terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Áustria - Revista Escanção


No próximo mês de maio, durante uma semana, Viena, na Áustria, será a capital da sommellerie europeia, com os mais destacados profissionais do continente, e ainda da África do Sul, Marrocos e Ilhas Maurício, competindo pelo título de Melhor Sommelier da Europa, naquela que é a única capital europeia produtora de vinhos, com vinhedos dentro de sua zona urbana. Como toda competição, esta terá apenas um vencedor, mas será uma oportunidade única de aprendizado para seus participantes, que, ao final, sairão de lá todos premiados, com a aquisição de novos conhecimentos. Neste contexto, é salutar que também nossa atenção se dirija àquela nação, e que também nós que não estaremos em Viena aprofundemos nossos conhecimentos sobre os excelentes vinhos austríacos.

Com uma história milenar na vitivinicultura, a Áustria produz de forma organizada já desde os tempos Romanos, e chegou a ser o terceiro maior produtor mundial no pós-guerra. Em 1985, alguns produtores inescrupulosos foram descobertos adicionado anticongelante (diethyleno glicol) aos vinhos, para que os mesmos tivessem uma sensação de mais corpo e doçura; esse fato trouxe grande prejuízo a imagem dos vinhos da Áustria, mas a resposta do país foi exemplar, com a criação do mais rigoroso e estrito conjunto de regras vitivinícolas do continente.

Com seu clima continental fresco, e seu relevo variado, a Áustria oferece as condições ideias à produção de uma ampla gama de produto vínicos, e sua produção concentra-se no leste do país, nas zonas de Niederösterreich, Burgenland, Wien e Steiermark, sendo a primeira o centro da produção nacional. Contam ainda com o centro de pesquise de Klosterneuburg, criado em 1860, e responsável por grande parte do desenvolvimento enológico local, bem como pela criação de algumas de suas principais castas.

Cerca de 65% da produção é de brancos, e a principal casta é a local Grüner Veltliner, que produz brancos secos e frescos, com aromas à frutos e floras brancas, cítricos, e, nas melhores zonas, um marcado caráter especiado, com notas de pimenta branca evidentes. Os tintos também têm demonstrado destacada qualidade, sendo aqui e principal casta a local Zweigelt, que entrega vinhos com ótima tensão ácida, médio corpo para mais, taninos macios e, nos melhores exemplares, bom potencial de guarda. Entre as castas, o fato curioso fica por conta de terceira variedade tinta mais plantada no país, a Blauer Portuguieser (Portuguesa Azul), cuja origem foi considerada portuguesa durante muito tempo, por conta de uma estória local que dizia que se tratava da casta alentejana Moreto, trazida de lá nos idos do séc. XVIII; no entanto, pesquisas genéticas amis recentes dão conta de que se trata de uma casta autóctone austríaca, não ficando clara a origem da lenda de sua origem em Portugal.

Em linhas gerais, a legislação austríaca assemelha-se a alemã, apenas com exigências um pouco maiores no que se refere ao peso do mosto para o enquadramento nos diversos graus de doçura. Aliás, doçura aqui é um capítulo à parte! Com a produção de vinhos doces concentrada em Burgenland, em especial as margens do lago Neusierdlersee, na fronteira com Hungria. Aqui produz-se Trockenbeerenauslese desde, ao menos, 1526! Encontramos ainda especialidades locais, como o strohwein, produzido com uvas secas em esteiras de palha, e o Ruster Ausbruch, especialidade doce produzida na vila de Rust, próxima ao lago supracitado.

São, deverás, os mais variados os bons motivos para descobrir-se mais a fundo o vinho austríaco, e é de bom augúrio para a escancionaria europeia como um todo, e em particular a portuguesa, que a realização do vindouro concurso europeu crie essa janela de oportunidade para nossa natural curiosidade!

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