terça-feira, 9 de agosto de 2022

Ucrânia - Escanção

 Slava Ukraina!

Vinho e guerra são, infelizmente, assuntos que caminham lado a lado ao longo da história. Muitas vezes para o mal, mas não sem deixar efeitos positivos também. Vale lembrar que a difusão de um vitivinicultura mais organizada por toda Europa Ocidental se deu através do Império Romano e de sua necessidade de manter uma produção constante e confiável de vinho para o comércio mas também para a manutenção de suas legiões, nas quais a bebida fazia parte da ração diária dos soldados.

Batalhas foram travadas nos últimos dois milênios em diferentes áreas de produção, sendo talvez os mais recentes exemplos a Alsace, centro de disputas territoriais entre França e Alemanha nas duas Grandes Guerras, e a Champagne, importante campo de batalha durante o conflito de 1914 a 1918. E neste momento, ainda no início do séc. XXI, mais uma vez um conflito armado aflige parte da Europa, com a invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

Esse não é um espaço para a discussão de política ou de suas implicações globais, econômicas e estratégicas, mas antes um espaço para falarmos do vinho e daquilo que o cerca. Neste momento, nossa escolha é falar dos vinhos da Ucrânia, partilhando a informação e permitindo a oportuna reconstrução da vitivinicultura ucraniana, com o evidente suporte daqueles que em última instância farão que os vinhos ali produzidos cheguem às taças, os escanções, de Portugal e tantos outros lugares.

Certamente que nosso primeiro pensamento ao falar em produtores de vinhos finos não é dirigido àquela região, porém a história do vinho na Ucrânia tem raízes antigas, com mais de 2500 anos de história. Em tempos mais recentes, foi no século XIX que importantes iniciativas para a produção de vinhos tiveram lugar, com a aristocracia da Rússia czarista buscando o calor da costa do Mar Negro para suas residências de verão. Já em 1822 foi estabelecida uma colônia de imigrantes suíços em Shabo, próximo a fronteira com Moldova, com o objetivo de aportar conhecimentos de vitivinicultura, mais ou menos ao mesmo tempo em que o Conde Mikhail Vorontsov construía sua vinícola e iniciava um instituto de pesquisa em Magarach, na Criméia (território ucraniano sob ocupação russa desde 2014).

Desde seu princípio, a vitivinicultura moderna na Ucrânia concentra-se nas áreas mais próximas ao Mar Negro, especialmente nas zonas de Odessa, Mykolaiv e Kherson. Proximidade com grandes massas de água é crucial aqui, para a regular as temperaturas e permitir calor o suficiente para a adequada maturação das uvas. O que não impede que haja também produção importante no interior do país, de modo especial em Zakarpattia, a apenas 60km de distância de Tokaj, na Hungria, onde a altitude desempenha o papel de moderador dos extremos climáticos.

Historicamente sempre houve uma atenção importante a produção de espumantes, que atendiam a demanda da corte do Czar e posteriormente da elite soviética, além de vinhos doces fortificados, que fizeram a fama de Massandra, vinícola de Criméia que é a mais renomada da Ucrânia, com garrafas antigas aparecendo com frequência em leilões mundo afora.

No entanto, é justamente nos vinhos secos tranquilos que a Ucrânia vem construindo uma sólida reputação, com uma “migração” para esses estilos fortemente acentuada após a ocupação da Criméia, o que permitiu às vinícolas ucranianas manter a ampliar sua penetração nos mercados local e internacional. Com uma ampla coleção de uvas internacionais, de grande popularidade, como Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Riesling, Aligote, Rkatsiteli e Saperavi, também encontramos nos vinhedos ucranianos uma importante amostra de uvas autóctones e pouco conhecidas fora de suas fronteiras, como a Telti Kuyruk, a mais popular, além de Odessa Black, Sukholimansky, entre outras. Também encontraremos importantes volumes da casta não vinífera Isabel/Isabela, embora essa venha em declínio, sobretudo para a produção de vinhos.

Vinícolas com Shabo, Cotnar, Shustov, Kolonist, Koblevo, entre outras, além de Massandra, na Criméia, seguem em luta para preservar suas estruturas, vinhedos e vinhos, em meio as dificuldade de uma guerra brutal. Como tantos outrso desafios que a Ucrânia enfrentou em sua história, esse também há de ser superado, e as garrafas ucranianas encontrarão seu lugar nas adegas a garrafeiras pelo mundo.

No site ukr.wine você encontrará mais informações sobre a Ucrânia e seus vinhos, além de dados para você colaborar com o esforço de reconstrução ucraniano.


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