terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bairrada – Leitões e Quinta das Bágeiras

No caminho para Lisboa, eis a Bairrada, parada estratégica para o almoço, e como não poderia deixar de ser, bons vinhos. A Bairrada abrange praticamente todo o território das colinas que demarcam o limite do Dão até o Atlântico. É uma região de clima mais úmido que a média de outras regiões importantes, o que consequentemente trará dificuldades para a maturação das uvas e para o controle de pragas na vinha.


As castas símbolo aqui são a tinta Baga, e as brancas Bical e Maria Gomes (ou Fernão Pires). O solo é pesado, argiloso, o que resulta em vinhos mais encorpados. Isso somado ao toque rústico natural da Baga resultará em tintos estruturados e com potencial de guarda, muitas vezes até difíceis de degustar quando jovens. Nos dias de hoje, uma série de processos enológicos mais modernos tem resultado em vinhos mais macios e prontos, tendência esta iniciada por pioneiros como Luís Pato, que assumiu como missão a tarefa de “domar” a Baga, tornando-a uma uva mais comercial e acessível.

Entrada da Quinta da Bágeiras
Além dos bons vinhos tranquilos, a Bairrada também tem grande potencial para a produção de bons espumantes, em especial pelo método clássico, com a segunda fermentação em garrafa, e foi parte deste processo que pudemos conferir mais de perto na Quinta das Bágeiras.

A Bágeiras é uma vinícola relativamente pequena, familiar, que iniciou suas atividades no fim dos anos 80. O proprietário, Mário Sérgio Alves Nuno, participa de todo o processo, e é atento aos menores detalhes. A Bágeiras produz ótimos tintos e brancos, muito bons mesmo, mas é nos grandes espumantes que está sua grande vocação, vinhos complexos e longevos, cujas provas compartilharei a seguir.

Fomos recebidos primeiramente pelo Bernardo, um moçambicano autointitulado “pau-para-toda-colher”, que nos guiou em uma didática visita pelas caves da Bágeiras, mostrando na prática todo o processo de produção de espumantes pelo Método Clássico.
O "Pau-Para-Toda-Colher" Bernardo

As leveduras e a mágica da autólise
Está tudo lá, as pupitres, os vinhos antigos ainda sur lie, aproveitando-se das vantagens do processo de autólise, os equipamentos de dégorgement. A vinícola conta ainda com estoques de suas safras mais antigas, em especial o Colheita 1989, que ainda esta disponível na vinícola.
Pupitres
Reserva de safras antigas. Imagina se cai a última garrafinha la de baixo...
Além dos vinhos, a Bágeiras ainda produz, em pequenas quantidades, um delicado vinagre de vinho tinto, com vinhos base de Baga, que passa por um cuidadoso e longo processo de acetificação natural, por no mínimo 15 anos em barricas, além de dois destilados, uma bagaceira aromática e intensa, e um ótimo brandy, destilado pelo método charentais, e envelhecido por no mínimo dez anos antes do engarrafamento; macio e complexo.
Só para lembrar da "pequena" pressão de 6 atmosferas que se encontra dentro de uma garrafa de espumante.
Porém, a parte dos vinhos, o grande destaque ficou por conta do almoço. Após um entrada “levinha”, arroz de cabidela, que nada mais é do que um arroz cozido com os miúdos do porco, em seu sangue, degustamos (sim, esse é o termo que se aplica), o incomparável Leitãozinho da Bairrada, macio, com a carne desmanchando, pele clarinha e crocante, pouquíssima gordura e sabor e texturas delicados. O correto serviço do Leitão foi garantido pelo próprio Mário Sérgio, ele mesmo membro da Confraria do Leitão da Bairrada, que se dedica a manter inalterada a tradição que envolve esta iguaria regional. O ponto correto do assado, segundo a tradição, acontece quando é possível separar a cabeça do leitão do corpo utilizando a borda de um prato. Uma cena pitoresca, cuja foto, infelizmente vou ficar devendo acabaram as pilhas da máquina... Para quem não provou ainda esta iguaria, eu recomendo, vale a viagem.
Aqui nós comemos o Leitão. Depois desta foto, acabaram minhas pilhas...
Mas, de volta ao nosso tema central, vamos aos vinhos degustados na Quinta das Bágeiras:

1 – Espumante Brut Reserva 2009
Leve nota de fermentação, fruta branca e leve floral. Ótima mousse, grande frescor, discreto amargor e média longa persistência.
4D+

2 – Espumante Grande Reserva 2003
Mel, frutas secas, leve balsâmico. Excelente frescor, complexo e longo. Já com um pouco menos de gás.
4D+

3 – Espumante Colheita 1989
Um espetáculo, complexo, evoluído, cogumelos, frutas secas, etéreo, bom perlage, embora não muito intenso, cremoso, muito longo, quase um grande Champagne.
5D+

4 – Colheita Branco 2010
Corte de Maria Gomes, Bical e Cercial, com fruta amarela delicada, algo de floral, ótimo frescor, boca cítrica, macio e longo.
3D+

5 – Garrafeira Branco 2009
Corte de Maria Gomes e Bical, com notas marcadas de baunilha e fermento, por conta da fermentação em barricas. Fruta amarela mais madura, cera, bom frescor, fino, longo e harmônico, complexo.
4D+

6 – Reserva Tinto 2008
Corte de Baga e Touriga Nacional, com boa fruta, madura e limpa, algo de floral. Bom frescor, ótima adstringência, com taninos muito finos, longo e equilibrado.
4D+

7 – Garrafeira Tinto 2004
Um Baga maduro, balsâmico, com fruta em compota, estragão e alcaçuz. Grande frescor, finíssimo, longo, muita especiaria no retro olfato. Harmônico, um grande vinho.
5D

Ótimos vinhos, comida de cair o queixo, anfitriões simpáticos e acolhedores, tudo perfeito, um grande encerramento, não é? Pois é, mas ainda faltava um último jantar...

Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.

Grande abraço e até a próxima.

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