terça-feira, 10 de novembro de 2020

Campanha Gaúcha - Escanção

 

Campanha Gaúcha e As Fronteiras do Vinho Brasileiro

Há umas tantas edições atrás, utilizamos este espaço para apresentar um panorama da vitivinicultura brasileira, com novas zonas de produção se desenvolvendo a cada dia. De fato, o potencial do Brasil para a produção de bons vinhos é grande, temos um país de dimensões continentais e portanto com grande variedade de solos e climas.

Ainda que esse potencial não seja plenamente explorado, é inegável o interesse e abnegação de muitos e muitos empreendedores deste mundo, a cada dia dedicando-se a alargar nossas fronteiras vitivinícolas.

Neste processo, da busca pelo novo, legados vão ficando pelo caminho. Conforme aprofunda-se o conhecimento sobre regiões já tradicionais e segue-se adiante desbravando novas fronteiras, mais compreende-se as vocações particulares de cada região e as particulares de nossos muitos terroirs.

Parte crucial deste processo é o reconhecimento oficial de novas zonas de produção, garantindo aos produtores que ali investem a tranquilidade de que suas marcas regionais serão protegidas, bem como garantindo ao consumidor a procedência dos produtos que estrão em suas taças. Neste processo, o Brasil conta hoje com sete zonas de produção demarcadas, sendo uma DO (Denominação de Origem) e seis IPs (Indicações de Procedência). A inspiração é evidentemente o modelo Europeu, com as IPs correspondendo aos Vinhos Regionais de Portugal, com áreas de produção mais amplas e normas de produção mais abertas à criatividade e experimentação.

Em meio a pandemia que nos assola, quando o inevitável isolamento e as muitas restrições ao deslocamento levaram a um crescimento do consumo e do interesse do brasileiro por vinhos, especialmente os locais, foi aprovada pelos órgão governamentais brasileiros a criação de uma nova IP, a Campanha Gaúcha.

Ainda que a demarcação da IP só ocorra oficialmente agora em 2020, é seguro afirmar que ela vem já com algum atraso. Afinal não falamos aqui de uma região ainda debutante, com os primeiros vinhedos experimentais plantados há pouco e um ou outro produtor pioneiro. A Campanha tem tradições na produção de vinhos que remontam ao século XIX e, especificamente na fase atual do vinho brasileiro, é justamente aqui que se inicia a virada de nossa indústria em direção ao vinho fino, com a instalação da multinacional norte americana Almadén na década de 1970.

Nos últimos anos foram 18 as vinícolas que ali se instalaram, cultivando cerca de 1.600ha que fazem desta a 2ª mais importante região produtora do Brasil e com importante potencial de crescimento no futuro próximo.

Localizada na fronteira sul do país, no limite entre Brasil e Uruguai, a Campanha Gaúcha conta com importantes vantagens competitivas. O clima é mais quente, seco e estável do que aquele da Serra Gaúcha, nossa principal região. Desta forma, a maturação mesmo de castas tintas de ciclo mais longo é mais confiável e estável, fato ainda favorecidos pelos solos arenosos e de boa drenagem que aqui se encontram. Obtém-se aqui ótimos resultados com castas bordalesas, bem como com a Tannat, mas não faltam exemplos de bons vinhos feitos com castas menos comuns, como a Touriga Nacional, a Alvarinho, a Riesling, a Petit Manseng, entre outras.

Outra importante vantagem da Campanha Gaúcho é o relevo. A região é ampla e relativamente plana, com suaves colinas, parte de um bioma que compreende partes do Brasil e do Uruguai, o Pampa. Essa característica permite a mecanização dos vinhedos o que permite, por sua vez, a produção de vinhos com menor custo. Há de se considerar que, por não se tratar a vitivinicultura de uma atividade econômica de grande peso no PIB brasileiro, a carga tributária sobre os vinhos, mesmo os aqui produzidos, é significativamente alta. Logo, toda redução de custo acaba tendo um importante impacto no preço final.

Em tempo, com o aumento da produção local e maior compreensão da zona, a tendência é que tenhamos uma divisão da Campanha em zonas menores, afinal falamos aqui de uma região que tem, mais ou menos, metade da área de Portugal continental, portanto com importantes variações de solo e clima.

Já não são poucos os vinhos de alta qualidade produzidos na Campanha Gaúcha; também não são poucas as vinícolas tradicionais, instaladas na Serra Gaúcha, que adquirem aqui as uvas para alguns de seus melhores vinhos. O reconhecimento da IP permitirá maiores investimentos da identidade regional, tornando a região reconhecida por seus muitos méritos e facilitando o acesso do consumidor a vinhos cada vez melhores e mais representativos da grande diversidade cultural que compõem o Brasil.

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