quarta-feira, 25 de maio de 2022

Victoria - Escanção

 Já há algumas tantas edições atrás, falamos aqui sobre uma importante região Australiana, de grande qualidade ainda que de pequeno volume, a ilha da Tasmânia. Um ponto que ali destacamos foi justamente e necessidade do Escanção moderno bem conhecer a Austrália e seus vinhos, que ocupam um espaço importante no mercado mundial, presentes nos principais mercados e nas mais importantes cartas de vinhos.

E tal conhecimento envolve a compreensão da variedade e qualidade do vinho australiano, que vai muito, mas muito além do duo Shiraz/Chardonnay encorpados e comerciais. Nunca é demais lembrar que falamos de um país de dimensões continentais, onde caberiam com sobra todos os países produtores da Europa. Logo, não devemos nunca esperar uma produção vitivinícola monocromática e monótona.

Devidos ao clima, no entanto, uma parte importante do território australiano não é adaptado à vitivinicultura, por conta de temperaturas elevadas e regimes de chuvas (em excesso ou em falta) inadequados. Salvo por uma pequena faixa de produção no sudoeste do país, próximo a cidade de Perth, a produção está toda concentrada no sudeste australiano, não grande indicação geográfica South Eastern Australia, que inclui os estados de South Australia, Queensland, New South Wales e Victoria.

Com o tema da diversidade e variedade vitivinícola da Austrália em mente, nosso tema de hoje é justamente o estado de Victoria, por tratar-se daquele que é reconhecido, nas palavras de Jancis Robinson, como o “mais interessante, mais dinâmico e certamente o mais variado dos estados australianos”, ainda que, entre os estados produtores, seja justamente o menor deles.

Pequenino, porém muito animado! O estado de Victoria tem condições de relevo e características geológicas que trazem uma enorme variação de terroir, com uma ampla variedade de vinhos em diferentes estilos e de diferentes uvas ali produzidos. Não à toa, no século XIX era a principal região produtora do país, posição que só foi perdida pela chegada da filoxera. Vale lembrar que naquela que é hoje a principal região produtora australiana, South Australia, a filoxera não chegou ainda, fator esse que deu uma enorme vantagem competitiva a região na virada do século XIX para o XX.

Em Victoria vamos encontrar regiões quentes e áridas no interior, onde a produção só é possível com irrigação, assim como áreas litorâneas permanentemente refrescadas pelas brisas marinhas, onde uvas adaptadas a climas mais frescos, como a Pinot Noir, apresentarão resultados de alta classe. Vamos de vinhedos em áreas planas próximas do nível do mar até encostas entre as mais altas do país, na região que tem os maiores índices de neve e importantes estações de esqui.

É dessa forma que vamos ter, então, uma grande variedade de vinhos aqui produzidos. É certo que teremos muitas e destintas versões da onipresente Syrah/Shiraz, desde os mais encorpados, maduros e comerciais, até versões de clima mais fresco, cheias de caráter e próximas ao estilo do Rhône Norte, mas teremos também especialidades como Rieslings de alto nível em Henty, castas italianas com grande sucesso em diferentes regiões, como King Valley, por exemplo, a Durif, produzindo tintos de mesa e fortificados em Rutherglen e Glenrowan, além da Pinot Noir, de grande sucesso nas áreas frescas nos arredores de Melbourne, Mornington Peninsula e Yarra Valley.

Aliás, estas duas últimas são os principais destaques de Victoria em termos de reconhecimento, em boa parte por estarem muito próximas de umas das maiores e mais cosmopolitas cidades do país, Melbourne. Mornington Peninsula, em particular, ao sul da cidade, tem grande influência marinha, com a baía de Port Phillip ao Norte e o Oceano ao Sul, fazendo dessa uma área que produz brancos e tintos de nervo, com marcado frescor, vinhos de leveza e equilíbrio que impressionam mesmo os mais céticos produtores de Bourgogne, usualmente convidados para a Pinot Noir Celebration, que ocorre aqui periodicamente. Sendo uma região pequena, a beira mar e muito próxima de um grande centro urbano, proliferam aqui vinícolas pequenas e quase artesanais, em propriedades muitas vezes pertencentes a moradores abastados de Melbourne.

Já o Yarra Valley, maior e com mais antiga tradição na produção, tem clima fresco e adequado a produção de brancos e tintos de rara elegância também, porém tem preços de terra mais em conta, além da presença de mais vinícolas de maior dimensão, sendo talvez a de maior destaque a unidade da Chandon Australia, ali produzindo espumantes variados mas também vinhos tranquilos de grande sucesso.

Por fim, uma especialidade da região, especialmente em Rutherglen, são os vinhos fortificados, doce, intensos, de longo envelhecimento. Por muito tempo, usando os nomes de tradicionais denominações europeias, como Port, Sherry e Tokay, hoje já abandonadas, são vinhos de elevada qualidade, feitos com apuro técnico. O mais reconhecido deles é justamente aquele que nunca “emprestou” o nome de outras zonas, o Muscat Rutherglen, vinhos intensos e doces feitos a partir da casta Moscatel de colheita tardia, longamente envelhecidos em estilo não tão distinto dos canteiros da Madeira. Informalmente conhecidos como “stickies”, devido a sua intensa doçura, teriam um estilo algo semelhante ao Moscatel de Setúbal, ainda que com suas particularidades locais.

Esse foi apenas um apanhado geral, do muito que há por aprender e degustar na encantadora Victoria.


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