terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Franciacorta - Revista Escanção


A primazia dos vinhos da Champagne, como a grande referência em espumantes de qualidade no mundo, é inquestionável! Não faltam, porém, produtos de elevada qualidade no mercado mundial, em função de desenvolvimento de novas regiões produtoras, como o sul da Grã-Bretanha, ou por conta dos novos conhecimentos e técnicas adquiridos por produtores do Novo Mundo. Há, no entanto, algumas poucas regiões com clima e solo adequados, e que já tem uma longa história na produção de espumantes de alto nível, que podem mesmo rivalizar, em qualidade, com os bons produtos franceses; Távora Varosa é um exemplo, em Portugal.

No caso da Itália, ao lado da zona de Trento, a Franciacorta ocupa tal posição, e é sobre os vinhos desta zona que falaremos. Reconhecida pela legislação italiana como uma DOCG, hoje, exclusivamente para espumantes, a Franciacorta produz vinhos com o mesmo método clássico da Champagne, e utilizando, principalmente, as castas Chardonnay e Pinot Noir, complementadas pela Pinot Bianco e, recentemente, por até 10% da casta local Erbamat.

Até aqui, nada muito diferente, mas o que coloca a Franciacorta no mesmo patamar de outras regiões clássicas já citadas é, em boa parte, o respeito ao terroir; trata-se de uma zona com características de solo e clima muito bem definidas e que, por conta disso, não tem alternativas que permitam sua expansão descontrolada. Hoje, a Franciacorta produz cerca de 17 milhões de garrafas ao ano, e as estimativas apontem que esse volume não pode ultrapassar os 21,5 milhões.

Com um clima subtropical alpino, que na Itália só é encontrado ali e no sul do lago de Garda, a região é limitada pelo anfiteatro de montanhas que circundam o lago Iseo, ao norte, pelas colinas de Monticelli Brusati, Ome e Gussago, ao oeste, pelo Monte Alto, no leste e, grosso modo, pela formação conhecida como Monte Orfano (monte órfão), ao sul, e essa limitação explicasse pela formação dos solos de origem morâinica da região.

Durante o fim da última era glacial, a dissolução dos glaciares que chegavam ao norte da Itália levou a formação dos lagos ali presentes (Iseo, Como, Garda, etc.), mas também ao deslocamento dos solos, que viriam a assentar-se nas planícies da Pianura Padana, ampla área plana na bacia do rio Pó. Porém, na Franciacorta, a presença do Monte Orfano, ao sul, de certa forma bloqueou o deslocamento desse solo, fazendo com que essa pequena área mantivesse características de solo diferenciadas, com textura arenosa e grande presença de pedras, além de matéria vulcânica e calcário, oferecendo condições ideais a produção das castas ali plantadas, com adequados níveis de acidez para a produção de espumantes de alta qualidade.

Outra semelhança com a região de Champagne é a grande fragmentação das propriedades, com volumes expressivos de compra de uvas pelos principais produtores da região. Grandes vinícolas, como Bellavista e Cá del Bosco, nascidas ali, além de gigantes de fora da zona que ali se instalaram, como a Antinori (Tenuta Montenisa), convivem com produtores menores, como Barone Pizzini e Le Cantorìe, na produção de espumantes que devem passar, no mínimo, 18 meses com as leveduras (até 60, no caso dos Riserva), exigência que colabora para a complexidade aromática, textura cremosa e fina mousse de seus vinhos. Como um adendo, bons vinhos tranquilos também são produzidos, hoje em dia com a DOC Curtefranca.

Trata-se, indubitavelmente, de uma zona a ser cuidadosamente explorada pelo escanção que busca alta qualidade, e variedade de origens, na composição de sua adega!

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