quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um Negócio da China! Observações a Respeito do Crescente Mercado de Vinhos na China

Nos últimos anos, a China tem se firmado como um dos mais importantes mercados no mundo do vinho. Em 2016, os chineses devem assumir o posto de segundo maior país consumidor, com 250 milhões de caixas, atrás apenas dos Estados Unidos, com uma previsão de 350 milhões de caixas.
O consumo per capita ainda é pequeno, cerca de 1,6 litro/ano por habitante, mas, quando multiplicamos este número pela população chinesa, fica fácil entender o grande interesse que este mercado desperta. Com uma crescente população urbana, uma classe média em ascensão, e um interesse cada vez maior em copiar os hábitos ocidentais, a China tornou-se, em relativamente pouco tempo, a resposta às preces dos produtores cada vez com mais dificuldades em escoar suas produções nos países consumidores tradicionais.
Com suas dimensões continentais, e um sexto da população mundial, a China tem uma história milenar com a viticultura, no entanto, a produção sempre foi mais voltada às uvas de mesa. O grande impulso a indústria do vinho veio a partir de 1979, quando o governo comunista estabeleceu condições que permitiam a entrada de produtos e investimentos estrangeiros. Rapidamente, o vinho adquiriu um posto de honra entre nos mercados chineses.
E não estamos aqui falando apenas das importações crescentes, mas também da produção local, muitas vezes com o apoio técnico e financeiro de empresas estrangeiras.  Já em 1980, a empresa francesa de bebidas Rémy-Martin estabeleceu a primeira joint-venture no país, iniciando a produção dos vinhos da linha Dinasty; em seguida veio a Pernod Ricard, que entre 1987 e 2001 produziu os rótulos Dragon Seal; já a Castel, gigante francês do setor, produz a linha Château Changyu-Castel; e mesmo o Château Lafite-Rothschild, dos mais afamados produtores do mundo, produz ali seu vinho local, na província de Shandong, logo ao sul da capital Beijing.
Em especial, o Château Lafite tem alcançado um sucesso fenomenal na China; há uma piada no meio de que a China é o maior produto mundial de Château Lafite 1982, tal o volume de falsificações que surgiram deste muito procurado vinho. Mesmo o segundo rótulo da vinícola, o Carruades de Lafite, alcança ali altos preços, o que levou a uma considerável alta dos preços destes dois vinhos em nível global. Daí a óbvia animação da Lafite para investir em Shandong.
Shandong, aliás, tem se firmado como a mais importante região produtora da China, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, com a maior parte das vinícolas sérias do país se estabelecendo ali. Shanxi, no centro, e Xingjian, no noroeste, também têm apresentado bons e importantes resultados, mas a região que despertou maior atenção recentemente é a província de Ningxia, ao norte. Foi de Ningxia que saiu o primeiro vinho chinês a receber uma importante distinção internacional; o Jia Bei Lan Cabernet 2009, da vinícola He Lan Qing Xue, foi premiado pela revista britânica Decanter como o melhor varietal bordalês abaixo de 10£ em 2011.
Em geral, as principais regiões exploradas apresentam como principal obstáculo os elevados índices de humidade, o que facilita o surgimento de fungos e pragas, e faz com que alguns produtores ainda priorizem castas locais como Long Yan (olho de dragão) e a Beichun, mas o maior crescimento, e os melhores resultados, são alcançados pelas tradicionais castas francesas, em especial Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Chardonnay. Com o crescimento da demanda interna, a tendência é que as empresas nacionais se movimentem para supri-la, o que sem dúvida levará a produção de grandes volumes de vinhos de qualidade duvidosa, mas levará também a investimentos e a procura de novos terroirs. Em um país tão grande como a China por certo haverá regiões propícias a produção de vinhos de grande qualidade, sendo apenas uma questão de tempo até a descoberta das mesmas.
Para nós, brasileiros, resta-nos explorar este potencial comercial, trabalho que, ainda que a passos curtos, nossos produtores têm feito, e também aguardar, para um futuro não tão distante, o desembarque de rótulos chineses em nossas prateleiras. Mas por favor, hein, os originais! Nada de cópias!
Abraços e até a próxima!
Este texto, de minha autoria, foi publicado originalmente no portal Gastrovia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vinhos do Leste Europeu

Vinhedos da costa da Dalmácia, Croácia, com a uva local Dingac
Segue texto que publiquei na edição de nº 18 da Classe A Magazine, com um pouco de informação sobre os atraentes vinhos do leste europeu. Espero que gostem!

