quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Chianti Classico - Escanção

 

No Clássico a Inovação

Ainda que a vitivinicultura seja milenar e por tantos e tantos sítios da Europa não faltem registros de vinhas e vinhos produzidos já em tempos imemoriais, o registro e normatização efetivos da produção são fenômenos mais recentes.

Ainda que, falando em Portugal, grandes clássicos como o Madeira ou o Moscatel de Setúbal sejam amplamente mencionados dentro e fora do país já há séculos, vem de algumas décadas apenas o efetivo registro e reconhecimento destes como denominações de origem. Uma honrosa e histórica exceção é o Porto; a mais antiga região demarcada e regulamentada no mundo do vinho, por obra do Marques de Pombal, ainda em 1756.

Mas ainda que tal primazia caiba de forma indiscutível ao Porto, faz-se necessário sublinhar ali acima a palavra “regulamentada”; o grande diferencial da demarcação pombalina não foi a demarcação em si, mas sim e definição clara de regras de produção, estabelecendo não apenas o onde, mas também o quando e o como da produção do vinho.

No entanto, o entendimento que determinadas regiões traziam algo de especial aos seus vinhos não era novidade. Já os Romanos tinham seus crus definidos, valorizando de modo especial vinhos provenientes de certas origens do Império. Pioneiros em tantos aspectos que foi Roma, com a propagação da cultura do vinho por todos os seus domínios, nada mais que justo que o pioneirismo da demarcação de regiões de produção no mundo moderno também coubesse aos italianos.

E foi assim; pioneiros e visionários, quatro décadas antes da iniciativa portuguesa, em 1716 Toscana demarcava a primeira região produtora de vinhos do mundo, nas colinas entre Firenze e Siena, a tradicional região de Chianti, então formada pelas vilas de Radda, Gaiole, Castellina e, um pouco depois, Greve. Nada definia ou limitava em excesso a produção, em semelhança às denominações de origem presentes, de forma que de fato foi o vinho do Porto o pioneiro nesse sentido, mas em uma nação sempre tão plural e apegada aos seus regionalismos, contar com um nível de segurança e garantia para quem buscava os vinhos de Chianti era um sopro de alento.

Mas o sucesso cobra seu preço e a falta de rigor também. Sem as normas estritas aplicadas em Portugal, em tempo a produção do Chianti foi “flexibilizada”, com mais e mais vinhos baseados na Sangiovese recebendo tal denominação, vindos de vinhedos muito mais distantes e compostos por uma combinação de uvas que em certo ponto incluía até 30% de uvas brancas, resultando em vinhos até algo diluídos.

Assim, quando as primeiras demarcações contemporâneas foram feitas, na década de 1930, a zona do Chianti havia crescido muito além de seus limites originais, compondo naquele momento uma área de produção maior do que Bordeaux! Evidentemente não tardaram reações daqueles produtores que tinham seus vinhedos encrustados nas colinas da zona original de produção, desejosos de marcar a diferença em termos de estilo e qualidade de seus vinhos em relação aos produzidos no restante da grande zona de Chianti. Foi assim que, em tempo, surgiu a zona do Chianti Clássico, primeiramente como uma subzona de Chianti e um pouco mais adiante como um DOCG de per si, autônoma em suas regras e gestão.

Hoje Chianti Clássico está construída sobre uma fundação de respeito às tradições, mas atenta às inovações e evoluções do mundo do vinho. Com o status internacional atingido por seus vinhos, não faltam aqui estrangeiros que unem sua paixão pelo vinho ao estilo de vida Toscano, com as lindas e tradicionais vilas que dominam a paisagem colinear entre vinhedos e olivais. As uvas brancas não são permitidas no Chianti Clássico e a Sangiovese deve compor um mínimo de 80% dos cortes, podendo mesmo ser vinificada e engarrafa em pureza; clones que produzem vinhos mais robustos e longevos são valorizados, de modo que a categoria Riserva, com um envelhecimento mínimo de 24 meses em recipientes de madeira, representa 25% da produção, com um estilo muito valorizado pelo consumidor.

No campo das inovações, nunca é demais lembrar que a revolução dos Supertoscanos começou aqui, ao mesmo tempo que no Bolgheri, com o lançamento do clássico Tignanello em 1971. E mais recentemente com a criação de uma nova categoria acima dos Riserva, o Chianti Clássico Gran Selezione, que demanda 30 meses de maturação e vinhos de maior estrutura e caráter.

A região do Chianti Clássico é um mergulho na história rica da Toscana e de toda a Itália, com um firme e decidido olhar rumo a um futuro brilhante.

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