quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Degustação - Château Rieussec 1998 e Château d"Yquem 1998

Enfim, os doces! As melhores calorias de qualquer refeição.
Aqui, acompanhando um delicado canapé de foie gras em calda de kinkan e especiarias, e, mais tarde, uma trilogia de brullés, pudemos degustar duas jóias da vitivinicultura bordalesa, mais especificamente da comuna de Sauternes. Embora não hajam registros precisos sobre quando iniciou-se a produção de vinhos doces nesta região, existem indícios que apontam para a comercialização de vinhos doces aqui já no séc. XVII. Sauternes goza de condições muito específicas de relevo e clima, que permitem o surgimento da podridão nobre, a botrytis cinerea, praticamente todos os anos. O relevo e a presença do Ciron, tributário do rio Garonne, garantem as condições muito precisas de umidade e insolação necessárias.
Inicialmente, Rieussec, vizinho de cerca do Château de Yquem.

Esta propriedade pertencia, até a revolução francesa, ao monges Carmelitas de Langon, tendo sido então confiscada e posteriormente vendida a proprietários particulares. Após várias trocas de comando, Rieussec passou, em 1984, ao comando do Baron Eric de Rothschild, proprietário de Lafite. Desde então grandes investimentos tem sido feitos visando a melhora significativa dos vinhos ali produzidos, sempre tendo em mente o grande potencial de seu terroir, muito próximo a Yquem.
As colheitas, desde então, tem sido mais criteriosas, e a vinificação mais bem cuidada, incluindo o uso de barricas novas, e maiores estágios em madeira, sempre visando um vinho de qualidade superior; fato este que se confirma na taça.
A coloração é de um dourado intenso, com bom brilho, e boa consistência. No nariz, um toque cítrico, com casca de limão siciliano, abacaxi em calda, flores brancas, cera e mel de abelhas, além das evidentes notas de botrytis. Em boca, bom frescor, longo, macio e equilibrado, com mel evidente no retro olfato. Excelente vinho.
5D
E por fim, o ícone máximo dos vinhos doces da França, o Château d'Yquem.

Pertencente aos ingleses até 1453, quando passou ao controle francês, Yquem sempre foi reconhecido como a melhor propriedade da região. De 1785 até 1999 foi controlado pela família Lur Saluces, que levou este vinho da condição de grandioso a condição de icônico, que ele ocupa até hoje, Desde 1999 o controle acionário pertence ao grupo LVMH, e desde 2004 cabe a Pierre Lurton a direção da vinícola.
A safra de 1998 apresentou alterações climáticas que levaram a duas colheitas em Yquem, em setembro e outubro, afim de garantir a colheita apenas das melhores uvas. Vale lembrar que esta prática é comum no Château, que já chegou a ter 14 colheitas em um mesmo ano, sempre recolhendo apenas as uvas perfeitamente secas e atingidas completamente pela podridão nobre.
A coloração deste Yquem é de um belo tom dourado, com ótimo brilho, já evocando seu agradável frescor. No nariz, muito complexo, com notas balsâmicas, mel, frutas amarelas em calda, cera, caramelo, tostado, jasmim e flor de laranjeira, além de botrytis. Na boca, denso, cremoso, com bom frescor, quase viscoso, com doçura equilibrada e longo final de boca. Um belo exemplar, que faz jus a fama deste grande vinho.
5D+


Château d'Yquem ao fundo, com uma parte de seu privilegiado terroir
 A impressão geral deste painel foi bem positiva. Conforme eu já havia mencionado no primeiro post desta série, eu já havia degustado a maior parte destes vinhos, porém em ocasiões diferentes, nunca todos em uma só ocasião, como aqui. Minha opinião, em parte, permanece; grandes vinhos são grandes vinhos, de fato, porém com preços que não correspondem perfeitamente a suas qualidades. Afinal, para ficar no caso destes últimos dois, Yquem é um grande vinho sim, superior ao Rieussec sim, mas não 4 vezes melhor, embora seja, nesta safra em especial, 4 vezes mais caro.
Não me ajoelho e faço reverência a estes grandes nomes, mas reconheço que são sim merecedores de sua fama, que foi construída ao longo de séculos, e não em meras três décadas de boas notas recebidas de críticos nacionais! (Sim, isso foi uma crítica aos vinhos californianos endeusados pelo duo Parker/Wine Spectator)
Perceber a constância, a qualidade e a elegância deste belos vinhos só reforçam meu respeito pelos vinhos franceses das denominações mais tradicionais, pois saborear estas especialidades, mais do que saborear bons vinhos, sempre é saborear uma boa dose de história, história muito saborosa, diga-se de passagem!
Bom, espero que tenham gostado deste relato. Dúvidas sobre meu sistema de pontuação? Leia o post "Degustações e Pontuações".
Grande abraço e até a próxima!

3 comentários:

  1. Diego,

    Excelentes posts, principalmente este último.
    Adorei o trecho "Sim, isso foi uma crítica aos vinhos californianos endeusados pelo duo Parker/Wine Spectator", a história de um grande vinho não se escreve através 30 anos!

    Belo painel, parabéns!

    Alexandre

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  2. Valeu Alexandre. Obrigado pela "audiência"...
    Abraço

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  3. Prezado Jerôme, entre em contato com o Olivetto Restaurante, no 19-3294-8133, ok?
    Abraço

    ResponderExcluir

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