No próximo mês de maio, durante
uma semana, Viena, na Áustria, será a capital da sommellerie europeia, com os
mais destacados profissionais do continente, e ainda da África do Sul, Marrocos
e Ilhas Maurício, competindo pelo título de Melhor Sommelier da Europa, naquela
que é a única capital europeia produtora de vinhos, com vinhedos dentro de sua
zona urbana. Como toda competição, esta terá apenas um vencedor, mas será uma
oportunidade única de aprendizado para seus participantes, que, ao final,
sairão de lá todos premiados, com a aquisição de novos conhecimentos. Neste
contexto, é salutar que também nossa atenção se dirija àquela nação, e que
também nós que não estaremos em Viena aprofundemos nossos conhecimentos sobre
os excelentes vinhos austríacos.
Com uma história milenar na
vitivinicultura, a Áustria produz de forma organizada já desde os tempos
Romanos, e chegou a ser o terceiro maior produtor mundial no pós-guerra. Em
1985, alguns produtores inescrupulosos foram descobertos adicionado
anticongelante (diethyleno glicol) aos vinhos, para que os mesmos tivessem uma
sensação de mais corpo e doçura; esse fato trouxe grande prejuízo a imagem dos
vinhos da Áustria, mas a resposta do país foi exemplar, com a criação do mais
rigoroso e estrito conjunto de regras vitivinícolas do continente.
Com seu clima continental fresco,
e seu relevo variado, a Áustria oferece as condições ideias à produção de uma
ampla gama de produto vínicos, e sua produção concentra-se no leste do país,
nas zonas de Niederösterreich, Burgenland, Wien e Steiermark, sendo a primeira
o centro da produção nacional. Contam ainda com o centro de pesquise de
Klosterneuburg, criado em 1860, e responsável por grande parte do desenvolvimento
enológico local, bem como pela criação de algumas de suas principais castas.
Cerca de 65% da produção é de
brancos, e a principal casta é a local Grüner Veltliner, que produz brancos
secos e frescos, com aromas à frutos e floras brancas, cítricos, e, nas
melhores zonas, um marcado caráter especiado, com notas de pimenta branca
evidentes. Os tintos também têm demonstrado destacada qualidade, sendo aqui e
principal casta a local Zweigelt, que entrega vinhos com ótima tensão ácida,
médio corpo para mais, taninos macios e, nos melhores exemplares, bom potencial
de guarda. Entre as castas, o fato curioso fica por conta de terceira variedade
tinta mais plantada no país, a Blauer Portuguieser (Portuguesa Azul), cuja
origem foi considerada portuguesa durante muito tempo, por conta de uma estória
local que dizia que se tratava da casta alentejana Moreto, trazida de lá nos
idos do séc. XVIII; no entanto, pesquisas genéticas amis recentes dão conta de
que se trata de uma casta autóctone austríaca, não ficando clara a origem da
lenda de sua origem em Portugal.
Em linhas gerais, a legislação
austríaca assemelha-se a alemã, apenas com exigências um pouco maiores no que se
refere ao peso do mosto para o enquadramento nos diversos graus de doçura.
Aliás, doçura aqui é um capítulo à parte! Com a produção de vinhos doces concentrada
em Burgenland, em especial as margens do lago Neusierdlersee, na fronteira com
Hungria. Aqui produz-se Trockenbeerenauslese desde, ao menos, 1526! Encontramos
ainda especialidades locais, como o strohwein, produzido com uvas secas em
esteiras de palha, e o Ruster Ausbruch, especialidade doce produzida na vila de
Rust, próxima ao lago supracitado.
São, deverás, os mais variados os
bons motivos para descobrir-se mais a fundo o vinho austríaco, e é de bom
augúrio para a escancionaria europeia como um todo, e em particular a
portuguesa, que a realização do vindouro concurso europeu crie essa janela de
oportunidade para nossa natural curiosidade!
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