma DO, Tidal Bay, em Nova Scotia, que deve ter seus vinhos brancos compostos majoritariamente de hibridas, sendo L’Acadie a principal delas.
São duas as províncias que produzem a imensa maioria dos vinhos, nas duas “pontas” do país; Ontario no Leste e British Columbia no Oeste.
A produção em British Columbia vem crescendo de forma consistente, com um aumento expressivo do número de vinícolas ali instaladas. As principais zonas de produção são o Okanagan Valley e o Simikameen Valley, cerca de 250km à Leste de Vancouver; aqui as chuvas que vem do Pacífico são bloqueadas por uma cadeia montanhosa e, no caso de Okanagan o profundo lago que da nome a zona ajuda na regulagem das temperaturas, permitindo uma melhor maturação, em alguns casos mesmo de uvas bordalesas, especialmente no sul da região, mais quente.
A principal região produtora do país, tanto em volume quanto em reconhecimento, ainda é Ontário, com mais de 80% dos seus vinhedos localizados na península do Niágara, de onde saem muitas dos mais reconhecidos rótulos nacionais. Há outras zonas de produção em Ontário, em Pelee Island, Lake Eire North Shore e Prince Edward County, mas é em Niágara que efetivamente a mágica acontece.
Os solos são formados por depósitos glaciais, do final da última Era do Gelo, com boa presença de calcário. A variedade de solos e estilos, bem como a prominência comercial da zona, levaram a sua subdivisão mais detalhada, com 12 sub apelações, algumas delas já reconhecidas pela qualidade de seus vinhos, como Beamsville Bench e Niagara Escarpment. Aqui, a grande massa de água do lago Ontario serve par mitigar os efeitos das frias massas de ar que vem do Ártico, enquanto que a diferença de temperaturas entre este e o lago Erie, mais ao Sul, fazem que sempre tenhamos ventos circulando, o que aumenta a proteção contra geadas e doenças fúngicas.
Chardonnay, Pinot Noir, Riesling e Gamay brilham aqui, mas mesmo castas como a Syrah tem dado bons resultados, além de varietais menos comuns internacionalmente, como Gewürztraminer e Pinot Gris. A província vizinha, de colonização francesa, o Québec, tem também sua viticultura, com cerca de 100 pequenas vinícolas, mas sem grandes volumes de produção.
O única selo “nacional” de qualidade, indicando eu a regulamentação e controles sobre a produção, é o VQA, Vintners Quality Alliance, que exige 100% de uvas canadenses nos vinhos, mas tem seus pormenores regulamentados de forma compartimentada, por cada uma das províncias.
Ainda no campo das bebidas, outros produtos nacionais canadenses também devem receber atenção do Escanção, sobretudo por sua qualidade, a saber, os whiskies, feitos em estilo macio e suave, além das cidras, amplamente produzidas e com elevada qualidade. Aliás, o grande sucesso do Icewine serviu de inspiração para a criação de um produto similar, a Ice Cider, produzida de forma semelhante, mas com maçãs congeladas, algo só possível no rigoroso inverno canadense, uma vez que ao contrário das uvas, que congelam já a partir dos -6°C, maçãs só vão congelar a partir de -25°C. Mas o esforço na produção compensa, com produtos deliciosamente doces e aromáticos, concentrados e equilibrados por brilhante acidez.


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