quarta-feira, 12 de maio de 2021

Croácia - Escanção

 

O sempre crescente interesse do consumidor por novos vinhos, novas castas, novas origens e mais, já há muito tem sido o motor da expansão das fronteiras do mundo do vinho. Especialmente nos últimos 30 ou 40 anos vimos a emergência de novos e mais bem informados bebedores, interessados em melhor conhecer a origem e história daquilo que têm no copo.

Assim, de forma natural, o storytelling de um vinho passou a ser algo cada vez mais importante para a construção das marcas, o que acabou por dar espaço a categorias antes virtualmente inexistentes, do ponto de vista comercial, como os vinhos naturais, biodinâmicos e veganos, ou ainda vinhos de países antes pouco presentes nas prateleiras ocidentais.

Nesta última categoria, vêm marcar seu espaço os vinhos do Leste Europeu, de países que até o início dos anos 1990 estavam do lado de lá da Cortina de Ferro, com governos comunistas ditatoriais sob influência direta da então União Soviética. Dentro da lógica de controle centralizado do governo Soviético, não tão diferente do que ocorreu em Portugal durante os anos de Salazar, a produção da maioria destes países foi reorganizada, em sistema de cooperativas, com foco no volume em detrimento da qualidade.

Desta forma, foi apenas a partir da queda do Muro de Berlim e do fim da URSS é que a produção destes países voltou a se organizar, na medida em que estas nações passaram a ter maior acesso aos mercados internacionais, conquistando consumidores, em um primeiro momento, pelo exotismo de seus vinhos, feitos com castas autóctones desconhecidas, ou em regiões obscuras, ou ambos.

Posição privilegiada na conquista destes novos consumidores acabou sendo ocupada pelo Croácia, parte da antiga Iugoslávia, fundamentalmente por uma série de laços de sua história vitivinícola com a Itália, logo do outra lado do Mar Adriático; a costa croata foi parte do território Veneziano no passado e o interior do país é tradicional fornecedor de carvalho para os botti tão utilizados na produção de vinhos do país da bota.

Hoje a Croácia é um destino turístico dos mais disputados, com belezas naturais estonteantes e uma coleção de cidadezinhas pitorescas. Neste cenário, o vinho do país também conquista mais adeptos a cada dia. Podemos grosseiramente dividir o território nacional em dois; as áreas costeiras, à oestes dos Alpes Dináricos, e a Croácia continental, com produção de vinhos em zonas mais ao Nordeste. Oficialmente, desde 2018 temos 4 regiões produtoras, duas no interior (Bregovita Hrvatska e Slavoniji i Podunavlje) e duas no litoral (Istra i Kvarner e Dalmacija).

No interior temos já um importante laço com o restante do mundo do vinho, já mencionado. Vem da Eslavônia o carvalho tão valorizado na produção de barricas, especialmente tonéis e pipas. Aliás, não é incomum a tradução equivocada de muitas publicações e sites para o português, que trocas Eslavônia por Eslovênia, fato ao qual há de se estar sempre atento; recipientes de carvalho são feitos com madeira da Eslavônia. A produção de vinhos aqui no interior está concentrada em áreas mais próximas às fronteiras com Hungria e Eslovênia, não sendo a região de maior destaque, ainda que produza vinhos interessantes a partir de castas internacionais e locais. Talvez o maior destaque aqui seja a casta branca Graševina, mais conhecida como Welschriesling ou Riesling Itálico, apesar de não ter qualquer parentesco com a Riesling. O destaque é mais pela ampla difusão dessa casta por outros países da região, bem como pelo Brasil, e por tratar-se da casta mais cultivada em todo o país.

No mais, os vinhos do interior reúnem uma ampla coleção de castas locais e internacionais, em uma variedade de estilos, em geral com maior foco nos exemplares de boa relação custo/benefício.

Já nas zonas costeiras é que encontraremos a regiões de maior destaque, bem como as castas mais reconhecidas internacionalmente, as castas locais, que fique claro. Nessa parte do país encontraremos com maior frequência uvas autóctones que são inclusive reconhecidas fora das fronteiras croatas. Entre estas a mais popular é a tinta Crljenak Kaštelanski, também conhecida como Tribidrag.

Certamente você já leu sobre essa casta croata e há uma grande chance que você inclusive já tenha provado vinhos feitos com ela e não se impressione se você não se recorda. O mais provável é que você a conheça por outro nomes. Essa casta de nome quase impronunciável é nada mais nada menos que a Zinfandel californiana, também cultivada na região italiana da Puglia, como Primitivo.

Durante décadas considerada uma casta autóctone californiana, pesquisas da UC Davis determinaram que era geneticamente a mesma Primitivo italiana e mais alguns anos de pesquisa levaram a identificação de sua origem croata. Aqui na Croácia a tinta que recebia maior atenção era a Plavac Mali, que se chegou a suspeitar seria a Zinfandel mas hoje sabe-se ser um cruzamento entre esta e a também autóctone Pošip. Apenas após essa descoberta é que essa tinta, até então relegada ao segundo plano e cultivada em pequenas quantidades no interior do país, voltou a crescer e vem entregando belos exemplares.

Ao longo da costa, da Ístria até o sul da Dalmácia, o litoral recortado e cheio de ilhas entrega uma variedade de solos e microclimas, que combinados com as diferentes tradições locais geram uma miríade de vinhos a serem descobertos, desde brancos frescos e aromáticos, passando por tintos cheios de caráter, até vinhos laranja, de longa maceração pelicular e maturados não em carvalho mas em acácia. Ou seja, vinhos para todos os gostos, ocasiões e gastronomias.

Dos mais interessantes países produtores que vem ganhando destaque globalmente, merecedor da atenção de consumidores e escanções.

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