terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Brasil Vitivinicola - Revista Escanção


Consumo e produção de vinhos finos não são as primeiras imagens que vem à cabeça de um europeu quando o assunto é Brasil. No entanto, temos aqui uma história vitivinícola que remonta ao início do séc. XVI, logo após a chegada dos portugueses, e uma produção em franco crescimento qualitativo.

Apesar de nossos primeiros vinhedos terem sido plantados pelos portugueses, ainda em 1534, no litoral de São Paulo, foi apenas com o fluxo migratório de italianos, na segunda metade do séc. XIX, que a produção de vinhos cresceu significativamente aqui. Lamentavelmente, naquele momento, a opção acabou recaindo sobre as uvas de mesa, de mais fácil cultivo e maior produtividade, porém geradoras de vinhos de qualidade “duvidosa”, para dizer o mínimo. A partir da chegada de importantes multinacionais, na década de 1970 (Moët & Chandon e Almadén), teve início um ciclo virtuoso de valorização cada vez maior do uso de castas viníferas, que segue até os dias de hoje. Em tempos mais recentes, um novo, e salutar, ciclo, tem buscado novas regiões, onde os vinhos de qualidade possam ser produzidos. Historicamente, a produção brasileira concentra-se no estado do Rio Grande do Sul, mas vale lembrar que somos uma país de dimensões continentais, com um território maior do que toda a Europa, logo, é natural que haja (muitas) fronteiras vitivinícolas ainda inexploradas.

No próprio Rio Grande do Sul, onde a produção sempre esteve concentrada na úmida Serra Gaúcha, tem surgido vinhos de elevada qualidade na região da Campanha, zona mais quente e seca, na fronteira com o Uruguai, e com significativo potencial para a produção de tintos de classe e estrutura. No estado de Santa Catarina, tem crescido a produção nas zonas de altitude da Serra Catarinense, com bons resultados para castas tintas bordalesas, além de excelentes Sauvignon Blancs. No outro extremo climático, temos uma significativa produção no Vale do São Francisco, região próxima a linha do Equador, onde irrigação e modernas técnicas permitem a obtenção de duas e meia safras ao ano, com vinhos para o dia a dia de boa relação qualidade/preço.

Mas, talvez, a mais importante inovação, que tem permitido a expansão de nossas fronteiras, é o desenvolvimento da técnica de inversão do ciclo da poda, que força a parreira a entrar em dormência no nosso verão (quente e úmido) e desloca a produção para o inverno, quando temos condição climáticas mais adequadas, com boa amplitude térmica e poucas chuvas. Dessa forma, regiões nos estados de Minas Gerais e São Paulo tem apresentado vinhos de excelente qualidade, com castas como Syrah, Cabernet Franc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. A coroação destes esforços veio com o reconhecimento de um Syrah paulista, nos últimos dois anos, com uma medalha de ouro e outra de platina, na respeitada premiação da revista inglesa Decanter, além de um Chardonnay, de outro produtor de São Paulo, que se destacou em uma premiação nacional, superando seus pares da Serra Gaúcha.

Mas isso, ainda, não é tudo! Novos projetos, novos vinhos, e novas regiões, surgem diariamente, com experimentos e vinícolas comerciais em regiões como a Serra Fluminense (Rio de Janeiro), Chapada Diamantina (Bahia), Serra de Pirenópolis (Goiás), Serra da Mantiqueira (São Paulo) e o interior do Paraná, apenas como exemplos.

O fato, é que a viticultura brasileira se torna a cada dia mais diversa, e o natural espírito empreendedor de nosso povo, aliado ao desenvolvimento de novas técnicas, trazem bons augúrios de cada vez mais, e melhores, vinhos surgindo por aqui. Ainda mais um bom motivo para degustar, e visitar, o Brasil!

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