terça-feira, 16 de agosto de 2011

Minho – Quinta da Aveleda





No Minho visitamos “apenas” a Quinta da Aveleda, só o maior produtor da região, e um dos maiores exportadores do ramo. Para quem não sabe, a Aveleda é responsável pelo vinho branco mais vendido do Brasil, o onipresente Casal Garcia.
Aliás, já me adiantando um pouco, Casal Garcia é um capítulo a parte, constituindo-se em um estudo de caso em termos de criação e posicionamento de marca. A marca foi criada em 1938, com o auxílio do enólogo francês Eugène Hélisse, e seu rótulo, que imita a trama de um bordado, é presença portuguesa facilmente reconhecida mundo a fora. Trata-se de um Vinho Verde leve e fresco, não safrado, ligeiramente adocicado e gaseificado, porém correto e agradável. Para entender um pouco melhor o volume que este produto representa, a Aveleda dispõe em suas instalações de quatro linhas de engarrafamento, e destas, uma esta dedicada em tempo integral ao engarrafamento de Casal Garcia. O vinho é feito durante todo o ano, com mostos que são conservados em baixa temperatura, e fermentados apenas próximo ao momento de lançar o produto ao mercado, a fim de manter seu típico frescor.

Um pouco da história do Casal Garcia

Mas, de volta a nossa linha de raciocínio inicial, Quinta da Aveleda... A empresa, como é hoje, surgiu em meados do século XIX, quando o proprietário das vinhas, Manuel Pedro Guedes da Silva da Fonseca, decidiu ali se instalar em definitivo, e iniciou um processo de modernização das instalações, porém, existem registros da propriedade que remontam ao século XVI. O nome Aveleda não vem da família proprietária, mas sim das Velledas, profetisas germânicas da idade média, que eram sacrificadas em honra dos deuses pagãos; supõe-se que uma destas mulheres tenha feito daquela região sua morada, dando então nome ao lugar.
A Aveleda permanece até hoje uma empresa familiar, ainda em mãos da família Guedes, e como no passado contam com a consultoria de um enólogo francês, Denis Dubourdieu, mas ao contrário de tantas outras empresas familiares, nunca abriu mão do pioneirismo e da vanguarda, sempre atenta às exigências do mercado, entretanto, não perde as características da família, como por exemplo nos jardins paradisíacos da vinícola, que não estão abertos a turistas, e que são cuidados com o mesmo afinco das vinhas. Aliás, a arte e a estética são uma preocupação que pode ser observada em todas as instalações da Aveleda, sempre ricas em pequenos detalhes, ou grandes esculturas e estruturas. Os jardins são cultivados com centenas de espécies botânicas, e abrigam uma fauna variada; contam com um belo paisagismo, e com a presença de várias estruturas/esculturas que reforçam a beleza bucólica do lugar; são as folies da Aveleda, estruturas arquitetônicas sem um fim específico, além do prazer hedonístico de admirá-las. Aliás, estas folies foram a inspiração para toda uma linha de vinhos, que embora multiregionais, recebem mais destaque pelas suas uvas do que pelo seu terroir, dentro do principio de valorizar o prazer, e não as elucidações e informações do produto.





Algumas imagens dos belos jardins da Aveleda

A Aveleda produz hoje, além do Casal Garcia, as linhas AVA, Fonte, Quinta da Aveleda, Charamba e Follies, com vinhedos no Minho, Douro e Bairrada. Produz ainda o Brandy Adega Velha, com vinhos base do Minho, que leva o nome da adega onde as barricas do destilado repousam antes do lançamento ao mercado. Após visita às instalações e aos jardins da Aveleda, degustamos vinhos de suas diversas linhas, conforme segue:

1 – Casal Garcia Branco NV (2010)
O vinho, a lenda. Corte de Trajadura, Loureiro, Arinto e Azal, frutado e floral intenso, frutas doces, off-dry, com ótimo frescor, discreta sapidez e leve agulha. Ligeira a média persistência, com sabor de beira de piscina.
3D

2 – Quinta da Aveleda Branco 2010
Corte mais nobre, com Alvarinho, Loureiro e Trajadura, resultando em um vinho aromático, com discreta mineralidade, leve agulha, muito frescor, e algo de frutas tropicais, com média persistência.
3D

3 – Follies Alvarinho 2010
A Alvarinho em pureza, com um mineral mais bem marcado, e fruta mais elegante, além de um discreto herbáceo e algo de ervas aromáticas. Bom frescor, alguma untuosidade e boa persistência.
3D+

4 – Casal Garcia Rosé NV (2010)
Obtido com as castas Vinhão, Azal Tinto e Borraçal, lembra morangos frescos, além de um leve floral, e algo de romã. Na boca, leve, fresco, com ligeira agulha, e ligeiro. Aperitivo descompromissado.
3D

5 – Charamba 2007
Produzido no Douro, com Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Roriz. Além desta degustação, já degustei às cegas, e ele se sai sempre melhor do que seu preço nos leva a imaginar. Fruta madura, leve floral e algo de especiarias. Médio corpo, com bom frescor, taninos finos e média persistência. Meio de boca com muita fruta.
3D+

6 – Casal Garcia Tinto NV (2010)
Novidade da Aveleda. Substituindo o tradicional Casal Garcia Vinho Verde Tinto, este é um vinho de mesa, produzido com Touriga Nacional e Tinta Roriz, e que visa atingir um mercado bem mais amplo. Afinal, encarar Vinho Verde Tinto, como eu disse antes, é tarefa para poucos. O vinho é intensamente frutado, com floral bem marcado e algo de madeira. Macio, com acidez de média para cima, e poucos e finos taninos. Bem correto e agradável.

3D

7 – Follies Touriga Nacional 2007
Um Touriga bairradino, com nariz elegante e intenso a frutas negras, tostado evidente e discreto floral. Bom frescor, intenso em boca, tânico, porém macio, com média/longa persistência.
4D

8 – Aguardente Adega Velha
Obtido a partir de vinhos base das castas Vinhão, Azal Tinto, Borraçal e Espadeiro, destilados em alambiques Charentais, provenientes de Cognac, França, e repousado em pipas velhas de carvalho Limousin. Coloração âmbar e brilhante, complexo e intenso, com frutas secas, bagas, flores e algo de oxidativo. Boca suave e aveludada, equilibrado e longo.
4D


As Adegas Velhas (a instalação e o produto), e a garrafa nº 1 do nobre destilado.

A impressão geral foi bem positiva, com vinhos sempre corretos e bem feitos, dentro daquilo a que se propõem. É sempre bom visitar empresas como a Aveleda, grandes, mas sem descuidar da qualidade, preocupação primordial de todo produtor sério.
Dúvidas sobre o meu sistema de pontuação? Leia o post “Degustações e Pontuações”.
No próximo post, Douro e Porto. Espero que tenham gostado, e até lá.
Grande Abraço

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não se esqueça de deixar o seu contato para eventuais respostas, ok?

Postagem em destaque

Enoturismo em Mendoza

Como parte de nossa nova parceria com a LATAM Travel Shopping Frei Caneca , teremos no mês de Novembro/2016 um imperdível tour por alguma...