sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Um Outro Chile, com MOVI

Participei nesta semana de uma degustação promovida pelo MOVI, em São Paulo, para apresentação de seus membros e vinhos.
O MOVI, Movimento das Vinícolas Independentes, é uma associação de vinícolas chilenas que atuam de forma diferenciada, em geral em pequena escala, e comprometidos com a qualidade de seus produtos, atenção esta que se inicia já no vinhedo. Segundo Felipe Garcia Reyes, proprietário da Bravado Wines, e vice-presidente do grupo, o principal pré-requisito para a participação de uma vinícola no grupo é que o proprietário esteja envolvido diretamente em TODO o processo, da plantação à venda.
Com o crescimento e profissionalização que a indústria vitivinícola chilena experimentou a partir dos anos 90, era natural o surgimento de grandes em empresas, e até conglomerados multinacionais, como é hoje a Concha y Toro, e em parte isso é positivo, pois globalizou o vinho chileno. Porém, é natural que haja, da mesma forma, profissionais preocupados com questões como sustentabilidade e tipicidade, dispostos a nadar contra a maré da padronização, produzindo vinhos únicos, que expressam não só a terra onde estão plantados, mas também a ação das pessoas envolvidas no processo produtivo, enfim, vinhos que expressem seu terroir.

O MOVI conta hoje com 19 membros, sendo que 17 estiveram com seus produtos presentes em uma série de eventos realizados em várias cidades brasileiras. A seguir, minhas notas de degustação dos 17 vinhos, e algumas informações sobre as vinícolas.

1 – Facundo 2006 – Bravado Wines
A vinícola pertence ao casal Felipe e Constanza, que desde 2006 investem em seu projeto pessoal, com vinhedos em Itata, Maule e Lolol. O vinho apresentado é um corte de Carignan, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, fragrante, com muita fruta fresca, flores, ervas, caramelo e especiarias doces; em boca é fresco, levemente sápido, longo e com finos taninos. Só sobrou uma pontinha de álcool, mas nada que comprometa o conjunto final. Importado pela Terramatter.
4D

2 – Mantum 2007 – Bustamante
Com uma produção de pouco mais de 5000 garrafas, a Bustamante localiza-se no Valle de Maule, e possui vinhas com mais de 100 anos de idade. Este corte em particular, com as castas Cabernet Sauvignon, Carmenére, Syrah e Merlot, apresenta fruta mais contida, especiarias e um leve vegetal; é seco, com média acidez, discreto amargor e média persistência, além de um discreto toque químico no retro gosto. Importado pela La Charbonnade.
3D

3 – Erasmo 2006 – Reserva de Caliboro
Sociedade entre Andrés del Solar e o Conde Francesco Marone Cinzano (isso mesmo, o do vermouth...) é produzido e engarrafado no vinhedo. Com um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, passa um ano em barricas francesas e mais um ano em garrafa. Apresenta notas florais, frutas vermelhas e negras frescas, discreto tostado e toques abaunilhados; bom corpo e frescor, macio, com taninos finos e longo final, com muita fruta. Importado pela Casa do Porto.
4D+

4 – Flaherty 2007 – Flaherty Wines
Pertencente ao casal Ed e Jen Flaherty, produz cerce de 1000 caixas a partir de vinhedos no Valle de Aconcágua. Este corte de Syrah, Cabernet Sauvignon e Tempranillo apresenta fruta madura, alcaçuz, e uma boca com bom frescor e fruta suculenta, bem agradável, com média/longa persistência. Importado pela Terramatter.
3D+

5 – Clos Andino Le Carménère 2010 – Clos Andino
Pertencente ao francês erradicado no Chile Jose Luis Martin-Bouquillard, o projeto Clos Andino foi iniciado em 2007. O foco neste vinho, que além da Carmenére leve pequenas partes de Cabernet Sauvignon e outras castas, é, a partir do terroir chileno, obter um vinho com a elegância e tipicidade peculiar dos vinhos franceses. Tem muitos aromas terciários, animais, como carne de caça e couro, além de um fruta negra discreta e um leve defumado. É fresco, com taninos finos, e um pequeno amargor final. Ainda sem importador no Brasil.
3D

6 – Lot #27 Old Vine Carignan Field Blend 2010 – Garage Wine Co.
Pertencente a Derek Moosmam, a vinícola faz, em suas origens, jus ao nome; começou em 2001, de forma irregular, na garagem da família em Santiago. As uvas são adquiridas de pequenos produtores, que cuidam de forma artesanal de suas frutas, e artesanalmente o vinho e produzido, sempre me pequenos lotes, e utilizando garrafas recicladas no engarrafamento. O Lot #27 em especial é um corte de Carignan e Grenache, plantadas juntas e misturadas já na colheita, produzindo um “field blend”, que homenageia, nesta safra 2010, a resistência dos lavradores do Maule, atingidos pelo terremoto daquele ano. Traz muita especiaria doce, como canela e cravo, fruta bem madura, quase geléia, e um marcado mineral. Tem bom frescor, é macio, vivo, suculento e longo. Importado pela Premium.
4D

7 – Gilmore Hacedor de Mundos Cabernet Franc 2007 – Gilmore
Pertencente a Andrés Sanchez e Daniella Gilmore, a vinícola fica instalada no Valle de Loncomilla, na cordilheira da costa. O fundador, Francisco Gilmore, instalou-se ali no fim dos anos 80, adquirindo vinhedos que pertenciam a centenária vinícola Tabontinaja. Com vinhedos da casta inferior País, já com mais de 80 anos de idade, Francisco aproveitou-se de suas raízes profundas e enxertou variedades francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Carignan. A Carignan em especial recebe uma atenção particular da vinícola, que faz parte do Club del Carignan. Já o Cabernet Franc degustado apresentava fruta madura, notas animais, balsâmico; em boca, bom corpo, muitos e finos taninos, com muita fruta e longa persistência. Pede mais alguns anos de garrafa. Importado pela Ana Import.
3D+

