domingo, 15 de julho de 2012

Post nº 100!!! Degustando o Passado!

Aos trancos e barrancos, chego ao centésimo post deste blog! Agradeço aqueles que tem acompanhando este inconstante trabalho!
Para este post, havia eu já há algum tempo reservado um tema em particular, devido, principalmente, a enorme carga nostálgica e sentimental aqui envolvida. Sem deixar de falar de vinhos, este post, de forma singela, rende homenagem póstuma ao meu pai, António Carlos Arrebola, falecido em dezembro, e sua influência sobre minha escolha profissional.
Primeiramente, cabe esclarecer que o vinho não foi minha primeira escolha profissional, nem a segunda... E também que, embora minha família tenha raízes européias, não eram, nem meu pai, nem meu avô, consumidores habituais de vinho. No entanto, a primeira impressão positiva que tive a respeito desta bebida, e que carreguei comigo por muitos anos, surgiu a partir de um bate papo familiar, entre meu pai e meu avô  no distante ano de mil novecentos e qualquer coisa, quando eu tinha aí meus 10 anos de idade.
Nesta conversa, discutiam meu pai e meu avô os então recém descobertos benefícios do vinho a saúde, assunto que despertou-me o interesse. No dia seguinte, ao voltar da escola, repeti a um colega de classe todo o "conteúdo" absorvido na noite anterior. Ainda que de modo insipiente, este foi meu primeiro contato "técnico" com o mundo do vinho, e tudo aquilo que ele tinha a oferecer.
Outro aspecto que me influenciou foi a "adega" de meu pai. Coloco entre aspas, pois a referida adega nada mais era do que um móvel de madeira, no cômodo errado, recebendo os primeiros raios de sol da manhã, onde meu pai armazenava os vinhos que ele havia ganhado e adquirido ao longo dos anos. E é desta adega que saiu este pedaço do nosso recente passado enológico da foto aí embaixo.
Vinhos de outra época...
Ao limpar a adega, deparei-me com estes rótulos, que já há algum tempo me despertavam curiosidade; afinal, como teriam sobrevivido ao peso dos anos estes vinhos, relativamente simples em sua origem?
A oportunidade de colocá-los a prova veio por intermédio de um convite do Sr. Cristiano "Vivendo Vinhos" Orlandi, para participar de uma degustação para o Guia Brasil às Cegas, em fase de elaboração por ele e pelo Beto "Papo de Vinho" Duarte. A degustação deu-se no Espaço Rosso Bianco, do amigo Tiago Ribeiro, e ao final, aproveitei para colocar os meus velhinhos na mesa e partilhar o momento com os presentes.
Algumas boas surpresas! Para começar, embora nenhum dos vinhos estivesse em perfeitas condições, nenhum estava totalmente decrépito. Todos, inclusive os populares Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 e Almadén Cabernet 1996. Seguem minhas observações, segundo a foto da esquerda para a direita:
- Forestier Cabernet Franc 1996 (Brasil) : Ainda com alguns taninos e vivacidade, aromas francamente evoluídos, mas não desagradáveis.
- Cabernet San Carlos NV (Brasil) : Sei que esta garrafa é dos anos 80, embora não seja possível precisar a safra. Embora meio morto em boca, no nariz era o único a ainda apresentar evidentes notas frutadas.
- Baron de Lantier Cabernet Franc 1986 (Brasil) : Sempre citado como um exemplo da vitivinicultura de outros tempos, com rusticidade na medida e potencial de guarda. Era o melhor da série, ainda vivo, com taninos presentes e acidez agradável.
- Santa Helena Reservado Cabernet Sauvignon 1995 (Chile) : Bom, não era um grande vinho em 1995, e não o é agora, mas sobreviveu, e estava perfeitamente potável.
- Almadén Cabernet 1996 (Brasil) : Vale o texto acima. Apenas apresentava um pouco mais de corpo.
- Conde de Foucauld Cabernet 1986 (Brasil) : No nariz menos expressão que o Baron de Lantier, mas em boca igualmente agradável, com taninos ainda vivos.
- Marchesi di Pallavicini NV (Itália) : Também dos anos 80, este vinho vêneto apresentava acidez viva e um fim de boca elegante. No contra-rótulo não consta nome do produtor ou safra, apenas que era importado pela Expand...
- Corte in Poggio 2000 Vino da Távola (Itália) : Muito jovem, muito simples, mas agradável.
Fiquei feliz em observar a resistência, em especial dos mais antigos, que sobreviveram a quase 30 anos, armazenados inadequadamente, sendo transportados com alguma frequência, e sem nenhum controle de temperatura.
De minha parte, foi também um momento de introspeção, de agradecer aos incentivos que, ainda que inconscientemente, meu pai me deu, e que me trouxeram a este ponto de minha carreira como Sommelier. Obrigado pai, pela formação, pelos ensinamentos, pela constante presença, e também pela experiência proporcionada, nestas garrafas cheias de vinhos, histórias, memórias e lembranças...

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