terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Chile - Revista Escanção


Chile, Estreito e Amplo

Inicialmente, pedimos licença aos leitores para retomar, parcialmente, um tema do qual já tratamos não há muito tempo, o Chile.

Porém, queremos hoje abordar novos pontos, justo aqueles de maior relevância na atual conjuntura da produção de vinhos naquele país. Vamos analisar um pouco a divisão regional do Chile e como esta tem recentemente evoluído para dar cada vez mais atenção ao terroir e os diversos aspectos que compõem este conceito.

Sendo o Chile um país estreito, com menos de 200km de Leste a Oeste em qualquer ponto, a partir da abertura do mercado às exportações, principalmente nos anos 90, as primeiras iniciativas na demarcação de regiões produtoras deram-se de Norte a Sul. Os, então, pouco mais de 1.000km de zona de produção, denominados Valle Central, foram subdivididos em grandes vales, que consideravam, em geral, os grandes rios de degelo, formados pelas águas que desciam da Cordilheira dos Andes rumo ao Pacífico. Daí vem os grandes vales, nomes que por muito tempos nos habituamos a encontras nas etiquetas chilenas, Maipo, Rapel (este subdividido em Cachapoal e Colchagua), Curicó e Maule.

Mas ainda neste período, começa a despontar uma nova percepção. Com um foco maior em qualidade, em detrimento do volume e do baixo custo, as plantações começam a afastar-se da planície central, de solo fértil aluvial, e começam a buscar as encostas dos Andes por um lado e a proximidade com o oceano pelo outro. É já neste momento que desponta a primeira região produtora em clima mais fresco, o Valle de Casablanca, aberto às influências costeiras, que passam então a ser levadas mais em conta pelos produtores locais.

Percebe-se, de forma particularmente intensa na década que se segue, que nas poucas dezenas de quilômetros entre o oceano e as montanhas encontram-se muitas e importantes variações em solo e microclimas, muito mais intensas e marcadas do que aquelas que se verificam em milhares de quilômetros de Norte a Sul, sendo as principais diferenças em relação as distintas influências climáticas e ao solo.

No aspecto geológico, o Chile é caracterizado, de Leste para Oeste, pelo relevo que vemos representado na figura 1. Próximo ao mar, após as planícies costeiras, temos uma cadeia montanhosa, de poucas centenas de metros, que é a Cordilheira da Costa, composta fundamentalmente por granitos, tendo-se formado entre 150 e 200 milhões de anos atrás. Estes solos são propícios a castas como a Sauvignon Blanc, a Chardonnay, a Pinot Noir e a Syrah. As montanhas protegem o interior dos frios ventos do Pacífico, de águas geladas pela corrente antártica de Humboldt, que banha todo o litoral, mas essa proteção não é absoluta, de forma que vinhedos em suas encostas recebem ainda algo destes ventos frescos.

À Leste, na fronteira com a Argentina, está a imponente Cordilheira dos Andes, com seus quase 7.000m de altitude no ponto mais alto e a eterna presença de neve em seus picos, dos quais vem as frescas brisas noturnas que refrescam os vinhedos mais abaixo. Aqui temos uma formação geológica mais jovem, de cerca de 80 milhões de anos, de origem vulcânica, composta fundamentalmente de basalto.

Ao centro, na planície central, temos solos de origem aluvial e coluvial, com distintos níveis de fertilidade, que permitem desde a produção de grandes volumes de vinhos simples e correto até a produção de alguns dos mais destacados vinhos do país.

Todas essas sutis diferenças, de solos, climas, altitude, humidade, influência dos ventos, do mar, insolação etc. levaram não a uma mudança, mas a uma evolução da demarcação normalmente utilizada. Além dos vales já demarcados, e das subzonas dentro deles, estas foram agrupadas em novas classificações, que levam em conta essas variações de Leste a Oeste. Os vinhedos mais próximos ao Pacífico, influenciados pelos frios ventos marinhos, podem acrescentar à sua identificação regional mais específica a indicação “Costa”; àqueles próximas da Cordilheira, adiciona-se a indicação “Andes” enquanto os vinhedos na área intermediária são designados “Entre Cordilleras”.

É fundamental destacar que tais diferenças são marcadas, não apenas comerciais. Em recente visita ao país pudemos fazer uma exploração detalhada que incluiu centenas de quilômetros rodados, mais de uma centena de vinhos degustados e horas e horas de explanações de enólogos e agrônomos, que nos apresentaram nos menores detalhes essa nova classificação.

O mapa mostra as áreas de cada designação, dentro de cada um dos vales tradicionalmente demarcados de Norte a Sul. O objetivo desta divisão é cada vez mais destacar as diferenças entre cada área, permitindo ao consumidor, no médio prazo, uma identificação clara de estilos a partir das áreas de origem dos vinhos. Como os tradicionais países produtores do Velho Mundo, o Chile tem também uma rica diversidade de terroirs. Cabe aos escanção moderno sua melhor compreensão bem como a busca pelo maior conhecimento para melhor comunicar ao cliente estas diferenças. Aliás, todo o detalhamento das subzonas de produção chilenas pode ser encontrado no sítio da Wines of Chile na internet.

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