8 – I Latina Carmenére 2009 – i-Wines
Produzido a partir de vinhedos em Peumo, mais prestigiada região chilena para a produção de Carmenéres topo de gama, este vinho, que leva também uma pequena parte de Syrah, tem notas marcadas de chocolate amargo e tostado, evidenciando sua passagem por barricas, além de frutas em compota e um discreto herbáceo. Em boca é fresco, com o tostado mais marcado, bom corpo, macio, com média/longa persistência. Importado pela Berenguer Imports.
3D+

9 – Single Vineyard Limited Edition Syrah 2007 – Lagar de Bezana
Fundada em 1998 pelo empresário Ricardo Benzanilla Renovales, recentemente falecido, a Lagar de Bezana produz principalmente Cabernet Sauvignon e Syrah, buscando a máxima expressão do terroir do Valle de Cachapoal. Este Syrah 2007 em particular tem um nariz delicado, fino, com boa fruta madura e discreta nota de especiarias; boa presença de boca, taninos finos e abundantes e agradável retro gosto, com boa persistência. Importado pela Magnum.
4D

10 – Meli Reserva Carignan 2008 – Meli
Pequeno projeto familiar, conduzido pela enóloga Adriana Cerda e seus três filhos, que consiste em vinhedos de Riesling e Carignan, com uma média de 60 anos, plantados em Loncomilla, no Valle de Maule. A condução do vinhedo é orgânica, sem irrigação. O vinho degustado em especial apresentava aromas marcados de garapa, bala dura, fruta madura e especiarias doces; em boca, muito fresco, fino, de longa persistência, em uma palavra, instigante. Importado pela La Charbonnade.
4D

11 – Peumayen Carmenére 2009 – Viña Peumayem
Pertencente ao casal Erika e Francisco Carevie, e Peumayem produz seus vinhos no Valle de Aconcágua. É um Carmenére com pequenas partes de Syrah e Petit Verdot, de bom corpo, com fruta bem madura, tostado intenso, macio, com um discreto amargor e média/longa persistência. Sem importador no Brasil.
3D

12 – Polkura Syrah 2007 – Polkura
O nome faz referência a uma colina no meio do vinhedo, em cujas encostas são produzidas as uvas que dão origem a este vinho, em Marchigüe, Colchagua. Trata-se de um Syrah com pequenas partes de Malbec, Viognier, Grenache, Tempranillo e Mourvedre, com evidentes especiarias, eucalipto, fruta madura, bom frescor, taninos finos e abundantes e longa persistência, com frutas e especiarias retornando no final. Importado pela Premium.
4D

13 – Rukumilla 2006 – Rukumilla
Apenas 5 acres no Valle de Maipo, cultivados organicamente e manejados pela família dos proprietários, Andrés Costa e Angélica Grove. É um corte de Malbec, Syrah, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, austero, com cassis e framboesa, especiarias e ervas; fresco, maduro, com taninos finos e longa persistência. Sem importação no Brasil.
3D

14 – Starry Night Syrah 2010 – Starry Night
Apenas 8 hectares, divididos entre Syrah e Pinot Noir, em Maipo Costa. Este Syrah 2010 em especial traz muita fruta negra fresca, além de especiarias em evidência; fresco, longo e típico, com uma sugestão floral em boca. Importado pela Vinoart.
4D

15 – Trabun Syrah 2009 – Trabun
Pertencente ao enólogo e baterista Sergio Avendaño, a Trabun produz nesta propriedade familiar em Cachapoal o Syrah ora degustado, que tem uma leve nota vegetal, além de uma boa dose de fruta e algo de noz moscada; em boca, médio/alto frescor, maciez e um discreto amargor, aliado ao intenso retro gosto a frutas maduras. Importado pela La Charbonnade.
3D+

16 – Tanagra Syrah 2009 - Villard
Localizada no frio Valle de Casablanca, é uma das maiores vinícolas do MOVI, mas afinada com as proposta e filosofia do grupo. Este exemplar em especial traz fruta evidente, mas austera, algo de pimenta negra e discreto tostado. Fresco, de médio a encorpado, longo, equilibrado e elegante. Importado pela Decanter.
4D

17 – Montelìg 2005 – Viña von Siebenthal
Pertencente ao advogado suíço Mauro von Siebenthal, os vinhedos tem condução orgânica, e todos os esforços são dirigidos a máxima expressão do terroir do Valle de Aconcágua. Este corte de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Carmenére tem um nariz intenso, com muita fruta madura; enche a boca, e tem boa maciez, além de um agradável fim de boca. Importado pela Terramatter.
3D+

O nível geral de qualidade dos vinhos apresentados foi bem elevado, o que reforça a impressão positiva sobre os objetivos deste grupo. A maior parte da vinícolas já tem seus produtos no mercado brasileiro, e posso afirmar com tranquilidade que vale a pena garimpar nas prateleiras das lojas especializadas a sua procura.
Meus parabéns aos membros do MOVI pela bela iniciativa, e meu agradecimento a H3 pelo convite para tão especial degustação.

Espero que vocês tenham gostado, e animem-se a provar alguns destes vinhos. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
Grande abraço e até a próxima.

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