terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Argentina - Revista Escanção


O mais importante produtor da América Latina, além de um dos mais dinâmicos países produtores nas últimas décadas, a Argentina nem sempre recebe a devida atenção na análise e compreensão de seus vinhos. Uma indústria por muito tempo focada no volume, além de exportações com grande foco em poucas uvas (especialmente a Malbec) e limitada divulgação do variado terroir local são pontos que precisam sem vencidos na melhor divulgação e entendimento dos vinhos argentinos.

Afinal, falamos de um país de grandes dimensões territoriais, o 8º maior do mundo, assim como um dos maiores produtores globais, com um total de mais de 200.000ha de vinhedos e uma cultura vitivinícola profundamente arraigada, ainda que o consumo per capita tenha caído de quase 100 litros para cerca de 26 litros, ao longo dos últimos 50 anos.

Como é o caso com tantas nações que foram colônias espanholas, a história da viticultura argentina começa no séc. XVI, com o trabalho de missionários e colonos; estes plantavam para seu consumo, enquanto aqueles levavam a viticultura à novas terras, sempre levando consigo videiras para a implantação de novos vinhedos, com o objetivo de produzir vinho para a Eucaristia.

Ainda que vinhedos tenham sido cultivados nestes primeiros anos próximos à costa Atlântica, às margens do rio De La Plata, desde muito cedo os melhores resultados foram os obtidos nos vinhedos aos pés dos Andes, estes iniciados por expedições vindas do Chile e do Peru e é aqui que a indústria do país se estabeleceu.

A viticultura do país está dividida em 4 macrorregiões, que encontramos no mapa, à saber:

                - Norte: com as províncias de Jujuy, Salta, Catamarca e Tucumán

                - Cuyo: com as províncias de La Rioja, San Juan e Mendoza

                - Patagônia: com as províncias de La Pampa, Neuquén, Rio Negro e Chubut

                - Atlântica: com a província de Buenos Aires

As três primeiras, que compreendes justamente os vinhedos mais próximos aos Andes e distantes do oceano, respondem por 99% da produção. O grande esforço argentino vem concentrado na busca incessante por melhor entender e compreender os distintos terroirs do país, com a demarcação cada vez mais precisa de regiões e sub-regiões, levando em conta aspectos orográficos, muito mais do que fronteiras políticas. A expansão dos vinhedos, buscando as altitudes do Norte, as baixas temperaturas do Sul e as brisas marítimas do Leste mudaram o mapa do vinho argentino, ainda que 95% da produção permaneça na região de Cuyo.

Particularmente a província de Mendoza, com seus mais de 150.000ha de vinhedos, 75% do total nacional, ainda que conte com diversas razões históricas que justificam seu papel como coração da vitivinicultura do país, tem inegável vocação à produção de vinhos de alta qualidade, com clima e solo privilegiados, além do trabalho desempenhado por toda uma nova geração de enólogos e produtores, experimentando novas técnicas, novas castas, novas áreas de produção e muito mais.

Mendoza é dividida em cinco grandes sub-regiões, com suas características particulares: Valle de Uco, integrado pelos departamentos de Tunuyán, Tupungato e San Carlos; a Primera Zona, que compreende os departamentos de Luján de Cuyo e Maipú; e os oásis Norte (Lavalle e Las Heras), Leste (San Martín, Rivadavia, Junín, Santa Rosa e La Paz) e Sul (San Rafael, Malargüe e General Alvear).

Oásis Norte e Leste: Baixas altitudes, áreas de clima mais quente e foco em vinhos de entrada, de custo mais baixo, ainda que exemplares de grande qualidade sejam produzidos também, sobretudo com as castas Tempranillo e Bonarda

Primera Zona: Mais tradicional zona de alta qualidade de Mendoza, onde brilha a onipresente Malbec, logo ao sul da cidade, formada pelos departamentos de;

-          Luján de Cuyo: No alto vale de Mendoza, com altitudes de 800 a 1.100 metros e chuvas na casa de 190mm/ano Aqui foi estabelecida e primeira DOC da Argentina, em 1993 e é onde a maioria das mais tradicionais e renomadas bodegas estão sediadas, ainda que a maioria absoluta destas tenham também vinhedos em outras partes de Mendoza. Os principais distritos aqui são Las Compuertas, Vistalba (os dois de maior altitude), Agrelo, Perdriel, Ugarteche, Chacras de Coria e Mayor Drummond.

-          Maipú: Logo ao leste de Luján e também ao sul da cidade, é ligeiramente mais quente, devido a menor altitude. Contém os distritos de Cruz de Piedra, Barrancas, Russell, Coquimbito, Lunlunta, Fray Luis Beltrán e Maipú (assim como em Luján, temos um departamento e um distrito com o mesmo nome).

Oásis Sul: com os departamentos de San Rafael, Malargüe e General Alvear, é a zona mais ao Sul de Mendoza, onde as baixas altitudes são compensadas pela maior latitude, temperando o clima desta área focada em castas clássicas. Esta zona não goza de tão alta fama talvez devido a alta incidência de granizo ou a sua maior distância da cidade, mas produz vinhos de elevada qualidade.

Valle de Uco: A estrela em ascensão da Argentina, a região do país mais em voga no momento, composta pelos departamentos de Tupungato (com os distritos El Peral, Anchoris, La Arboleda, Tupungato e Gualtallary), Tunuyán (Vista Flores, Los Árboles, Los Sauces, Los Chacayes) e San Carlos (Altamira, La Consulta, Eugenio Bustos, El Cepillo), com altitudes de 1.000 a 1.600 metros. Seu clima mais frio, os solos muito pobres e de excelente drenagem, além das brisas que sopram constantemente são responsáveis pela alta sanidade das videiras, que entregam baixos rendimentos e vinhos encorpados, de alta acidez. Malbec, Chardonnay e Cabernet Franc são castas que tem se destacado.

Os modernos vinhos argentinos podem, e devem, fazer parte do repertório do bom escanção!


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