terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Alemanha - Revista Escanção


A Alemanha e Seus Vinhos

Já de muito tempo, os vinhos alemães são admirados e respeitados entre os melhores do mundo. Nos séculos XVII e XIX grandes vinhos do Rheingau alcançavam mesmo preços superiores aos dos mais famosos chateaux de Bordéus.

Falamos aqui de um dos principais países produtores da Europa, com uma tradição profundamente arraigada na produção de bons vinhos, desde de tempos Romanos. Mesmo com seu clima limítrofe, tendo a maior parte de suas zonas de produção localizadas entre as mais frescas do continente, a Alemanha sempre teve sucesso na produção de volumes expressivos de bons vinhos. O segredo, ao fim das contas, está na justa seleção das castas mais adequadas, cultivadas apenas nas melhores parcelas, com a melhor exposição e máxima insolação.

Grande parte das plantações alemãs estão em encostas, usualmente próximas às margens de rios, sendo os principais o Reno e o Mosel, mas com os rios Mainz, Neckar, Nahe e Ahr também desempenhando importante papel. As zonas próximas aos rios são usualmente mais íngremes, muitas vezes necessitando da construção de patamares e socalcos, semelhantes aos do Douro, mas essas massas d’água desempenham também agem mitigando as temperaturas mais extremas dos invernos e, em locais privilegiados, refletindo a luz do sol, favorecendo assim os processos fisiológicos das videiras.

Tais vinhedos são, obviamente, de mais complexo cultivo, o que aumenta o custo da produção e demanda, necessariamente, o foco em vinhos de qualidade superior, que permitam um equilíbrio de custos. Ainda assim, nos anos 1970 e 1980, com a consolidação do Flürbereinigung, reorganização e reestruturação dos vinhedos nacionais promovida pelo estado, houve um aumento na produção de vinhos de baixo custo que, de certa forma, prejudicaram a imagem internacional do vinho alemão.

A casta de maior importância em vinhedos alemães é a Riesling, vista como a rainha das castas brancas por tantos escanções pelo mundo. Porém, sendo uma casta exigente e de difícil cultivo, coube a Müller-Thurgau o papel de protagonista nesta época, em brancos indistintos e neutros, entre os quais os designados Liebfraumilch ganharam maior notoriedade; Brancos simples, adoçados com suco de uva clarificado, que inundaram prateleiras de mercados e adegas pelo mundo.

Já de mais de 20 anos vem a, por assim dizer, redescoberta da Alemanha com fonte de alguns dos mais complexos e apaixonantes vinhos. Mas a compreensão de tais vinhos não vem de forma simples e descompromissada, pois não são poucas as particularidades da legislação local, reforçadas pelas naturais dificuldades que nós, falantes da língua de Camões, encontramos com o idioma germânico.

A Alemanha conta hoje com 13 regiões demarcadas, algo como suas DOCs, chamadas abaugebiete (literalmente, áreas de cultivo). A legislação segue, grosso modo, o modela francês, hoje adotado em toda a União Europeia, com a base de sua pirâmide qualitativa formada pelos vinhos de mesa (Deutscher Wein), seguidos dos vinhos regionais (Landwein), vindo então os vinhos DOC, aqui divididos em duas categorias, tal qual na Itália. O primeiro nível são os Qualitätswein, vinhos de qualidade, que necessariamente devem ter origem em uma das áreas de produção designadas, com sua procedência informada no rótulo; logo acima vem os Prädikatswein, vinhos com predicados, predicados estes que dizem respeito ao nível de maturação das uvas utilizadas.

Embora não sejam poucas as críticas a esse sistema e aos problemas por ele criados, valorizando a maturação das uvas, sem especial atenção com a qualidade intrínseca da casta selecionada, é bem compreensível que um país tão frio de atenção ao grau de maturação e teor de açúcar de seus mostos. É também inegável que esse particular sistema tem lá seu charme, como um diferencial alemão em meio ao quase que uniforme sistema de denominações de origem adotado pelo continente.

Importante destaque aqui é que essa não é uma escala de doçura dos vinhos, mas sim dos mostos, medido em graus Öeschle, ainda que, usualmente, haja uma progressão dos níveis de açúcar residual. Dos menos aos mais doces, os tais predicados são:

Kabinett

Spätlese

Auslese

Beerenauslese

Eiswein (com exatamente os mesmos níveis do Beerenauslese)

Trockenbeerenauslese

Não são poucos os motivos para buscar conhecer melhor os vinhos alemães e, definitivamente, não são estas parcas linhas que oferecerão conhecimento sólido e completo sobre o tema. Mas, é nosso sincero desejo que possam nossas palavras despertar o mínimo interesse pelo tema, para que mais e mais escanções possam aprofundar seus conhecimentos e melhor conhecer os clássicos e modernos vinhos alemães.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não se esqueça de deixar o seu contato para eventuais respostas, ok?

Postagem em destaque

Enoturismo em Mendoza

Como parte de nossa nova parceria com a LATAM Travel Shopping Frei Caneca , teremos no mês de Novembro/2016 um imperdível tour por alguma...