"Os Tradicionais Vinhos Europeus (do leste)

Nestas páginas você já leram artigos sobre Espanha, França, Portugal, Itália, e até sobre a Hungria, mas nesta edição, minha proposta e ir um pouco mais a fundo na vitivinicultura dos países que, até o princípio dos anos 90, estavam do outro lado da cortina de ferro.

Estamos falando aqui de países como a própria Hungria, mas também Polônia, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Sérvia, Albânia, entre outros tantos. Uma característica partilhada por todas estas nações, além dos nomes de uvas e regiões quase impronunciáveis, é a marcada influência que o período comunista teve sobre seus vinhedos e os vinhos ali produzidos. Após a Segunda Guerra Mundial, o comunismo fez com que países que tinham uma rica e antiga história na produção de vinhos, vissem do dia para a noite todos os seus vinhedos e vinícolas passarem ao controle estatal.

Visando atender a demanda interna do bloco comunista, passou-se a focar a quantidade em detrimento da qualidade, com vastas áreas de plantação em terrenos planos e férteis, aptos a mecanização. Cultivos tradicionais foram abandonados, ou, na melhor das hipóteses, relegados a um segundo plano, e tiveram que aguardar por décadas pelos primeiros sopros de renovação.

Com o fim do bloco comunista, no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, lentamente começaram a surgir sinais de recuperação. Aos poucos, com os vinhedos e vinícolas voltando às mãos de proprietários privados, foi possível chamar a atenção de outros países, e buscar recursos externos para a modernização e reestruturação dos vinhedos. Num segundo momento, o ingresso de alguns destes países na União Europeia acelerou este processo, abrindo ainda novos mercados para os vinhos ali produzidos.

Falando um pouco sobre alguns destes países, vamos começar por aqueles que já estão presentes no mercado brasileiro. Inicialmente temos a Hungria, com vários rótulos em nosso mercado, e talvez a mais dinâmica nação do leste europeu em termos de atuação nos mercados externos. Isso se deve, em parte, a grande fama de seu principal produto, os vinhos doces da região de Tokaj-Hegyalja. Ainda antes do fim do comunismo a região já atraía investimentos estrangeiros, em função principalmente da fama que estes vinhos tinham na Europa. Porém, hoje podemos encontrar produtos de outras regiões e estilos, como por exemplo os ótimos tintos da região de Villany, no sul do país, de castas como a Cabernet Franc, Kékfrankos, Portugueiser, entre outras, além de alguns exemplares secos da própria região de Tokaj.

Encontramos também em nosso mercado alguns vinhos da Croácia e da Eslovênia. Esta, com maior participação de castas conhecidas fora de suas fronteiras, como a Pinot Noir e a Robola (Ribola Gialla, na Itália), enquanto que aquela nos apresenta sobretudo castas autóctones, ou seja, castas próprias daquele país, como a tinta Plavac Mali e a branca Posip, ambas da região de Peljesac.

Aliás, outra característica importante, já mencionada acima, é a nomenclatura das uvas e regiões, que nos brindam com nomes como Crljenak Kaštelanski, uva tinta croata, mais conhecida como Primitivo, ou Krk, pequena ilha produtora de vinhos no litoral croata, só para citar dois exemplos. Caso você esteja tentando pronunciar estes nomes, desista, sem conhecer o idioma não dá!

Alguns países em especial, como a Bulgária e a Romênia, já dispõem de um volume mais expressivo de vinhos de alta qualidade, e tem se feito presentes em diversos mercados externos. Deve ser só uma questão de tempo até que encontremos em nossas prateleiras uvas como Melnik e Mavrud, da Bulgária, ou regiões como Cotnari e Dealul Mare, da Romênia. Outros, como a Eslováquia, a República Tcheca, ou aqueles que compunham a antiga Iugoslávia, ainda tem um caminho a percorrer, mas não se surpreende se, em breve, suas garrafas de vinho tiverem muito mais consoantes nos rótulos!"
Grande abraço e até a próxima!

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